Cavaco hoje voltou a fazer das suas. Fiquei pasmada. Mas então o Passos Coelho não se articula com o Presidente antes de avançar com uma coisa destas? Não terá discutido o OE 2012 com Cavaco antes de avançar para a Assembleia da República?
E como é que, ao fim de 3 ou 4 meses, as coisas já deslassaram desta forma entre Passos Coelho e Cavaco Silva para este puxar o tapete desta forma a Passos Coelho...?!
Mas é que lhe puxou o tapete de uma forma... de uma forma que o desautorizou dramaticamente.
Não apenas diz, e diz com ar de poucos amigos, incomodado mesmo, que o outro passou as marcas da decência ao sacrificar miseravelmente os pensionistas mais pobres, que violou o mais básico princípio da equidade fiscal (e acrescentou: qualquer um que tenha estudado economia, qualquer um que tenha lido os livros - numa chapelada ostensiva ao bando de pseudo-economistas que por ali anda armado em experts), como - mais importante! - acrescentou que a austeridade é necessária mas não suficiente, que tem que haver um estímulo à economia, ao emprego.
Resta saber o que fará agora Cavaco Silva. Depois desta hoje, não sei como vai ser. Cavaco não é flor que se cheire, em especial para quem não alinhe pela mesma bitola e, claramente, não vai à bola com Passos Coelho e entourage.
Com Sócrates, andou in love durante anos e só no segundo mandato é que as coisas azedaram, e aí foi o que se viu: Cavaco marimbou-se para a lealdade institucional, marimbou-se para as aparências, e, sem pejo, tirou o tapete e torpedeou sem dó nem piedade o então Primeiro Ministro.
Mas agora, com este, é já ao fim de 3 ou 4 meses. Com estas afirmações retumbantes, Cavaco envergonhou Passos Coelho na praça pública.
Faço ideia como, a esta hora, está o Miguel Relvas e o seu subordinado Pedrocas. Já devem estar a engendrar, com os criativos assessores da imagem e comunicação, a melhor forma de se saírem desta emboscada, ou seja, como se hão-de portar para não aparecerem em público com a cara pintada de preto.
Claro que a palavras de Cavaco Silva foram fuel em cima do fogo que já alastrava pela sociedade. Os partidos reagiram em brasa.
A impagável Ana Avoila já saíu à cena, dizendo, com aquele seu ar temível, que espera que estas palavras de Cavaco Silva não sejam apenas show off, que se espera que agora aja em conformidade. Os sindicatos estão ao rubro. Voltaram os tempos das greves gerais.
Cavaco Silva junta-se assim ao coro de indignação que alastra desde a Igreja aos jovens, aos velhos, aos empregados e desempregados, aos pensionistas, aos empresários (sim, os empresários andam passados com tudo isto, sim, os empresários que já tiveram reuniões com membros deste governo vêm de lá passados, sim, os empresários não se revêem em nada disto, believe me), aos gestores em geral, aos funcionários públicos e a todos os outros (eu não sou pensionista nem funcionária pública e tudo isto me dói como se o fosse), Cavaco Silva hoje cá, loud and clear, depois de em Florença já ter falado com inesperada lucidez, mostrou a todo o país que não está a gostar nem um bocadinho do rumo que isto está a levar.
Acabo agora de ouvir Marcelo Rebelo de Sousa a dizer que depois destas palavras o Governo tem que corrigir o Orçamento. Por toda a Comunicação Social não se ouve uma só voz a defender estas medidas. Até o Professor Marcelo...
Juro que não estava à espera que isto acontecesse tão cedo.
Já aqui tenho dito, especialmente em resposta aos comentários em que me perguntam 'como se vai sair disto?', que a minha esperança é que o Governo, que é tão incompetente e impreparado, faça grossa asneira e que alguém (Cavaco Silva, nomeadamente) se veja forçado a agir.
Espero também que se crie uma onda de fundo qualquer que leve a uma qualquer mudança de rumo em toda a Europa.
Van Rompuy hoje veio dizer que a Europa tem que se virar urgentemente para a economia e para o emprego.
Fernando Henriques Cardoso num artigo publicado no El Pais e referido no Expresso chama a atenção para o facto de que medidas de austeridade sem relançamento da economia irão esmagar o país e que o caminho deve ser outro, deve ser renegociada a forma de pagar a dívida e que o esforço deve incidir também, e sobretudo, no combate à pobreza, no investimento, no emprego, no estímulo à economia. O exemplo do Brasil está aí para o demonstrar.
Christine Lagarde voltou hoje a levantar a voz e a dizer que a situação não está a melhorar, que os países pobres estão mais pobres, que os riscos de contágio não estão a ser controlados, que é preciso agir e rapidamente.
São muitas e avisadas as vozes que, de todos os quadrantes, apelam à mudança de estratégia, de rumo.
O que se está a fazer à Grécia é doloroso, é sangrar um povo.
E é isto que os meninos Passos Coelho, Relvas, Gaspar, Moedas se preparam para fazer cá.
O Álvaro, que anda paralisado, então, até dói, devia ser o ministro mais importante neste momento e não faz nada que se veja. Lá apareceu hoje, feito pequeno totó, baralhado, ensaiando falar duro mas apenas gaguejando, dizendo que têm que ocorrer despedimentos nos transportes. Pois, eu digo-lhe, menino Alvarito: claro que há gente a mais, claro que os transportes andam todos descoordanados, com meios a mais face às necessidades, claro que, se aumentar ainda mais o custo dos transportes, menos as pessoas andarão de transportes públicos e mais gente sobrará. Há caminhos assim, menino Alvarito, são as ditas espirais.
Mas, sobretudo, menino Alvarito, o que o menino tem que fazer é estudar - de forma sistémica e planificada - os transportes, estimulando o uso de transportes públicos, o que o menino tem que fazer é, enquanto faz isso, ir relançando a economia para que novas empresas absorvam as pessoas que sairem das empresas dos transportes, agir de forma articulada, coordenada, não avulsamente, e vendo apenas um dos lados da equação. Governar o País é isso: é ter tino, ter cabeça, é saber de números, é saber de sociologia, de demografia, de política, é ser culto, humanista, democrata, é ser inteligente, ter senbilidade e bom senso.
Agora digam-me: neste nosso governo, quantos ministros são assim? Um...?
<>
Bom, vamos ver o que os próximos dias nos reservam. Não fosse o drama das pessoas, isto até teria graça. Mas não tem. Isto é um drama.
Assunção Esteves está à espera de autorização da Opus, para distribuir mais gabinetes
ResponderEliminarCaro Whore Ant,
ResponderEliminarNão percebo o alcance do seu comentário no âmbito do que escrevi.
Pode explicitar melhor?
E já agora, de tudo o que faz falta a alguém para ser ministro, além da sensibilidade, do bom senso,do tino e da inteligência, e da verdadeira cultura pessoal, do conhecimento dos números, da sociologia, da demografia, da política, faz imensa falta o conhecimento da História. Mas penso que isso fará parte da "cultura" que já mencionou. E também apenas vislumbro, neste governo, um ministro com essas qualidades e devemos estar a pensar no mesmo. Os demais são "experts", pensam eles, que para mim, os tenho mais como "chicos-espertos". Gostei do post, como sempre.
ResponderEliminarTBM
Se não houver consequências, pois a outra até poderá ter razão qnd qualifica isto de show off. De qq forma há aqui uma significativa alteração da correlação de forças na área do poder. Concordo consigo q se isto não fosse drama - tragédia? - até teria graça.
ResponderEliminarTBM,
ResponderEliminarTem toda a razão e eu pensei em escrever História mas depois substituí por Cultura pois há tanta coisa mais que um Ministro deve ter dentro de si, bem assimillado, não é 'colado com cuspo'- ´Mas a História é das componentes do saber que um governante deve ter bem dominada para saber as implicações das leviandades, para colocar as coisas em perspectiva, para saber avaliar os ciclos do desenvolvimento, do autoritarismo, para saber as várias formas de dar a volta às crises.
Diga-me, olhando para eles um a um, a começar no Primeiro: estão à altura da gravidade do momento? Aproveitam-se quantos?
Já S. Paulo dizia: Pelos frutos os conhecemos.
E veja-se bem a qualidade dos frutos....
Packard,
ResponderEliminarPois, pode bem ser que isto tenha sido apenas um pro memória. Mas, tenhamos esperança que surta algum efeito.
Agora a gente conhece-o. A gente sabe como ele é quando toma alguém de ponta.
Mas vamos ver. A procissão ainda não saíu do adro e já anda tudo nesta desgovernação. Algum efeito as palavras devem produzir. Não sei se vai ser o suficiente.
Mas o Governo é todo ele tão impreparado que isto vai ser um caso sério para Cavaco Silva.
O que desejo é que se impeçam as medidas que atirarão o país para um fosso do qual será difícil sair.
Pode ser que o nouvel papá Sarkozy e a sua amiga do peito Angela também sejam postos na ordem ou caiam na real.
O mundo está todo ele um sítio perigoso para se viver, isso é que é.
Tão verdadeiro e pertinente que me permiti colocar no meu blogue uma chamada para que leiam a forma lúcida da sua análise.
ResponderEliminarDevia concorrer a um cargo político (não diga que não gosto de si porque não é verdade)pois seria um modo de termos honestidade e assertividade neste país que treme.
Beijinho
Teresa-Teté,
ResponderEliminarMuito obrigada pelas suas palavras e pela ligação no seu blogue.
Quanto à sua sugestão... já várias vezes pensei nisso... mas e paciência para me meter no meio 'disto'...?
Por muita obrigação que às vezes sinta de me chegar à frente, acaba sempre por me faltar a vontade, acho que não seria capaz de ser simpática apenas para ficar bem na fotografia, acho que não seria capaz de pactuar com tanta parvoíce que por aí alastra.
Mas, quem sabe, um dia...
Jeito Manso
ResponderEliminarOu sou eu, ou são eles que emaluqueceram todos ao mesmo tempo.
Não había necexidade, como diría o diácono Remédios!
Pois é, Helena,
ResponderEliminarOu já se desentenderam, ou descoordenaram-se e não sabem disfarçar, ou estão com ataques de mau feitio, ou não beberam chá em pequeninos ou, simplesmente, não estão à altura das circunstâncias e da responsabilidae do lugar que ocupam. Vá lá a gente saber.
Um abraço, Helena.
Pois é, Helena,
ResponderEliminarOu já se desentenderam, ou descoordenaram-se e não sabem disfarçar, ou estão com ataques de mau feitio, ou não beberam chá em pequeninos ou, simplesmente, não estão à altura das circunstâncias e da responsabilidae do lugar que ocupam. Vá lá a gente saber.
Um abraço, Helena.