O Alberto João ainda goza e diz que 'resistiu ao Governo da República' e Passos Coelho acha que não tem mal, que já resolveu o problema ... ah pois resolveu e a gente que o diga!

Há coisas que me irritam.

A falta de respeito pela inteligência dos outros é uma delas.

A falta de perspicácia e sentido crítico dos jornalistas é outro. Ouvem e papagueiam o que ouvem mas não são capazes de questionar ou de levantar questões. Mas, também, coitados, têm o rabo preso, não é? Com todos os media na mão de grupos económicos, como ter independência e levantar questões incómodas, não é? Ainda se arriscam a ser processados. Ou a ser espiados. Sabe-se lá.

Então o Alberto João faz o que lhe apetece, desrespeita directrizes nacionais, gasta dinheiro como lhe dá na veneta, como se não houvesse amanhã, provoca um buraco nas contas públicas de 500 milhões de euros, obriga-nos a ter que mandar para lá metade do nosso subsídio de Natal, e depois, com o maior dos desplantes, vem dizer que o fez deliberadamente como forma de resistir ao Governo da República?

Resistir ao Governo?! Mas o que é isto?! Já aqui perguntei e volto a perguntar: isto não é crime?

Se eu resolver não pagar impostos, não pagar bilhete nos transportes públicos, não pagar a taxa de moderação quando for ao hospital e por aí fora e, depois, com cara de pau, disser que estou a resistir ao Governo da República também não me acontece nada?

Mas do Alberto João já nós esperamos isto e tudo o resto. Faz o que quer e lhe apetece e sobra-lhe tempo.

Só que agora também o Passos Coelho e subordinados vêm branquear este comportamento dizendo, com uma enervante ligeireza, que esse buraco já era conhecido e que até já se tomaram medidas correctivas....

Medidas correctivas? Tomaram? Mas virem sacar-nos metade do subsídio de Natal é uma medida correctiva para os desmandos do Alberto João? Estão a gozar connosco?!

Medida correctiva seria, por exemplo, mover-lhe um processo por ter causado um buraco de 500 milhões de euros no erário público lesando a população. Mas não, nisso ninguém fala.

É que vir dizer, com arzinho sonso, que não há problema nenhum porque já se sabia desse desvio e já se arranjou uma solução, é mesmo de quem pensa que está a lidar com gente burra, é mesmo faltar ao respeito aos que se vão ver aflitos a deitar contas à vida, sem metade do subsídio, com a electricidade mais cara, com os transportes mais caros.

É ofensivo isto.

E para quê este esforço adicional?

• Para tapar o buraco do BPN, BPN que foi oferecido ao BIC (pagando-lhe ainda por cima e ficando com todos os pepinos para o Estado, não nos esqueçamos; e não nos esqueçamos também que, se o BPN se transformou naquele imenso buraco negro, é porque muita gente lucrou indevidamente à custa dos prejuízos que foram causando - e quem é que já foi condenado por isso?) 

• e para conseguir mandar dinheiro para pagar as contas com que o Alberto João resolveu 'resistir' ao Governo. 

Buracos que sorvem o nosso dinheiro

E ainda me apetecia comentar as afirmações de Vítor Gaspar que acha que a Madeira também deveria negociar um plano com a troika, como se fosse uma nação independente... mas já não tenho paciência. É que não há mesmo paciência para tanta coisa deste género.

Começa bem este Setembro, começa! Ainda por cima com uma chuva intensa, parece inverno. Bolas para isto.

Meus amigos, não se esqueçam de acender uma vela, está bem?

Vamos lá todos a pedir a todos os santinhos para nos ajudarem nesta vida difícil

PS 1: Não gosto de acabar as escrituras com temas que me maçam, não gosto de me ir deitar mal disposta e, por isso, deixem-me contar-vos. Hoje (ou melhor, ontem, que já passa da 1 da manhã), no restaurante onde jantei, estava também o Nuno Júdice, grande poeta. Gostei de o ver. Sempre que olhei para ele vi-o ligeiramente ausente, talvez seja o olhar introspectivo dos poetas quando pensam na vida.

A vida, as suas perdas e os seus ganhos, a sua
mais que perfeita imprecisão, os dias que contam
quando não se espera, e as nuvens que caíram
mais depressa, a vida que traz consigo as emoções e os acasos,
a luz inexorável das profecias que nunca se realizaram,
e dos encontros que sempre se soube que
se iriam dar, mesmo que nunca se soubesse com
quem e onde, nem quando; essa vida que leva consigo
o rosto sonhado numa hesitação de madrugada


(excertos de 'A vida' de Nuno Júdice in 'Teoria Geral do Sentimento')


PS 2: E agora, meus amigos, convido-vos a descer até ao piso inferior. Did you know?