1. Desde segunda-feira que a catedral do consumo se encontra a transbordar de uma multidão ululante. Não exagero. Os parque de estacionamento estão repletos, os restaurantes repletos estão, nas lojas quase não se consegue dar passo e as caixas têm filas enormes. Não exagero. Os adultos do costume, mais outros que vêm aos magotes não se sabe de onde, jovens em ruidosos grupos (já começaram as férias?), idosos em cadeiras de rodas. Não exagero. Acabo de ver na televisão uma reportagem que mostra que no Chiado se passa o mesmo; até uma comerciante diz que o que se passa não tem nada a ver com crise.
As ruas transbordam, as lojas transbordam.
Penso que só pode ter a ver com o recebimento do ordenado e subsídio de natal. As pessoas devem ter pensado: ’Antes que o cortem, vamos mas é dar cabo dele’ e desataram a consumir de uma forma desenfreada.
2. Logo a seguir às férias de verão, Setembro ao rubro, as lojas de vestuário já só tinham roupa de Inverno. Nós, de algodões ligeiros e frescos, sem meias e de sapatos abertos e as montras cheias de lãs, tweeds, botas para o frio. Agora, que está frio, Dezembro a começar, as montras estão cheias de vestidos sem mangas, saias curtíssimas, lantejoulas, rendas, brilhos: é o réveillon que já aí está.
Como dizem os Deolinda, ‘vivemos todos uma casa ao lado’. Induzem-nos sempre um tempo que não é ainda o nosso.
Não sei que sentido faz isto.
3. Fazemos compras para oferecer pelo Natal e, se temos que trocar alguma coisa, no dia a seguir já está tudo a metade do preço. Ficamos a sentir-nos idiotas por termos dado o dobro do devido. Mas fazer o quê? Chegar ao dia de natal e não ter presentes para oferecer?
Livros com capas esfusiantes, quase iguais, os livros como um objecto de consumo, muitos livros, muitos, romancetes de toda a espécie e feitio, proto-intimistas, proto-históricos, proto-biográficos, de escritores que vendem livros a rodos, escritores que são de gargalhada – não há figura, figurão ou figurinha que não publique livro – e mais livros de auto-ajuda para todo o gosto e paladar: para gordos, para deprimidos, para endividados, para os que não gostam do chefe, para os que não sabem vender, para os que não sabem tratar dos filhos, para os que compram como se não houvesse amanhã, para os que têm dificuldade em adormecer e os que custam a acordar: treta, treta por todo o lado.
E eu sinto sempre alguma pena dos autores sérios, dos que fazem um livro como quem faz um filho, os que estudam, investigam, escrevem com cuidado e amor, rasuram, sacrificam horas, dias, meses de vida, aqueles que com honestidade, dedicação (e sentido artístico e background cultural) vivem da escrita e que têm que competir com todo este junk paper que invade as prateleiras.
No meio de tanto material sem qualquer qualidade, em que o que é promovido é exactamente o que não presta, como garantir a preservação de alguma cultura?
E, afogados em material de consumo, como explicar o que é a cultura?
Nota: Os livros da Fátima Lopes e da Margarida Rebelo Pinto figuram aqui apenas como ilustração. Como estes há aos molhos.
- É esta absurda sociedade de consumo. É este paradigma que tem conduzido a humanidade ao egoísmo, à estupidez, à regressão e que nos levou a nós, em particular, a sermos uma sociedade amorfa, pouco exigente, inculta, estupidificada, um país endividado com uma economia moribunda.
Temos que dar um passo atrás e repensar tudo isto.
Até lá, que remédio... vamos ouvindo por todo o lado:
You better watch out,
You better not cry,
Better not pout,
I'm telling you why:
Santa Claus is coming to town...!
He's making a list
And checking it twice;
Gonna find out Who's naughty and nice
Santa Claus is coming to town!!!!!!!
A Margarida Rebelo Pinto, que conheço pessoalmente, apesar de pertencer ao leque dos "escritores pimba", é uma rapariga bastante inteligente, sensível e culta. Tem, no entanto, dois defeitos, por demais evidentes, que em nada contribuem para a engrandecer como escritora: é vaidosa e ambiciosa, tudo em doses intoleráveis.
ResponderEliminarOra aqui está outro comentário que me surpreende...
ResponderEliminarSe conhece a 'rapariga'...não é desagradável dizer que ela é 'vaidosa e ambiciosa, tudo em doses intoleráveis'...? Ou já lhe disse isso a ela?
Não estou a defendê-la - não a conheço pessoalmente e nunca li nenhum livro dela - mas temo que este seu comentário resulte de outro destempero da sua parte...ou não...?
De qualquer forma, ser vaidosa e ambiciosa não são coisas inéditas nos escritores. São, aliás, conhecidos bons escritores cujo ego não tem (ou não teve) tamanho. Vidé o António Lobo Antunes, por exemplo. Penso que o problema dela é que não tem qualidade como escritora. Ou seja, escreve mas não escreve literatura.
Já agora: revejo-me bastante nas suas escolhas literárias (cobrem grande parte das minhas preferências até há ao início da minha idade adulta, embora muitos sejam intemporais). Noto, contudo, uma signicativa ausência de escritores actuais (excepção para os nacionais Peixoto, Pedro Paixão e ALA).
*1 "Não estou a defendê-la - não a conheço pessoalmente e nunca li nenhum livro dela"
ResponderEliminar*2 "Penso que o problema dela é que não tem qualidade como escritora. Ou seja, escreve mas não escreve literatura."
*1.2.Duas contradições impossíveis no seu comentário: nunca a leu e considera-a má escritora. Como pode?
Já disse, sim, à Margarida que a achava vaidosa e ambiciosa. Claro que o fiz num determinado contexto, face a uma pergunta directa dela, e sem agressividades.
Curiosamente ela assume-se assim mesmo.
Somos apenas conhecidos, não somos amigos. Ela foi-me apresentada por um escritor que, esse sim, é meu amigo.
NB. A lista de livros que consta na margem esquerda da página do meu blogue (nem sei porque ainda não a apaguei!), está lá desde o inicio das postagens, nunca foi actualizada, nem representa a realidade actual.
Feliz Natal!
Tem razão no seu comentário e eu, quando estava a escrever, detectei essa incoerência mas não quis detalhar escessivamente a resposta mas, assim sendo, esclareço: sou assídua de livrarias e leio excertos, abro e leio, folheio e nunca consegui vencer a aversão por esses bocados: é fútil, é básico, é escrita fácil e pouco consequente, é espuma. Tudo a condizer com as capas. Tudo a condizer com as entrevistas que dá (ainda agora a vi na RTP1, no Só Visto). Da mesma forma nunca consegui comprar nenhum livro do Paulo Coelho, folheio e só vejo lugares comuns, frases frouxas, treta, treta, treta.
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