Meus Caros Amigos, as coisas estão de novo muito incertas. Com as ilhas vendidas ao desbarato e a sofrer a agiotagem de juros a mais de 60%, a Grécia (que estudámos como o berço do conhecimento e da democracia, lembram-se?) está a sofrer a humilhação que sofrem os desapossados, os desacreditados.
Mas, ruindo a Grécia, a Europa afundar-se-á ainda mais um pouco.
Os urubus aí andam, a sobrevoar os nossos tectos, a rondar os nossos antigos sonhos.
Pensávamos que estávamos a construir um futuro, pensávamos nos anos dourados da nossa reforma, pensávamos num futuro risonho para os nossos jovens, idealizávamos um admirável, tecnológico e descansado futuro para os que agora são ainda crianças.
Tínhamos qualidade de vida e achávamos isso natural dado que trabalhamos, dado que investimos antes na vida que temos agora.
Mas um dia começámos a ouvir que lá bem longe havia uma crise, a dos subprimes, depois ouvimos falar numas tais Fanny Mae e Freddie Mac, nomes engraçados, era tão longe de nós, depois veio a surpresa do escândalo do Maddoff e a queda do Lehman Brothers e o mundo começou a estremecer. A grande AIG e grandes bancos, até em Londres, e a coisa já estava aqui.
Escândalos domésticos de má gestão e usura começaram a rebentar por cá e os anteriores casos exemplares de boa gestão como Rendeiro e afins e toda a trupe do BPN, deram à costa. E, de repente, tudo estremecia e nós começámos a temer que a nossa vida anterior tivesse, afinal, sido apenas um sonho.
O BCP, caso de estudo, um banco que soube diferenciar-se e, assim, crescer, viu-se envolvido em guerras pouco cristãs, ódios fraticidas, formaram-se facções, a banca, ah a generosa banca que tanto ajudou à festa, emprestou dinheiro à tripa forra para o que fosse preciso, para tomar partido contra accionistas mal amados, para crescerem sem que, de outra maneira, tivessem como, e a banca foi emprestando dinheiro tendo como garantia as própria acções, e a banca emprestou também para que as pessoas comprassem casas que jamais poderiam pagar, para que as pessoas fossem de férias à Turquia, à República Dominicana, emprestou dinheiro para que as empresas investissem não tendo os accionistas que meter lá nem uma pinga do seu sangue... e assim fomos, até que um dia, de repente, tudo isso era, afinal, mal feito.
Um dia o dinheiro rarefez-se e as acções desvalorizaram-se e os grandes empréstimos ficaram a descoberto, um dia a banca fez as contas e viu que já não tinha dinheiro para continuar a emprestar e que toamara que ninguém se lembrasse de levantar os depósitos (porque o dinheiro tinha ido para Joe Berardo derrotar O Dr. Jardi, para o Nuno Vasconcellos da Ongoing se tornasse accionist ade referência na Zon, e por aí fora, por aí fora (porque, afinal, vemos agora, ricos não os há, o que há são grandes endividados que vivem como ricos).
Joe Berardo no seu Budha Eden Garden |
E, no Estado, um dia viu-se que já não tinha dinheiro para pagar as reformas, as baixas, os subsídos de férias e que só tinha dinheiro para trocos, nem quase já para ordenados.
E assim fomos até que um dia acordámos e estávamos de joelhos.
Um dia acordámos e a Irlanda também já assim estava, a Grécia era a paródia do mundo.
E este é o tempo que vivemos.
Os nossos governantes são abúlicos, dizem uma coisa aqui, outra quando estão pela mão da madame Merkel, dizem uma coisa entre nós, dizem o contrário quando se apanham longe de nós, dizem que estão a esforçar-se e só os vemos a irem-nos ao bolso sem dó nem piedade.
E hoje a troika diz que não chega, que nos últimos meses já se desviaram mil milhões (mas onde, Mr. Gaspar, onde?!, como é possível tamanho desvio em tão poco tempo?), que novos sacrifícios são precisos. E Vitor Gaspar, obediente, assegura à troika, 'ok, there will be blood' e já pensa quais as próximas vítimas que irá sacrificar
Ao que chegámos, ao que chegámos... Que descontrolo, que aflição!
Entretanto, na Madeira, o Alberto João, depois de resolver fazer oposição aos cubanos e de, com essa desfaçatez, ter provocado mais um rombo nas contas públicas, prepara-se airosamente para ser reeleito.
Tudo isto é patético, tanto mais que assistimos mansamente (ah como eu às vezes odeio o meu jeito manso), a esta pouca vergonha.
No outro dia, o Comissãrio Europeu para a Energia, o alemão Gunther Oettinger, saíu-se com uma ideia peregrina: a de que as bandeiras dos países faltosos fossem postas a meia haste. Nem mais.
Até me admiro que não tivesse também proposto que os governantes desses relapsos países comparecessem nas reuniões com orelhas de burro. E eu não sei se me ria, se já não ligue nada a tanta parvoíce. Teria graça ver o Passos Coelho, submisso, de orelhas de burro, a lamber os pés à Angela - mão não, não quero ver isso. É que ele é português e eu sou muito portuguesa, não quero ver os portugueses a serem humilhados.
Mas, se quase só vejo parvoíce á minha volta, há pessoas cujas opiniões venero. Não há muitas, mas há algumas. Às vezes até posso não concordar com algumas coisas mas são sempre opiniões inteligentes, sérias, sóbrias, ditas por genuína vontade de contribuir, nada de vão exibicionismo. Uma dessas pessoas que eu ouço e vejo com respeito, admiração, carinho mesmo, é o Dr. Silva Lopes.
Um homem bom |
Ele fala, com aquele sorriso de homem bom, com aquelas suas belas mãos de homem sábio, e eu quero que à minha volta toda a gente se cale para eu o poder ouvir atentamente.
Hoje ele falou. E disse que achava que se deveria fazer uma lei que impedisse os governantes que fossem infractores fiscais de voltar a candidatar-se durante uns quantos anos, 10 sugeriu ele. E exemplificou: 'com uma lei destas o Alberto João Jardim há muito que tinha deixado de poder fazer o que tem andado a fazer, nomeadamente a fazer oposição política com o dinheiro dos nossos impostos.'
Grande ideia. E tão simples. Como sabe bem ouvir a voz de gente séria, sábia, generosa, culta à moda antiga.
(*) O Crédito a quem de direito - aprendi a expressão 'empacotar que nem ginjas' com a fiel depositária do mais conhecido Fio de Prumo deste País que a usou num divertido comentário que aqui me deixou, e, por tal, daqui lhe envio os meus agradecimentos.
Amiga
ResponderEliminarDe novo completamente acordo. Texto de humor negro, subtil, que o branco já não lava.
Também eu gosto, respeito, admiro Silva Lopes, que foi o meu mais querido Governador, durante anos, no Banco de Portugal.
Gosto tanto dele que, no meu livro "Coisas que sei...ou julgo saber", lhe dedico um dos meus textos.
E, antes de ser meu chefe, foi meu colega e meu amigo. Sempre me defendeu e eu a ele, em tempos bem difíceis de FMI e Teresa Ter-minassian.
Devo-lhe e a Ernâni Lopes muito do que sei. E continuo a segui-lo como segui Costa Leal, no tempo que com ele colaborei.
Foram os bons anos do Banco de Portugal. Mas o actual Governador irá devolver à casa -espero e acredito -, o seu antigo fulgor. Só isso me dá algum sossego depois do vendaval Constâncio...
Ainda há pessoas que se salvam no meio de toda esta encruzilhada!
Olá, Helena,
ResponderEliminarGostei mesmo de ler este seu comentário. Não sabia dessa sua proximiddae e admiração. E fico contente que, tendo-o conhecido, confirme a justeza da boa impressão que tenho dele.
Parece-me uma pessoa pura mas, sendo puro, não é 'lírico' (sem desprimor para o lirismo). Tem juventude de espírito e é directo sem ser agressivo, e explica tudo da forma clara que caracteriza as pessoas que sabem do que fala.
E tem um sorriso tão bonito, não tem?
Também espero que este Governador reponha o respeito na instituição e penso que está a consegui-lo (embora me pareça que não é um extraordinário comunicador; eu, pelo menos, às vezes custa-me a perceber o que ele diz, parece que tem má dicção, não sei, engole sílabas, apuro-me toda para ver se apanho tudo mas nem sempre é fácil - mas isso é o menos).
Mas tem razão: ainda há algumas pessoas em quem se pode confiar.