segunda-feira, dezembro 13, 2010

Mark Madoff ou o insuportável infortúnio de arcar com as consequências de uma monumental fraude

Conheci uma pessoa que sempre achei de escrupulosidade duvidosa. Tudo o que se dispunha a fazer era sempre a troco de um plus qualquer. A primeira reacção, sempre que era instada a fazer qualquer coisa para além da mera rotina, era, ‘E o que é que eu ganho com isso?’. Sendo uma pessoa com responsabilidades na organização em que se inseria, o exemplo que dava era nefasto.

Uma vez, no meio de acesa discussão, perguntei-lhe para que queria mais dinheiro, uma vez que tendo dois empregos, muito bem remunerado pelo menos num deles (e no outro creio que também) dificilmente tinha como escoar o chorudo income mensal. Com o seu típico esgar (que eu classificava de mercenário), respondeu-me que ‘nunca é de mais’.

O caso Madoff estava recente e eu referi-o, pensando catequizá-lo com um evidente exemplo de crime-castigo: ‘Veja o Madoff: de que lhe valeu tanta esperteza, tanta ardilice, tanto dinheiro ganho, para agora passar pela vergonha planetária de ser conhecido como um trafulha e estar atrás das grades?’.

Mas não o demovi, gente assim não se demove: ‘Mas enquanto esteve cá fora viveu à grande, e, entretanto, já deve ter acautelado o futuro da família e o dele, quando vier cá para fora.”

Vem isto a propósito desta notícia: hoje, exactamente no dia em que passam 2 anos da prisão do pai, Mark Madoff, 46 anos, um dos dois filhos de Madoff, apareceu morto, provável suicídio. Alvo também de processos que tentavam provar o seu envolvimento na fraude, a ser instado a indemnizar as vítimas em milhões e milhões, Mark vinha desde há algum tempo dando mostras de não aguentar a pressão, emocionalmente estava a ir-se abaixo – o que é mais do que compreensível.


Não sei de que fibra é feito Madoff. Mas se, apesar de tudo o que fez, for uma pessoa normal, deve estar a questionar-se sobre o raio de inferno em que transformou a sua vida, ludibriando meio mundo, espoliando das suas economias reformados de todo o mundo, levando à ruína famílias e empresas, para afinal acabar preso (foi condenado a 150 anos de prisão), para um filho de suicidar aparentemente não resistindo à pressão infernal dos acontecimentos. Talvez tente perceber qual foi o momento em que a ganância, o despudor, a falta de escrúpulos, tomaram conta da sua vida, conduzindo-o não aos píncaros da fortuna como desejava mas, sim, aos labirintos escuros e sem fim de um fosso onde não há honra, nem orgulho, nem amor.

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