sexta-feira, fevereiro 25, 2011

A mulher que lê as cartas, os diários, ao pé das flores - alienada deste tempo lamacento

Kadafi suja de sangue o jasmim. O Irão provoca. Israel à beira de um ataque de nervos. A Nato em reuniões tensas. José Barroso, com aquele seu inglês enfatuado, armado em durão, faz avisos redondos.

Pedro Passos Coelho não para de dizer que não anda com Sócrates ao colo e, tantas vezes o diz, que nos faz pensar que é isso mesmo que quer. 

Paulo Portas, que quer porque quer ser já ministro, está cada vez mais histérico de tão impaciente que anda, a rapaziada do PC e do BE anda desnorteada e disfarça com o palavreado oco do costume. A título mais pessoal, eu assisto a um inacreditável tirar de tapete a alguém que o não merecia e constato, uma vez mais, que não há nada nesta vida que possamos dar por adquirido.

A campanha publicitária do Expresso continua, o Ricardo Costa agora anuncia a divulgação de telegramas da embaixada americana da wikileaks e isto revolve-me as entranhas. Não gosto de saber segredos. O mundo não pode ser assim devassado.

Nem me interessa saber a todo o minuto o que cada um anda a fazer, o twitter a mim incomoda-me. 

E o José Alberto Carvalho e a Judite de Sousa mudam-se para a TVI, com equipas quase inteiras (e Júlio Magalhães é impiedosamente apeado) - e o que é isso de amor à camisola quando o dinheiro fala mais alto? O que é isso de jornalismo de serviço público com os ordenados a levarem uma facada de 10%? Haja quem dê mais.

(E, se calhar, é compreensível)
 
E as televisões não transmitem uma única notícia boa (e há-as!) e eu não tenho paciência para isto.

Que mundo é este que temos vindo a construir?

Assim como assim, prefiro, por um bocado, alienar-me e, para tal, dedico-me às minhas desarrumações livrescas.

Os movimentos de translação entre livros das várias estantes, trouxeram para a 'rua' os que andavam aquietados, as novas estantes arredaram outros móveis que estavam instalados há anos, os bibelots saltaram dos móveis. Agora há uma secretária perdida no meio da sala, há molduras, velas, peças e pecinhas por todo o lado, livros à procura da sua nova casa e temos que andar com cuidado porque o chão está pejado de obstáculos.

Mas eu gosto, sinto-me bem no meio deste caos que me é familiar.

Tenho que pensar onde alojar os deslocados, como lidar com uma nova ordem que se vai desenhando. A literatura de língua espanhola ganhou direito a um território autónomo. Idem com a asiática. E agora ando com o género epistolar (gosto muito, já vos contei?) e fico encantada com os que repesco do meio dos outros, já nem me lembrava de muitos.


Da Colares Editora, reencontraram-se como amigos e que bonitos que são: 'Cartas íntimas a Vita Sackeville-West' de Virginia Woolf, 'Bilhetinhos com Poemas' de Emily Dickinson, 'Apaixonadamente' de Rainer Maria Rilke, 'Querida Lou' idem; e da Edições Ática, 'Cartas' de Sebastião da Gama... e são tantos que merecem também um território.

A mesma coisa para os Diários. E para as entrevistas.

A fotografia que tirei há bocado mostra alguns destes e o novo do Milan Kundera, 'um encontro' de que estou a gostar imenso, o novo de Nuno Júdice, que tem uma capa líndissima, 'O complexo de Sagitário', e o de Yvette K. Centeno, 'Do longe e do Perto', quase-diário, cuja capa, que transmite uma grande serenidade, reproduz quadro de Edward Hopper. Não se vê solidão nesta pintura, apenas uma quietude boa, uma mulher que lê na sua casa, uma jarra de flores perto da janela.

E, a propósito de uma mulher que lê ao pé das suas flores, mostro-vos um fragmento do meu espaço.

Coisas de casa : a mulher que lê

Mas, enfim, do mal o menos: já é sexta-feira!

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