terça-feira, agosto 09, 2011

Meu drama é que sou livre - disse Clarice Lispector

"A carga de culpa devia ser jogada com misericórdia também. Porque afinal não somos tão culpados, somos mais estúpidos que culpados. Com misericórdia também, pois. Em nome de Deus, espero que vocês saibam o que estão fazendo. Porque eu, meu filho, eu só tenho fome. E esse modo instável de pegar no escuro uma maçã - sem que ela caia." (in 'A maçã no escuro')

Clarice adolescente, no Rio de Janeiro - composição minha sobre foto

"A certeza de que dou para o mal, pensava (...).

O que seria aquela sensação de força contida, pronta para rebentar em violência, aquela sede de empregá-la de olhos fechados, inteira, com a segurança irreflectida de uma fera? Não era no mal apenas que alguém podia respirar sem medo, aceitando o ar e os pulmões? Nem o prazer me daria tanto prazer quanto o mal, pensava, surpreendida. Sentia dentro de si um animal perfeito, cheio de inconsequências, de egoísmo e de vitalidade." (in 'Perto do Coração Selvagem')

Clarice em sua casa, no Leme - composição minha sobre foto

"Nós dois sempre tivemos medo de minha solenidade e da tua solenidade. Pensávamos que era uma solenidade de forma. E nós sempre disfarçávamos o que sabíamos: que viver é sempre uma questão de vida e morte, daí a solenidade. Sabíamos também, embora sem o dom da graça de sabê-lo, que somos a vida que está em nós, e que nós nos servimos. O único destino com que nascemos é o do ritual. Eu chamava 'máscara' de mentira, e não era: era a essencial máscara da solenidade. Teríamos de pôr máscaras de ritual para nos amarmos." (in 'A paixão segundo G-H.')

Clarice Lispector, bela, e livre - de profundis

"Meu drama: é que sou livre."

"A solidão de que sempre precisei é ao mesmo tempo inteiramente insuportável"


"O resto era o modo como pouco a pouca eu havia me transformado na pessoa que tem o meu nome. E acabei sendo o meu nome. É suficiente ver no couro das minhas valises as iniciais do meu nome, e eis-me." (in 'A paixão segundo G-H.')



PS1: Um dia escreverei sobre Clarice Lispector (1920 - 1977), uma mulher que admiro muito, uma escritora que escreve sobre o indizível, sobre o sopro vital, sobre o inconsciente profundo. Uma mulher inteligente, bela, excêntrica, livre.


PS2: E agora convido-vos a espreitar três mulheres felizes, voando sobre o Tejo. Deslizem, por favor, até ao post abaixo.

Sem comentários:

Enviar um comentário