Com esta vitória do PSD madeirense, como fez questão de acentuar, o Alberto João, conforme expectável, assitirá impotente à derrocada do seu estilo de governar. Fez e desfez, distribuíu, ameaçou, manipulou, subverteu, omitiu e, apesar de tudo, voltou a ganhar as eleições. Mas sabe o que o espera.
Venceu, pois - e sair-lhe-á cara esta vitória - e fez um patético discurso, sem direito a perguntas. Não tinha os óculos, leu titubeantemente o texto no qual atacou o capitalismo selvagem, o liberalismo radical, atacou o ministro das Finanças e a da Justiça. É a raiva contra incertos que mal disfarça o desespero face ao que se aproxima.
Alberto João no discurso da sua vitória de Pirro: o estertor do jardinismo, um fim triste |
Sabe bem que o seu tom terá que baixar quando vier, de rabinho entre as pernas, negociar o apoio de que precisa como de pão para a boca. E assistirá ao fim do jardinismo, cancelando contratos, despedindo pessoas, contando os tostões. Será olhado de lado, será desprezado, porque a memória é curta e os eleitores que o trouxeram até aqui, cobrar-lhe-ão agora aquilo que ele não mais poderá pagar.
Os madeirenses são tão culpados disto, como os portugueses em geral não são culpados da situação a que o país chegou, como os gregos, como povo, não são culpados dos excessos de uns quantos, nem da cegueira confortável de todos quantos deixaram que a situação atingisse o descalabro em que se encontra, como todos os que em toda esta europa desgovernada se vêem atirados para o desemprego, na maior insegurança - no fundo, somos todos vítimas de um regime que ganhou vida própria, desregulado, descomandado, hidra voraz sem religião, moral ou pátria.
Por isso, os madeirenses vão sofrer e muito o lamento, tal como lamento o mau bocado que todos estamos a passar por todo o lado, aflitos, desalentados, sem esperança.
Mas, voltando às eleições - perdeu o PS e muito e imperdoavelmente. Maximiano Martins deve ser um homem esforçado, sério, muito honesto, um homem como deve ser. Mas nisto da política há perversidades. Não basta ser. Numa altura destas, em que os Madeirenses estão assustados, querem ter do lado deles alguém que os defenda, que lute por eles, alguém que tenha uma aparência forte, lutadora.
Maximiano Martins - não basta ser um bom homem |
Ora a Maximiano falta-lhe aquele punch, aquele ar de quem disparará sem hesitação, de alguém que levantará a voz de forma a fazer-se ouvir. Perdeu por isso.
Claro que o apoio do Tozé Seguro também não ajudou muito. O Tozé tem ar de ser daqueles senhoritos que, se a coisa dá para o torto, desata a fugir. Pode não ser - mas parece. Ora, para que querem os madeirenses, nesta hora de aperto, um Tozé com ar de choramingas?
O PCP também levou uma tareia e é compreensível. Nem se percebeu o que achavam da trapalhada das contas. Quando falam é para dizer coisas deslocadas, palavras gastas.
O BE desapareceu e lá apareceu o Louçã, um esgar em forma de gente, gasto. Gastou-se com as situações dúbias em que se meteu no fim da era socrática. Devia sair e dar o lugar a outro.
Vitória, vitória a sério, teve-a o CDS. Vitória justíssima.
Paulo Portas: mais sóbrio, mais frontal, mais franco, usando a inteligência ao serviço de um correcto exercício da Política |
Paulo Portas vem sedimentando a sua inteligência, vem ganhando maturidade, vem ganhando segurança e tranquilidade. Aquela sua impetuosidade que o levava tantas vezes à demagogia, aquele seu conservadorismo já tão fora de moda., aquele ar de estadista precoce, vêm dando lugar a uma compreensão e tolerância que, tantas vezes, vem com a exepriência de vida o que, aliado à sua cultura e inteligência, fazem dele um provável primeiro-ministro deste país. Como se recordarão os meus Caros Leitores tenho sido crítica dele e não poucas vezes, mas, na altura, reconheci que fez a melhor campanha para estas legislativas e, agora, parece estar a ter ter um bom desempenho no Governo (acredito que terá o discernimento - que Passos Coelho não tem - de tentar atrair investimento a sério para o País, investimento que crie emprego e não de andar a ver se passa a patacos as jóias da coroa que são as nossas mais nevrálgicas e rentáveis empresas) e, sobretudo, nesta campanha da Madeira foi exemplar.
A sua atitude na condenação aos desmandos do Alberto João foi muito corajosa, franca, directa, inequívoca A situação política de coligação governamental poderia tê-lo deixado numa apertada saia justa, como costumam dizer os brasileiros. Mas, apesar da delicadeza da situação, soube marcar a fronteira entre a coligação no País e a liberdade de acção na Madeira. Foi lá. Expôs-se. Falou loud and clear.
João Almeida O menino que, a olhos vistos, se está a fazer homem |
E, tal como ele, falaram outras vozes do CDS, de entre as quais destaco um jovem com ar de criança mas que se tem estado a portar como um homem crescido, o João Almeida. Firme e com voz grossa, tem denunciado os excessos e os dislates Alberto João.
Mas não poderia deixar de referir-me a um outro factor certamente determinante no sentido do voto - o factor José Manuel Rodrigues.
CDS: grisalhos, bonitos, inteligentes, simpáticos - e vencedores, claro está |
Ouvi José Manuel Rodrigues uma vez no Expresso da Meia-Noite e fiquei muito bem impressionada. Inteligente, claro, rápido na argumentação, firme e... factor não irrelevante: giraço. É um grisalho com muita pinta (mais um... que o Nuno Melo é outro), quase um George Clooney, bonito, um sorriso cativante. De certeza que as mulheres da Madeira não iam deixar de se manifestar favoravelmente. Um homem assim e todo vivaço, todo lutador, determinado, é uma mais valia em qualquer partido e, por isso, ele foi o justíssimo grande vitorioso da noite.
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Mas, já agora, uma chamada de atenção a Paulo Portas. Vi no sábado o programa do Herman na RTP1 e, por isso, assisti à intervenção da Ministra da Agricultura, Mar, Ambiente, Ordenamento do Território, Assunção Cristas. Tem frescura, é simpática, alegre, vê-se que é voluntariosa, vê-se que está cheia de boas intenções. Deve ser uma pessoa leal, determinada, trabalhadora.
Segundo li no Expresso da semana passada, Paulo Portas refere-se a ela como 'a minha Assunção'. Gosta dela, aposta nela, trouxe-a até aqui.
Mas, por favor... Conta ela que ligou ao marido dizendo que tinha sido convidada para ministra e logo de quatro coisas e que ele disse logo, 'Não hesites. É giro'. E quando Herman lhe pergunta como é ser ministra ela sorri, orgulhosa, e diz 'É giro'. E como é ser ministra da Agricultura, coisa com a qual não tinha antes qualquer ligação? Assunção responde, risonha, 'É giro. Chego às reuniões e digo logo que não sei nada daquilo, que estou ali para aprender com eles. É uma área gira, vê-se as coisas a crescerem'.
E que lá no Ministério são muitos, dado que tem muitas áreas e que 'é muito giro, juntamo-nos pessoas de muitas áreas diferentes, e é muito giro'.
E que, quando vai às reuniões, para pouparem na gasolina, vão todos no mesmo carro, até esgotarem a lotação do carro e quando chegam aos locais, as pessoas estão à espera de ver um carro batedor e afinal chega ela ao lado do motorista, os outros no banco de trás, ficam todos muito admirados e é giro'.
Assunção Cristas no Herman 2011: Uma jovem contente por estar a fazer uma coisa muito gira |
E eu até acho que, para uma jovem vinda da faculdade, da área do direito, e estando na política há tão pouco tempo, tudo isto seja uma aventura gira, uma experiência gira.
Mas, pergunto eu, ó meu caro Paulo Portas, será que numa altura destas, de descalabro e indefinição, com a crise tão brava que aí está, com tanto que é preciso fazer, decidir com ponderação e conhecimento de causa, será que é boa ideia pegar numa jovem inexperiente, que não sabe nada de nada das áreas pelas quais é responsável, e pô-la à frente de tão vasta e nevrálgica área?
Não creio. Eu, pelo menos, fico de pé (muiiiiito) atrás, com esta sua escolha. É que o que é preciso nesta altura não tem nada de giro e não sei se a 'sua' Assunção já o percebeu.
Por isso, agora que a escolha está feita e que há que seguir em frente e fazer com que dê certo, aconselho-o, meu Caro, a fazer algum coaching junto dela. Ao menos que, quando estiver em público, ela tente mostrar que não está nisto sobretudo por ser giro.
O Alberto João começou logo este novo ciclo a pedir emprestado... os óculos.
ResponderEliminarOlá Packard, bom dia,
ResponderEliminarFez-me começar o dia a rir.
Pois foi, tem razão, foi um mau augúrio.
E teve o seu quê de patético: desarranjado, sem óculos, a pedir óculos (mas, pelos vistos, talvez por prudência, ninguém lhos emprestou...), a ler aos tropeções um discurso amargo. É o fim da festa.
Coitados dos madeirenses. Coitados de nós todos.
Quer então dizer que o sistema desgovernou-se, apareceu 'assim', desgovernado sem mais nem menos?
ResponderEliminarAh... como é bom viver num mundo de inocentes!
Se a Ministra Assunção quiser e PODER, quero dizer, se a deixarem tem muito por onde “mondar” é um sector que floresce qdo os outros todos estão em baixo.
ResponderEliminarEu sei do que falo trabalho na poda à 25 anos.
Olá Maria,
ResponderEliminarAssim vai o nosso Portugal.
Sabe uma coisa? Conheci o Joãozinho pequenino porque ia visitar a empresa onde eu trabalhava porque o pai era lá consultor.
Quem iria prever um futuro cheio de eloquência?
Grande beijinho
Olá, Rosa Amarela,
ResponderEliminarQuer dizer que naqueles ministérios há muito por onde cortar? Se calhar, há.
Mas espero que haja também muito a fazer a nível de estimular de novo a agricultura, a actividade pesqueira ou de exploração e investigação no mar, a nível do ambiente, de um correcto ordenamento territorial.
Acho que há muito que fazer, sim. Tomara que ela o saiba fazer e é aí que residem as minhas reticências. Mas vontade não lhe falta, isso é inegável.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarTeresa-Teté,
ResponderEliminarMas não é que olho para o moço e parece que o acho um puto...? Já tem trintas e tais mas parece-me uma criança com a barba crescida...
Mas uma coisa é certa: cada vez o vejo mais adulto, mais afirmativo. Fala com segurança. E, nisto da Madeira, o menino Joãozinho portou-se mesmo como um homem, sim senhor.
(Agora, a propósito dele se portar como um homem, ia-me saindo aqui uma brejeiricezita mas contive-me...)
Pirata,
ResponderEliminarLá está você outra vez a dar entender que houve aqui uma maquinação, alguém a arquitectar uma conspiração, alguém a congeminar a estratégia para destruir o regime...
Seja lá mais explícito - quem é que você acha que foi?
Eu acho que isto foi uma desregulação geral, a criação a tomar conta do criador. Mas não vejo que se possa apontar o dedo a A ou a B.
Mas tenho curiosidade - qual a sua teoria?
Tudo explicadinho para eu e os meus leitores (esta nossa simpática tertúlia) ficarmos todos a saber e podermos ficar de queixo caído ou podermos rebater.
Está bem...? Vou ficar à espera.
AJJ ganhou porque fez obra, transformou completamente a madeira nestes 30 anos e porque é verdadeiramente popular. Nenhum politico português se aproxima ou aproximou tanto da gente ou povo como ele, é um contacto e convivio real, na cidade, no campo, nas aldeias.
ResponderEliminarAJJ sabe que depois de mais de 30 anos a ganhar eleições e a trabalhar para a madeira terá de se retirar. É normal, a governação cansa.
O carro oficial de ajj é um bmw 530de 1999, com 12 anos. Senta-se ao lado do motorista. Ou vai a pé sózinho tomar o café ali num estabelecimento perto da residencia oficial e sede da presidencia do governo, residencia quase sem vigilancia (um policia à porta) e onde podemos entrar sem nos ser pedida identificação, passear pelo bonito jardim, sentarmo-nos lá a descansar, entrar na capelinha que está aberta, e até, se calha, ver pela janela aberta uma reunião oficial a decorrer numa sala do r/c.
apesar da sua boa subida, o cds teve apenas cerca de 1/3 dos votos do psd. Uma coligação possivel para as proximas eleições regionais seria portanto psd-cds.
Caro Patrício Branco,
ResponderEliminarNão conheço in loco a realidae madeirense e até imagino que seja tal como diz. AJJ é um político popular, amistoso, fez obra, melhorou o nível de vida da população madeirense. Ninguém o questiona.
A questão não é essa. A questão é a que custos ele o fez?
E não foi a custos negligenciáveis, pois não?
O défice das contas públicas madeirenses é enorme. O encobrimento é indesculpável, é pouco sério, é desleal. A desobediência face às normas em vigor que o impedirriam de continuar a endividar-se como se não houvesse amanhã é grave. Toda esta atitude tem agora um reverso. Andamos todos a suportar um agravamento fiscal ainda maior para tapar as simpatias e os actos dele.
Quanto ao facto de andar ao lado do motorista ou beber o cafézinho de forma despretensiosa também acho que é simpático. Contudo, a questão também não é bem essa. Conforme soa, haverá não apenas um défice nas contas públicas mas também um défice democrático pois, ao que soa, apenas os que estão com ele, podem ter voz. Quem não está com ele, automaticamente é visto como estando contra ele e logo, com pouco direito ao que quer que seja. Ou não é verdade?
Este último período de governação vai ser para AJJ um calvário, não é assim, com contenção que ele sabe e gosta de governar.
Mas as coisas são o que são.
Olhe, Caro Patrício, espero que por aí esteja melhor tempo que por aqui. Tem estado um frio e uma chuva... Tenho visto as reportagens e vejo as vossas ruas animadas e festivas, com turistas e tomara que o turismo continue e em força para ajudar.
Volte sempre, gostei do seu comentário!
é preciso cá vir de facto e ver isto.
ResponderEliminarNo dia 7 de outubro à 1/2 noite terminou a campanha eleitoral e nesse preciso momento entraram a trabalhar em toda a ilha(s)600 pessoas para não haver nenhum vestigio de campanha eleitoral de rua (cartazes) no sábado, dia em que não há campanha, às 9 ou 10 da manhã. Se não se pode fazer um comicio, tambem não deve haver nenhum cartaz eleitoral visivel no dia de reflexão. Claro que isto custou algum dinheiro. Mas no continente talvez ainda haja cartazes de há 4 ou 5 meses.
Quando da tragedia de fevereiro de 2010, com uma chuva diluviana de 400 lt por m2, as equipas começaram a trabalhar ainda com a chuva e 1 semana depois não se notavam os estragos de rua no funchal.
Há divida boa e má, aqui há muita divida boa, contraida para fazer obra.
E não há defice eleitoral como se quer fazer crer. Ninguem vota por medo para parecer estar com ajj, o voto é tão secreto como no continente e ajj quando acha que o deve falar, fala mesmo contra o seu partido. É um homem independente.
Madeira (e açores) são 2 exemplos de administração e desenvolvimento em portugal. Vale a pena visitar estas ilhas regiões até porque são bonitas, hospitaleiras e desenvolvidas.
Claro, sou de opinião que ajj já se não apresente às proximas eleições, tem direito a aposentar se.
Compreendo tudo isso e compreendo que os habitantes lhe estejam agradecidos até porque são, ou têm sido, beneficiários líquidos.
ResponderEliminarMas contrair dívida sem ter como a pagar? Contra a lei? Às escondidas?
Ora, ora... isso já não me parece bem.
A si parece-lhe, Caro Patrício?
creio já basta de a j j e de temas à volta.
ResponderEliminarVou ver mais deste um jeito manso que conheci através do "fio de prumo" de HSC, bem dos outros blogues associados