terça-feira, julho 12, 2011

As bolsas no vermelho, a Itália e os EUA num sufoco, nós tidos como lixo e eu a pensar em tangos. Valha-me o Al Pacino.

Comecei por ver o Durão Barroso na RTP, na entrevista à Fátima Campos Ferreira (bem, melhor do que é costume, directa, sem estar agressiva ou destravada como às vezes lhe acontece). Nada de novo, a entrevista. Durão Barroso é o que é, cauteloso, uma cuidadosa gestão da imagem e um controlo apertado do que diz. Dali nunca se ouvirá uma ideia empolgante, um rumo que nasça de um golpe de asa.

Depois, passei para a TVI 24, onde decorria um dos inevitáveis debates sobre a dívida, sobre a crise financeira que alastra como uma mancha incontrolável, sobre o ataque das agências de notação, sobre o dólar e o euro, sobre a Itália e sobre os EUA [os maiores também a ajoelharem na arena financeira, onde ultimamente sucumbem os que têm alguma vulnerabilidade, vítimas indefesas dos vorazes apetites especuladores], sobre o Eurogrupo, sobre as bolsas à beira de um ataque de nervos, sobre as empresas desvalorizadas até à medula, e sobre essas coisas de que agora todos falam com ar sapiente e muito douto, como se soubessem que isto ia acontecer desde que nasceram.

E, como se o tema já não fosse suficientemente enervante, ainda me aparecem umas pessoas que têm um tom de voz e um arzinho arrogante que me maça de uma maneira...

Helena Matos, jornalista e tão irritante, senhores...

Por isso, se me permitem, (também tenho direito aos meus momentos de alienação), vou partir para outra. Música, dêem-me música, por favor. E, já agora, levem-me a dançar.

It´s two to tango e eu nunca tive quem me levasse assim nos braços, pista fora, deslizando, tombando, num jogo de sedução e conquista, avanços e recuos. Pés de chumbo. Mas, também como nunca aprendi, provavelmente se tivesse um par à altura experimentaria uma severa desilusão pois isto de se deixar ir talvez não seja bem assim, pelo menos comigo, não sou muito dada a isso, de me deixar levar em cantigas. Ou seja, pragmaticamente já me conformei. Há males piores - e antes pés de chumbo e coração de ouro do que o contrário.

Por isso, já me dou por feliz em ver dançar os outros. E se há tango que não me saia  da cabeça é este, do Al Pacino (talvez numa interpretação algo cabotina como coronel cego, mas quero lá eu saber disso).

Vejam bem este tango. Não dá mesmo vontade de estar no lugar daquela menina?

[Depois, fazem-me um favor? Sigam, please, please, para o post abaixo, que aí dança-se também o tango mas um tango mais canalha, aí entramos no Hernando's Hideaway, coisa menos bem comportada.]




(O filme é Scent of a Woman, Perfume de Mulher e o tango é o célebre 'Por una cabeza', música de Carlos Gardel.)

4 comentários:

  1. Pois ainda bem que pragmaticamente se conformou a não ter parceiro para dançar o tango. Tirando a sedução e a conquista que refere e, vá lá, todo o envolvimento emocional de um tanguinho à maneira, faz muito sentido a abordagem de George Carlin "It takes two to tango. Sounds good, but simple reasoning will reveal that it only takes one to tango. It takes two to tango together, maybe, but one person is certainly capable of tangoing on his own”. Portanto, se não dançamos o tango é mesmo porque não nos dá para isso, right?
    Mas sabe, quando ontem comecei a ler o seu texto e apareceu “It’s two to tango e eu nunca tive quem me levasse assim, nos braços, pista fora…”, woops! eu tive um sobressalto e, ao mesmo tempo, une impression de déjá vu. E pensei, de mim para comigo, onde é que eu teria ouvido, há algum tempo, afirmação semelhante?! De repente ocorreu-me “Para dançar el tango son necessários dos e, durante muchos mesis, eu não tenia parcero para lo dançar…’. (Peço desculpa, pelos eventuais erros, mas procurei adequar a grafia à pronúncia de que tenho memória e, confesso que não sou brilhante em espanhol técnico).
    Bom, e porquê o meu sobressalto? É que, desde que ouvi isso, este país nada mais fez de que ‘dançar miudinho’. E, da promessa auspiciosa de um arrebatado e patriótico tango a dois (felizmiente se habia produzido un cambio! - dizia o orador, em Maio de 2010), chegamos este ano, à renovação do conceito originalmente lançado por Al Hoffman. De facto, ali por Junho, com a visita da troika, o tango dançou-se a três… E, em consequência desse novo “It takes three to tango”, o tango itself acabou e, olhe, passamos mesmo para o baile mandado. E, o que é triste, é que, fiéis à realidade desta dança que os franceses um dia nos trouxeram, vamos tragicamente dançá-la durante muito anos. É que ao contrário de outras danças, o baile mandado não tem uma duração nem curta, nem definida; ao contrário, pode prolongar-se por tempos indeterminados, tudo dependendo da resistência das pessoas que a dançam e que vão seguindo aquele que comanda. Se este ficar cansado ou sem imaginação, pode entrar outro comandante e o baile continua enquanto os casais bailadores aguentarem…
    Por isso, estamos feitos: pés de chumbo ou corações de ouro, estamos condenados a bailar esta dança até á exaustão.
    Com este ou com outro comandante. Too bad…

    Abraço

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  2. Adorei a maneira como ele dançou a valsa e gostei também das suas palavras no meu blogue e gosto do seu escrevinhar em azul.
    Um abraço
    Anad

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  3. Magnólia,

    Concordo plenamente. Já agora, se tiver tempo, veja o que escrevi em Setembro, quase há 1 ano, quando me divertia com o tango daqueles dois:

    http://umjeitomanso.blogspot.com/2010/09/sebastian-and-prime-minister.html

    Agora, é isto, o baile mandado que refere, uma tristeza, e sem certeza de que tanto sacrifício chegue para alguma coisa já que a economia não cresce o suficiente para compensar o brutal serviço da dívida. Precisávamos de um golpe de asa, de uma forma diferente de olhar para isto. Tem que se cortar no que é excesso e conduz a sobre-endividamento mas tem que se conseguir pôr a economia a crescer.

    Inspiração e alta política: precisa-se!

    Um abraço.

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  4. Olá Anad,

    Muito obrigada pelas suas palavras. Gosto de escrever e este azul agora sabe-me bem, sabe-me a mar, a céu limpo de verão.

    Um abraço.

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