quinta-feira, janeiro 06, 2011

Partidos Políticos analisados à lupa da matemática (uma lupa muito ligeira, diga-se)


Falei há dias da matemática, dos conceitos de racionalidade e rigor que são introduzidos nas abordagens metodológicas.

Resolvi hoje fazer um exercício, aplicando a abordagem metodológica matemática à política e, desta forma, analisar se há discurso redundante, contraditório, infundamentado, por aí fora - um exercício ligeiro, no entanto que o espaço e o tempo não dão para mais.

Vejamos.

O Bloco de Esquerda. Falam encaloradamente, ou com ar didático, ou com ar de quem faz uma denúncia urgente. Não falando do chato do Louçã ou do caviar-gauche-jeep-de-Bruxelas do Miguel Portas, ou de uns senhores com ar normal como o Fazenda ou a outra senhora, ou é aquela miúda Ana Drago, que fala com ar de pespineta-nêta-nêta-nêta, arzinho de quem subiu para um banco e já acha que é da altura dos crescidos, espingardando com ar de precocemente sabichona-chôna-chôna-chôna, irritante criaturinha,
  

ou, então, com ar de pré femme fatale a quem falta quelque chose para ser mesmo fatale, a Joana Amaral Dias, que se insurge contra a humanidade com aquele ar psico-encartado de quem sabe lidar com malucos de toda a espécie e feitio. 


Mas, reduzindo o discurso, limpando as banalidades, as afirmações óbvias e incontestáveis aqui ou na conchinchina, agora ou 50 anos para a frente ou para trás, nada de relevante se aproveita, nada que se possa materializar como um modelo integrado de desenvolvimento. É daqueles polinómios em que se corta, corta, corta e o que fica é coisa pouca. As meninas do BE e mais uns quantos podem existir, e não é mau que existam, para serem os papagaios de serviço. Se é divulgado que há um administrador algures que ganha muito dinheiro, eles no parlamento pedem explicações e, se lhes puserem um microfone à frente da boca, eles questionam, acusam, chamam ao parlamento, pedem explicações, enfim, fazem o número deles e às vezes são úteis a denunciar algumas situações. Mas, pequenas excepções e espectáculo à parte, nada fica, apenas espuma.

O Partido Comunista Português. São justiceiros, gostariam que todos fossem iguais, que não houvesse uns melhores que outros, nem uns piores que outros, que no mundo não existissem uns malandros a tudo querer e outros pobrezinhos a pouco levar. Os bancos são uns gatunos, os empresários uns ladrões, os empregados uns anjinhos espoliados. Mas se forem os juízes a querer ter casa à borla, o PCP também os apoia, se forem os professores a quererem todos ter avaliação excelente, o PCP também os apoia, se com as medidas que defende o PC levar as finanças públicas ao charco, paciência, aí já nada se diz, porque a culpa de tudo é sempre dos capitalistas, dos fascistas, dos imperialistas, das mais valias, da banca. Cavalgam a onda do descontentamento, seja ela qual for. Alimentam-se da contestação pública, seja lá que contestação for. Ou seja, factores contraditórios que se anulam uns aos outros. Além disso, tirando uns quantos miúdos novos que não se percebe bem o que andam por lá a fazer (os rapazes geralmente com um ar vagamente revolucionário, pós-operário e as raparigas, em grande parte, com um ar gauche pós-moderno), e mais uns quantos idealistas bem intencionados, são uns maçadores. Dizem todos o mesmo, em registo de monólogo e, na voz, têm uma entoação parecida, a gente fecha os olhos e não sabe se é o Jerónimo, o Francisco Lopes ou outro quase igual.


Mas a questão principal nem é só essa. A questão é que o modelo comunista já foi testado e, em todos os testes, chumbou. Não houve um sítio onde a coisa tivesse corrido bem. Descamba sempre em falta de democracia, em falta de liberdade, em pobreza ou em oligarquia. Ora, em matemática, quando uma teoria não passa em nenhum teste, é porque não é válida, arruma-se. Ardeu. Finito.

Restam o Partido Socialista, o Partido Social Democrata e o Centro Democrático Social. Praticamente tudo farinha do mesmo saco. Analisam-se as semelhanças e são mais que muitas, analisam-se as diferenças e são quase irrelevantes. O PS mais esbanjador no que se refere a politicas sociais, o CDS mais estrito no que se refere a política de segurança mas, na prática, tudo é semelhante e sujeito à performance dos respectivos agentes. O Portas é populista, demagogo (e um artista a escapar-se entre as pingos de chuva no meio dos escândalos que poderiam salpicá-lo como é o caso dos submarinos) mas já a Maria José Nogueira Pinto é sensata e directa. O Manuel Alegre e ala esquerda são humanistas sem olhar a contas, o Teixeira dos Santos (ou seja, a política económica de Sócrates) é liberal agora, quando antes era social-generoso. Quanto ao PSD é, regra geral, uma rapaziada que se aproxima se o poder está próximo, e se comem uns aos outros quando o poder está longínquo; e a orientação oscila consoante o líder do momento: foi austero com Manuela Ferreira Leite, anda a navegar à vista com Pedro Passos Coelho.





Mas é indiferente. Ou seja: mais uns passinhos para a esquerda ou mais uns passinhos para a direita consoante os intérpretes e, sobretudo, consoante a conjuntura - que isto já pouca margem há para se seguir um programa nacional  - mas estes três partidos são equivalentes.

Há regras de integração que têm que ser cumpridas, o dinheiro não estica, não dá para desvalorizar a moeda, logo: faz-se o que tem que ser feito e enfeita-se a acção com palavreado para fazer de conta que há diferenças políticas.

A verdade, expurgada a irrelevância e as contradições, é que não há nenhum partido que faça a diferença pela positiva, não há quem defenda um modelo novo, sustentável, honesto.

Ou há irrelevâncias (BE) e irrealidades (PCP) ou os outros três são a mesma coisa.

A ter que escolher, então que a escolha se faça entre estes (PS, PSD ou CDS) e, de entre estes, que se escolha quem saiba ler, escrever e fazer contas, quem saiba falar (incluindo em inglês e, se possível, em francês), quem se saiba vestir e estar à mesa, quem tenha savoir faire em espaços cosmopolitas. Não vai ser fácil...

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