segunda-feira, junho 06, 2011

Dia cinzento, frio, chuvoso, as televisões cheias com a história do 'homem vulgar', o putativo barítono e promitente Primeiro Ministro Passos Coelho, e uma entrevista de Ana Leal na TVI que é um murro no nosso estômago - o que a justiça fez a Filomena, mãe de Rui Pedro - e, finalmente, para aquietarmos a nossa alma, Worrisome Heart por Melody Gardot

Quando hoje cheguei a casa já estava quase escuro, chovia uma chuva miudinha, estava vento, uma mulher agarrava-se ao seu cuidado cabelo cujas dispendiosas madeixas teimavam em esvoaçar, dois rapazitos puxavam o capuz, um homem amparava a mulher pelos ombros, estava frio, um dia triste, um anoitecer sem história, um dia de Junho e está como se o outono estivesse a acabar.

As televisões, dá-me ideia que em todos os canais, mostram a história de Passos Coelho, a professora, o professor, o amigo, o pai, e de manhã era a vizinha que dizia que a Laura eé bonita e por fora, o vizinho, a empregada da limpeza do prédio.

Depois, noutro programa, vejo a menina Ana Drago, grávida, empolada, sempre sem perceber bem o estado da nação, há coisas da vida real que lhe escapam e ela sempre, pomposamente, revoltada como se a culpa dela não perceber fosse dos outros e não dela. Noutro sítio (ou no mesmo?) o Bernardino Button, que talvez um dia destes comece a rejuvenescer, dizia coisas interessantes iguais às que dizia quando tinha cem anos, Ângelo Correia, anafado e vencedor, dizia grandes verdades e gracinhas ao menino-velho que também se ria. Noutro programa José Miguel Júdice, blasé, rico, distinto, dizia coisas verdadeiras, interessantes, 'eles vão ter que se entender', e Joâo Cravinho concordava, claro.

Neste momento, como todas as segundas feiras, a televisão está sintonizada no Dia Seguinte ou nos Donos da Bola ou coisa do género e, desta vez, Paulo Bento, com aquele seu ar assertivo e risquinho ao meio, fala de coisas que a mim não me interessam nem um bocadinho (mas regimes democráticos são assim: se há em casa quem goste de futebol, então, paciência, que remédio).

E estou aqui a escrever sobre isto para evitar falar de uma coisa que vi no telejornal e que me deixou de coração apertado, aflito. Mais uma reportagem de Ana Leal que nos dá sempre reportagens sensíveis embora, por vezes, difíceis de suportar. A mãe do menino desaparecido há 13 anos, Rui Pedro, que finalmente viu o único suspeito ser acusado e ir a tribunal, está doente, magra, tão magra, quase só pele e osso. Filomena, que vemos nas televisões há 13 anos, uma mulher bonita e triste, está, ao fim de todos estes anos, com uma depressão profunda, esquelética, já lhe custa a falar, sem forças, receando não chegar viva ao dia em que, finalmente, descubram o filho, mas, por outro lado, sabendo que não terá forças para aguentar muito mais tempo sem saber dele.

É isto uma das piores vergonhas do país: uma justiça que não funciona, em que se permitem situações imperdoáveis como esta. Ao longo de todos estes anos esta mulher lutou para que não se desinteressassem, para que procurassem o filho, para que interrogassem e julgassem o único suspeito. E, em agonia, assistiu à indiferença burocrática da justiça. 

Uma tristeza ver aquela mulher, tão bonita, assim desfeita. Tomara que o caso se resolva para que esta mulher possa voltar a viver. O que lhe fizeram não é coisa que se faça a uma mãe.


Para a corajosa Filomena Teixeira, com os meus sinceros votos de que um dia possa ter o seu Rui Pedro nos braços, aqui lhe deixo umas florzinhas do meu alfazema, que perfuma alguns canteiros in heaven, dispostas em frente de uma pinturazita minha.

Mas não quero acabar o dia a escrever sobre um tema tão triste.

E, por isso, aqui vos deixo a Melody Gardot, a sexy girl de cujas canções, de cuja voz, eu tanto gosto. Espero que também gostem.




E, já agora, para um momento de pura diversão, sigam para o post abaixo.

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