quinta-feira, abril 07, 2011

Entre a manhã e a noite fazemos todos grandes maldades - Paula Rego e Machado de Assis (e Pedro Passos Coelho e José Sócrates e o FMI e essas coisas tristes)


Paula Rego - Witches at their Incantations after Salvator Rosa (1991)
De manhã, antes do mingau,e de noite, antes da cama, pedia a Deus que me perdoasse, assim
como eu perdoava aos meus devedores;
mas entre a manhã e a noite fazia uma grande maldade...

(Machado de Assis, As Memórias de Brás Cubas - texto que abre uma série de gravuras do livro Paula Rego, Obra gráfica completa, de T. G. Rosenthal da Cavalo de Ferro)


Comecei o dia a ouvir na TSF a notícia de um estudo realizado entre universidades em que se conclui que uma percentagem expressiva de portugueses deseja uma federação entre Espanha e Portugal.

Quando o lobo mau se aproxima, quando a perspectiva de dias sombrios se adensa, eis o instinto mais primário de sobrevivênca a sobrepôr-se a séculos de história. Uns desejarão que surja um novo Salazar, outros recuarão ao tempo dos Filipes: qualquer coisa servirá desde que se consiga 'pôr a casa em ordem'. São um perigo estes períodos de incerteza e medo.

Ontem escrevi aqui que era indispensável e urgente pedir apoio porque sozinhos já não iríamos lá. Aí está e ainda bem. O que acontecer a partir daqui será melhor do que a situação em que estamos agora, que é de total estrangulamento. Só que a questão não se resolverá de per se com a injecção de dinheiro pois o problema está na incapacidade em gerar riqueza que existe em Portugal. Dinheiro que agora se deite em Portugal será como manteiga em focinho de cão: desaparecerá na mesma hora. É indispensável que se repense o país. Tem que haver produção de riqueza, não poderemos continuar a importar tudo o que consumimos.

Não sei se isso é compaginável com as directrizes e regulamentações de Bruxelas mas tem que haver uma solução para isto. Programas de set aside para os terrenos, obrigando os agricultores a deixarem de cultivar as terras, programas de redução de frota pesqueira, mais as fábricas a fecharem, empresários a vender as empresas a outros países - tudo isso tem que ser repensado.

Mas quem o fará? Aquele boneco de feira que dá pelo nome de Pedro Passos Coelho que papagueia cada dia sua coisa?

Passos Coelho, como se sabe, é o alourado

Sócrates, já desgastado, pouco credível, de candeias às avessas da a oposição?

Parece-me que os partidos deveriam fazer uma introspecção e varrer a tralha que tem andado a dar cabo do País. Claro que o que digo é uma contradição dos termos mas, de qualquer forma, seria bom que os verdadeiros e legítimos políticos que existem em cada partido (e não os newcomers, os aparelhistas que por lá pululam) se chegassem à frente.

Nas próximas eleições sinto-me incapaz de votar no Pedro Passos Coelho, infelizmente também não no Sócrates pelo que acima referi, muito menos no Portas e claro que também não no Jerónimo ou Louçã.  Sobra algum?

Haverá tempo de, até ao dia de eleições, a nossa classe política se renovar?

Se não o fizer, quem é que vai gerir o País? O FMI que interlocutor terá?

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