terça-feira, outubro 18, 2011

O OE 2012 traduz o que foi acordado com a Troika? Não, nem pouco mais ou menos. O OE 2012 vai resolver os problemas do País? Não, pelo contrário, vai agravá-los. O OE 2012 é uma arma de destruição maciça de Portugal.


O PS, o PSD e o CDS assinaram o Memorando de Entendimento com a Troika e devem cumpri-lo.


Li o documento. Falei aqui disso na altura. É um documento de operacionalização de um conjunto de medidas de racionalização em vários sectores nacionais. São medidas para conter a despesa na saúde ou na educação, para resolver processos judiciais pendentes, para conter admissões na administração pública, congelar ordenados na administração pública, racionalizar as transferências para a Administração Local e Regional e monitorizar a aplicação de verbas, aumentar o IVA sobre tabaco e sobre veículos importados, rever os contratos com as parcerias público-privadas, etc. Coisas razoáveis, necessárias, sensatas. Claro que também lá aparece o lado nefasto da coisa que é a necessidade de realizar cash a curto prazo, recorrendo, para tal, às privatizações.

Mas o documento da troika é um plano de acções, calendarizado, simples aquilo a que qualquer gestor está habituado quando tem que pôr a casa em ordem.

Li-o e achei natural que, se vão emprestar dinheiro, imponham como condição que excessos e malformações sejam controlados para garantir que não são sorvedouros de dinheiro.

Mas o Memorando de Entendimento com a Troika é só isso. Não é um programa de governo, não é um plano para gerir o país, para relançar a economia, é apenas uma garantia de que o dinheiro recebido não será desperdiçado.

Se você for ao banco pedir dinheiro e lhe exigirem uma garantia isso é natural. Ora, se você prestar ao banco uma garantia, fica (pacoviamente) à espera que seja o banco a vir também gerir a sua vida em todos os capítulos? Claro que não.

O que o Memorando tem de francamente mau é que implica um ajustamento a 3 anos - o que é impossível. Várias vozes se têm levantado e bem. Manuela Ferreira Leite é uma dessas vozes. No mínimo deveria passar para 5 anos, idealmente para mais que isso, talvez 7. Também começou com uma taxa de juro demasiado alto e que, posteriormente, foi ajustada.

Ora o que se passa com este nosso Governo, tão destituído, é que não apenas se limitam a agarrar-se ao documento da Troika para tudo e mais alguma coisa, como o adulterarm exacerbando todas as medidas restritivas.


Onde a Troika diz congelar salários, eles vão à catanada e rapam 20%, onde se diz para subir o IVA em bens supérfluos, eles vão e aumentam a electricidade, o gás, e sei lá que mais.

Mas pior que isso: ignoram a economia, ignoram as pessoas.

Medidas restritivas são necessárias (tal como estavam definidas no documento da Troika - não com o incremento do Gaspar) e é indispensável reequilibrar as contas. A demografia não permite alimentar tanto Estado, nem pagar tantos subsídios e pensões a tanta gente, durante tanto tempo.

É pois necessário criar emprego, criar emprego não estatal, redefinir os esquemas de apoio social. É indispensável que se faça isso, mas de forma inteligente, gradual - para que o estado social possa sobreviver, sem que o país não vá ao tapete em três tempos.

Mas isso faz-se criando emprego, injectando recursos na economia, estudando de forma integrada e planeada o desenvolvimento do país e as políticas do território.

Injecta-se de um lado para que se possa ir desmobilizando do outro lado, sem sofrimento.

O que não se faz, não se pode fazer, é o que este Governo anda a fazer que é cortar a eito, destruir a economia e a dignidade de todos quantos tiverem a infelicidade de cair no desemprego e na pobreza, sem criar qualquer alternativa, qualquer.


Este caminho é suicida e estúpido pois, além de tudo o mais, leva ao sucessivo incumprimento orçamental pelo lado da receita - como se está a ver. Com este garrote, não apenas a fuga fiscal vai voltar (e é compreensível, é a luta pela sobrevivência), como cada vez haverá menos pessoas a descontar porque vão caindo no desemprego, e porque as empresas vão cair no prejuízo, não conseguindo também pagar impostos.

Isto é difícil de perceber?

Eu acho que não.

Mas aqui temos este Gaspar, autista, insensível ao medo, insensível às pérfidas consequências, insensível a tudo, maquinal, consultor quadrado, consultor da área das finanças, ignorante de economia, ignorante da vida.

Aqui temos o incoerente, inconsistente, Pedro Passos Coelho com ar de quem sofre com isto tudo a fazer tudo mal, tudo, tudo, tudo ao contrário do que apregoou na oposição, na campanha eleitoral, tudo ao contrário do que o país precisa.

E aqui temos também aquele tonto do Miguel Frasquilho, ex-grande defensor da descida de impostos como forma de libertar recursos para a economia, agora beatamente a louvar a violenta carga fiscal sobre famílias e empresas, a louvar o infame corte de rendimentos.

Não pode ser. Não sabem o que andam a fazer. São limitados, demasiado limitados para poderem ser deixados a governar o país.

A nossa vida é demasiado importante para ser deixada nas mãos de gente tão destituída.


Os idosos do meu País não merecem isto, senhores...


Os jovens e crianças do meu País não merecem isto, valha-nos Deus.

   

4 comentários:

  1. Não posso estar mais de acordo.
    E o que é que nos resta fazer?
    Ir para a rua gritar o nosso descontentamento, fazendo sobressair o que seriam medidas racionais? Aguentar e esperar que o país de desmorone cada vez mais na decadência enquanto outros fingem ser afetados?
    Estou muito preocupada sobretudo porque não sei mesmo quais as medidas individuais mais sensatas, embora não tenha muito para alterar nas regras da vida que sempre impus a mim mesma.
    Isto está mesmo cada vez mais preto.
    Abraço

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  2. Teresa-Teté,

    Não sei. Não sei mesmo o que se pode fazer perante isto. Ver toda a gente a ficar mais pobre, as lojas a fecharem e ainda 2012 não começou, ver pessoas conhecidas a ficarem sem emprego, tudo isto me deixa mesmo muito revoltada.

    Tenho esperança que façam tamanha trapalhada que alguém ponha travão a isto. Mas se calhar isto sou eu a ser muito optimista.

    A gente vê a Grécia, aquela pobre gente, e fica arrepiada. Será que é isto que nos vai acontecer...?

    Vejo toda a gente a ficar tão revoltada que pode ser que alguma coisa mude. Mãs não sei.

    O que nos havia de acontecer....

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  3. A Senhora diz: "...Pedro Passos Coelho com ar de quem sofre com isto tudo..."

    Pelo menos este, aparenta sofrer com tudo isto. Ao contrário do outro, que em momento tão dramático, apenas estava preocupado a perguntar ao Luís, se estava melhor "assim" ou "assim, a olhar para o lado"...

    Haja Deus!

    Carlos J. Costa

    PS. Eu trabalho até bem mais tarde... Não sou funcionário público, mas, a meia hora que o orçamento para 2012 propõe, não me afectaria, pois dou à minha profissão, todos os dias, muito mais do que 30 minutos do meu tempo pessoal.

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  4. Ó Caro Carlos, mas que obcecado você é com o Sócrates... Mas que coisa essa, hem...?

    E já o Presidente caco Silva tirou o tapete ao PPC, já o Prof Marcelo veio dizer que o PPC tem que mudar a trapalhada que armou, e ainda anda você a defender o indefensável. Credo.

    Mas agora diga-me lá, ó Carlos, que conversa é essa das horas que trabalha e mais não sei o queê...? Anda ao despique agora comigo a ver qual de nós trabalha mais...? Deixe-se lá disso.

    Também eu trabalho muitas horas, todas as que forem precisas, também eu não trabalho para o estado... e daí...? O que é que você quer provar com isso, ó Caro Carlos...?

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