Tenho que começar por fazer uma declaração de interesses: abomino a expressão 'à rasca'. Logo, fico de pé atrás quando meninos com ar de betinhos dizem, com ar pretensamente revolucionário, 'à rasca'. Não bate certo.
Li no Expresso um artigo sobre um dos promotores da dita manifestação de 12 de Março, a manif contra a precariedade que está a ser promovida através das redes sociais: Alexandre de Sousa Carvalho.
Alexandre na entrevista ao Expresso, edição 2000 |
Alexandre de Sousa Carvalho, tem 25 anos e tem como formação académica uma licenciatura e um mestrado numa área em que há uma falta de mão de obra que ninguém queira saber: é licenciado em Relações Internacionais, com mestrado em ‘estudos sobre paz e conflitos em África’.
Questionado pelo jornalista, 'se tivesse poder o que mudaria?', diz que como não se considera um iluminado, explicando que não diz nada porque as coisas não se devem fazer segundo ‘caprichos individuais’. À pergunta ‘que medida gostaria de ver aplicada?’ também não responde porque ’como organizador, não lhe vou indicar qualquer medida’. Habilidades linguísticas, com laivos de baixa política, que escondem um aparente vazio de ideias. Parece um 'macaco velho' (como se costuma dizer dos velhos políticos) a falar, atacado de partidarite, e afinal é um jovem de 25 anos.
Tenho o maio apreço pelos jovens, gosto de trabalhar com jovens, adoro conversar e conviver com jovens, são o futuro - mas, please, jovens com ideias jovens, instruídos, trabalhadores, com boa cabeça (e que o revelam, nomeadamente quando escolhem a formação), que sabem ir à luta, que percebem que o futuro de cada um é cada um que o constrói. Que percebem que não é ficando, até terem 30 anos ou mais, no bem-bom, em casa dos pais, a tirar mestrados ou doutoramentos que não interessam para coisíssima nenhuma e a lamuriarem-se, que irão encontrar alternativas úteis para eles e para o País.
Pegue-se no caso do Alexandre ou de muitos outros Alexandres e Alexandras que se queixam que não arranjam trabalho compatível com a formação académica e que, contra isso, se vão manifestar. Provavelmente gostavam de obrigar o Governo a obrigar as empresas a contratá-los. Imaginarão que com especializações engraçadas como as que têm as empresas poderão colocá-los a fazer o quê?
Pontualmente pode acontecer que uma empresa que queira abrir uma sucursal num país africano recorra a um especialista em conflitos africanos mas será a um e não aos milhares de jovens que tiraram cursos sem saída no mercado de trabalho.
E depois uma perguntinha que se calhar não tem nada a ver com isto.
Quando o concerto da Kate Perry esgotou, quando todos os outros concertos esgotam, cheios a abarrotar com jovens felizes e cantarolantes, quando as ruas e os bares do Bairro Alto estão cheios de jovens que bebem festivamente até de madrugada, quem são esses jovens? Não são os que têm que trabalhar no da seguinte, digo eu.
E quando qualquer jovem que tenha 18 anos já anda montado no seu próprio carro, quem são esses jovens?
E quando tudo o que é telemóvel ou jogo ou gadget se vende que nem ginjas, quem são os jovens que os compram?
Serão os jovens 'à rasca'?
[Note-se: Claro que lamento que a nossa economia esteja como está, claro que lamento que nas últimas dezenas de anos o País não tenha sabido tornar-se sustentável, claro que lamento que com uma geografia e um clima e um povo como os portugueses, não tenhamos sido capazes de deixar de ser um país inerte e pouco produtivo, que compra quase tudo o que consome e que pouco produz para vender - mas isso conseguir-se-á se os jovens se tornarem cidadãos de pleno direito, generosos, empreendedores, se os jovens se tornarem lutadores e dinâmicos em vez de palavrosos, em vez de maçadores verborreicos, em vez de papagaios que outra coisa não fazem do que papaguear conversas velhas de Jerónimos ou Louçãs ou Portas ou PPC's ou até Sócrates].
um velho habito de analisar tudo e todos à luz de um esteriotipo previamente formado, pouco interessada no que de facto se fala. Independentemente do que houvesse para ler, o que estava para escrever já estava escrito.
ResponderEliminarSeria bom um pouco de contacto com essa juventude. Sabes, Portugal tem um salário médio de 800 euros, baixo, muito baixo. Um nível presistente de pobreza real que abrange 20% da população, alto, muito alto. Também temos uns honráveis 20% da população jovem desempregrada... alto? não! gigante!
E depois ha as tais empresas a quem o estado, liberal como se o ama, a nada pode obrigar. E estas marotas usam e abusam dos recibos verdes, dos depedimentos no fim dos estágios, e todo um sem fim de bem feitorias! sim sim!
Exprimente v. exa. querer comprar casa e pagar uma prestação flutuante de 200 ou 300 euros (casita velha lá nos limitrofes dos sub urbes), exprimente depois comprar comida e pagar contas correntes, outros 300 euros. depois o carrito para ir trabalhar 100 euros. Já la vao 700 euros fáceis. Mas nos somos ambiciosos, nos os jovens velhos, e queremos ter filhos. Porra mais alguem nos leva 300 euros mes por uma creche miseráel. ja vamos nos 1000!
Mas... eu estou a rasca! se tiver sorte sou a média e ganho 800 euros. Flizmente somos 2, mas ela ja nao tem trabalho - acreditou que engenharia do ambiente era uma boa aposta, mas a verdade e que a maior parte das empresas de ambiente fecharam as portas, perderam o principal cliente que era o estado.. que culpa e que ela tem?
Eu não sei! mas sei quem se lixa - o nosso projecto de vida em comum e a ideia de ter filhos.
So posso concluir que alem de estar a rasca também se esqueceram da importancia da minha geração para o futuro do pais. Acho que se se esqueceram que o progresso se fazia em sentido ascendente e que é legitimo aspirar a uma vida melhor do que a que os nossos pais levaram.
Enfim, bora mas e beber mais um copo pa esquecer.
PS - apesar de estar inserido numa classe claramente favorecida pelo nivel de vida da ascendencia a quem calhei encaixo este perfil em praticamente todos que conheºo da minha idade - sem projectos, sem rebentos!
J