sábado, setembro 03, 2011

É melhor ser governado por bandidos ou por palermas? Pensemos bem nisto, durante a nossa vida breve


Há dias alguém que tenho por inteligente, perspicaz e bem informado disse-me que preferia ser governado por palermas do que por bandidos.

Durante a anterior governação fui assistindo à sua raiva pública contra os agentes da era socrática e algumas vezes tentei rebater os seus argumentos mas, claro, fui liminarmente rechaçada (e nem outra coisa eu esperava).

Agora a sua ironia, sarcasmo e acutilância dirige-se contra a era passista que, em poucos meses, já conseguiu fazer coisas que arrepiam qualquer um.

Ao ler as suas inteligentes críticas a esta governação, comentei a sua anterior aversão a tudo o que se relacionasse com a governação socrática. Mas ele não desarmou e esclareceu-me, então, justamente, que acha preferível ser governado por palermas que por bandidos.

Não creio que a equipa de Sócrates fosse formada por bandidos. Vê-se que os mercados atacaram não apenas Portugal (que estava a ser governado pelo 'bandido' Sócrates, como atacaram depois Itália, França, Espanha); vê-se que o que antes era alvo de crítica acesa por parte da oposição está agora ser feito, e em larga escala, pelos que estão no poder. É que governar não é fácil, especialmente em ambiente de crise profunda. Sócrates soçobrou sem conseguir que a conjuntura internacional desse tréguas ao país e saíu sem que lhe reconhecesse o hercúleo esforço que estava a fazer.



(Sócrates não foi exemplar e perfeito em tudo o que fez e cometeu alguns erros crassos, e quem não comete erros em 6 anos de governação?, mas toda a diabolização que dele foi feita foi politicamente injusta e pessoalmente muito cruel)

É claro que a economia e as finanças portuguesas padecem de graves problemas e que isso tem que ser corrigido. Mas o mal vem de trás, muito de trás. Mas, para recuar a tempos de que haja memória mais fresca, direi que remonta também ao tempo de Cavaco Silva que aceitou trocar a indústria, a agricultura e as pescas por subsídios para estradas e rotundas e que desenhou um esquema para a função pública que veio a descambar naquilo a que mais tarde ele próprio chamou 'monstro'; remonta a todos os governos que não puseram cobro a um modelo económico assente no consumo que, não tendo produção nacional, se traduz em importações; remonta a todos quantos não puseram cobro a uma política de consumo baseado no crédito desenfreado; remonta a todos os que criaram e mantiveram uma política fiscal que beneficia as empresas que mais se alavanquem financeiramente, deixando-as agora afogadas na dívida aos bancos; remonta a todos os que pactuaram ao longo de décadas (para não recuar muito) relativamente a um modelo em que o país globalmente se ia endividando mais do que a sua amputada economia poderia suportar.

Sócrates tentou fazer reformas mas, sem maioria, foi barrado pela oposição, tal como já antes tinha sido barrado pelas corporações e pela comunicação social.

Mas o menino Passos Coelho, o habilidoso Miguel Relvas e restante entourage, impreparados e sem qualquer experiência a sério, achavam que resolver tudo isto era piece of cake. E muitos bloggers e a comunicação social trouxeram-nos ao colo até aqui.


E é vê-los.

Aumentam impostos todos os dias. Vão rapar metade do nosso subsídio de natal, esbulham a população de todas as maneiras que podem, aumentam transportes, gás, electricidade, aumentam taxas moderadores, e agora, na área da saúde, pasme-se - como refiro no post abaixo - vão impedir que se façam os transplantes necessários.

Ouve-se Vítor Gaspar e arrepiamo-nos. Não apenas fala mui-to de-va-ga-ri-nho como não diz nada! Mas não diz nada, senhores! No entanto, no meio daquele deprimente nada, ouvi-o dizer que não estão a conseguir reduzir a despesa, que as medidas que tomam (quais?!) produzem efeitos lentos, que aumentar impostos produz efeito mais rapidamente.

Isto é assustador.

Christine Lagarde, frontal, inteligente (e sempre com belas écharpes)

Christine Lagarde, directora geral do FMI, não se cansa de alertar que este caminho de contrair a economia, de visar apenas a redução do défice à custa da economia, vai levar a uma muito perigosa e prolongada recessão. Aconselha ela, em especial a Europa, que dilate os prazos para a redução do défice e que injecte recursos para animar, ou melhor, para reanimar a economia.

Mas por cá, apesar da miséria que se está a desenhar, vemos Passos Coelho subserviente em relação a Angela Merkel, a negar o interesse nas eurobonds e a prometer sangrar os portugueses até que se atinjam os objectivos da burocrata Merkel.

Pois bem, meu amigo, é o que faz estar-se a ser governado por 'palermas'... É que 'palermas' não sabem o que estão a fazer, é que não percebem nada disto: podem destruir o país e nem dar por isso.


Nicolau Maquievel dissertou sobre se é melhor um governante ser amado ou temido, concluindo que, assim como assim, era preferível ser temido.

E eu,em abstracto, (e não associando o epíteto de bandido a Sócrates), direi que, assim como assim, acho que será preferível ser-se governado por bandidos do que por palermas.

É que os bandidos são imputáveis e os palermas não.


[PS: Já agora se chegou até aqui e ainda não está suficientemente enervado, deixe-se deslizar e vá até ao post abaixo saber a sorte que o Zé Pedro, dos Xutos, teve por já ter conseguido um fígado novo]

2 comentários:

  1. Tudo isto é mesmo angustiante! E assim vai o nosso país a caminhar para a pobreza cada vez maior, sem que os nossos governantes e alguma massa pensante pareçam incomodar-se com tal facto. E ser pobre significa isso: perda do bem-estar, da abundância, do conhecimento, da liberdade, da vida (do seu corpo, também) e, já agora, do prazer...
    Agora é a saúde, a seguir virá a educação, embrulhada em papel de menos mau - escolas segregadas: para um lado os meninos bonitos, para outro os pobres, feios, porcos e maus (pensarão alguns incautos que os feios serão os filhos dos outros, nunca os seus). Adeus, democracia!

    ResponderEliminar
  2. Leitora,

    Claro que concordo consigo.

    Este caminho está a conduzir-nos para a pobreza, para um cavado fosso recessivo (Chritine Lagarde não se cansa de o avisar).

    Sucessivas machadadas no Estado Social e sucessivos golpes de mão ao bolso dos contribuintes, que, progressivamente vão afectando todos, são aquilo de que eu tanto tenho falado aqui: um retrocesso civilizacional.

    Nem sei já como se sai disto.

    ResponderEliminar