quinta-feira, dezembro 23, 2010

Legalidade, legitimidade, honorabilidade - o BPN e as presidenciais

Claro que, entre outras razões, o buraco sem fundo do BPN resulta dos rendimentos absurdos que, durante anos, e sob diversas formas, foram distribuídos.


Conforme se irá validar judicialmente, aparentemente na gestão do BPN houve burla, fraude, branqueamento e tudo o que um bando de malfeitores costuma fazer quando põe a mão na massa. Como é sabido nos esquemas de tipo esquemas de tipo pirâmide, é possível (mas ilegítimo!) distribuir rendimentos altos usando para isso o dinheiro dos que vão entrando no esquema. A apetência por rendimentos altos, mais altos do que o normal, faz com que novos clientes sejam atraídos e, portanto, enquanto dura a entrada de novos clientes, há dinheiro fácil para distribuir.

O pior acontece quando, por algum motivo, esse fluxo de entrada se interrompe. Como não existem fundos de reserva, se, quem entregou dinheiro, o quer recuperar, verificar-se-á que não há e, não havendo, começa a gerar-se o pânico e aí estaremos perante o fenómeno inverso, todos a quererem debandar. E não haverá dinheiro para saldar todas as contas. Daí os depositantes sentirem-se logrados, e daí o risco de que todo o sistema bancário, mesmo o que é sério, se veja descredibilizado.

É evidente que, seja qual for a entidade bancária,  nunca haverá dinheiro suficiente para saldar contas se toda a gente quiser sair ao mesmo tempo pois o dinheiro entregue não fica debaixo do colchão do banco. Ele é posto em circulação e isso é o correcto. E tudo funcionará bem se se mantiver o normal fluxo de entradas e saídas, salvaguardadas as devidas garantias.

Mas é para evitar o descrédito do sistema bancário e consequentes movimentos de pânico - com toda a gente a querer ir buscar ao mesmo tempo o dinheiro que depositou nos bancos - que os governos tentam colmatar problemas, nacionalizando os bancos com problemas graves (geralmente são os bancos que, por via fraudulenta ou incúria ou tudo junto, pagaram rendimentos mais altos que deviam, desequilibrando a exploração e gerando ‘buracos’).

Foi o que aconteceu no BPN.

Estamos agora a presenciar um buraco que não tem tamanho, um pesadelo. Esse buraco resultará, a provarem-se as acusações, de gestão danosa, de apropriação indevida, etc, etc, e do somatório de dinheiro absurdo pago a quem, durante os ‘anos bons’, usufruiu de rendimentos exorbitantes.

A ser verdade o que os media divulgam, Cavaco Silva e a filha, pela compra de acções da SLN a 1 euro e venda por 2,4 €,  ganharam respectivamente 147.500 € e 209.400 €.


Comprar e vender acções e obter lucros é legal e legítimo e, obviamente, ele e a filha não fizeram nada de ilegal. A provar-se a acusação, quem terá praticado actos ilegais, foram os gestores do banco por gerarem um ‘buraco’ insanável, proporcionando rendimentos desta ordem de grandeza sem contrapartidas reais.

A questão é outra: Cavaco Silva, que foi Ministro das Finanças, que foi Primeiro-Ministro, que foi Conselheiro do Banco de Portugal, que foi Professor Universitário, não suspeitou da gestão que se praticava naquele banco e que possibilitava a distribuição de rendimentos escandalosos?

Impossível não ter suspeitado. Isso poria em causa toda a sua credibilidade profissional. Penso que deve ter suspeitado mas todo se deve ter lambido com aquele dinheiro fácil, fechou os olhos e olhos que não vêem, coração que não sente.

Fica, pois, em minha opinião, ferido aos nossos olhos na sua honorabilidade como guardião da moral e dos bons costumes nacionais.

Nota: Apesar disso, não é claro para mim que haja melhores candidatos do que ele ao cargo de Presidente da República. O estado a que chegámos…

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