segunda-feira, novembro 15, 2010

Francisco Lopes, Manuel Alegre, Alberto João Jardim et al e Fernando Pessoa, Nuno Álvares Pereira e uma lança em África tão necessária nestes tempos de crise

Ao vir, à noite, para casa passei por cartazes do Manuel Alegre e desta apagada figura do PCP, Francisco Lopes. Na corrida à Presidência da República nenhum dos dois tem hipóteses mas, de entre os dois, o Sr. Lopes é aquele que se mete nesta empreitada sabendo, ab initio, que está a correr apenas para aquecer.

Para quê isto? Para quê o dinheiro gasto em cartazes, em publicidade, em tempos de antena, para nada?

É isto a improdutiviade deste país: fazem-se demasiadas coisas inúteis.

E é também uma forma antiquada e desajustada de fazer política. Não é disto que se precisa em parte nenhuma do mundo mas, em particular, em Portugal hoje.


Depois passei na Av. Nuno Álvares Pereira e ocorreu-me falar nele.

Neste momento difícil que Portugal atravessa, quero aqui deixar registo desta figura ímpar da nossa história: bravo, digno, leal, materialmente desinteressado, de nobre carácter.





Que auréola te cerca?
É a espada que, volteando,
Faz que o ar alto perca
Seu azul negro e brando.

Mas que espada é que, erguida,
Faz esse halo no céu?
É Excalibur, a ungida,
Que o Rei Artur te deu.

‘Sperança consumada,
S.Portugal em ser,
Ergue a luz da tua espada
Para a estrada se ver!

(Nun'Álvares Pereira in Mensagem de Fernando Pessoa)

Transcrevo da excelente edição de Mensagem da Centro Atlântico, comentada por Auxília Ramos e Zaida Braga: "O grande estratega militar da vitória dos portugueses sobre os castelhanos em Aljubarrota aparece, neste poema, como uma criatura marcada pelo divino, aproximando-se da santidade.

Ele é o escolhido de Deus, aquele a quem a espada sagrada, a Excalibur, foi dada, por outro dileto de Deus, também ele imbuído de uma missão divina, o Rei Artur.

Assim, o Condestável – Nuno Álvares Pereira - é uma das figuras em que o conceito de herói pessoano está mais evidente. Escolhido por Deus, ele – S. Portugal – tem uma missão a cumprir, a de devolver ao país o brilho de outrora, revelando-lhe o caminho a seguir – “Ergue a luz da tua espada/para a estrada se ver”.

Agora de http://www.mapadeportugal.net/:  "No tempo de D. João I, Pedro Álvares do Carvalhal era o alcaide-mor de Almada. A sua filha, Iria Gonçalves, teve uma relação amorosa com D. Frei Álvaro Gonçalves Pereira, o filho de D. Gonçalo Pereira, arcebispo de Braga. Desta relação nasceram 9 filhos, entre eles D. Nuno Álvares Pereira (Paço do Bonjardim ou Flor da Rosa, 24 de Junho de 1360 – Lisboa, 1 de Novembro de 1431) que veio a ser um importante senhor de Almada, com numerosos bens, entre eles o moinho de maré de Corroios, no Termo de Almada. A avenida central e mais antiga da cidade tem o seu nome, Avenida D. Nuno Álvares Pereira".


Da wikipedia, transcrevo excertos: "Nuno Álvares Pereira, também conhecido como o Santo Condestável, São Nuno de Santa Maria, ou simplesmente Nun'Álvares foi um nobre e guerreiro português do século XIV que desempenhou um papel fundamental na crise de 1383-1385, onde Portugal jogou a sua independência contra Castela. Nuno Álvares Pereira foi também Condestável de Portugal, Mordomo-mor da Corte, 2.º conde de Arraiolos, 7.º conde de Barcelos e 3.º conde de Ourém.

Camões, em sentido literal ou alegórico, explícito ou implícito, faz referência ao Condestável nada menos que 14 vezes em «Os Lusíadas», chamando-lhe o "forte Nuno" e logo no primeiro canto (12ª estrofe) é evocada a figura de São Nuno, ao dizer "por estes vos darei um Nuno fero, que fez ao Rei e ao Reino um tal serviço".

São Nuno foi canonizado pelo Papa Bento XVI em 26 de Abril de 2009.

A 6 de Abril de 1385, D. João é reconhecido pelas cortes reunidas em Coimbra como Rei de Portugal. Esta posição de força portuguesa desencadeia uma resposta à altura em Castela. D. João de Castela invade Portugal pela Beira Alta com vista a proteger os interesses de sua mulher D. Beatriz. D. Nuno Álvares Pereira toma o controlo da situação no terreno e inicia uma série de cercos a cidades leais a Castela, localizadas principalmente no Norte do país.

A 14 de Agosto, D. Nuno Álvares Pereira mostra o seu génio militar ao vencer a batalha de Aljubarrota. A batalha viria a ser decisiva no fim da instabilidade política de 1383-1385 e na consolidação da independência portuguesa. Finda a ameaça castelhana, D. Nuno Álvares Pereira permaneceu como condestável do reino e tornou-se Conde de Arraiolos e Barcelos. Entre 1385 e 1390, ano da morte de D. João de Castela, dedicou-se a realizar incursões contra a fronteira de Castela, com o objectivo de manter a pressão e dissuadir o país vizinho de novos ataques.

Após a morte da sua mulher, tornou-se carmelita (entrou na Ordem em 1423, no Convento do Carmo, que mandara construir como cumprimento de um voto). Toma o nome de Irmão Nuno de Santa Maria. Aí permanece até à morte com 71 anos.

Há uma história apócrifa, em que o embaixador castelhano teria ido ao Convento do Carmo encontrar-se com Nun'Álvares, e ter-lhe-á perguntado qual seria a sua posição se Castela novamente invadisse Portugal. Nuno terá levantado o seu hábito, e mostrado, por baixo deste, a sua cota de malha, indicando a sua disponibilidade para servir o seu país sempre que necessário e declarando que "se el-rei de Castela outra vez movesse guerra a Portugal, serviria ao mesmo tempo a religião que professava e a terra que lhe dera o ser".

Conta-se também que no inicio da sua vida monástica correra em Lisboa o boato de que Ceuta estaria em risco de ser apresada pelos Mouros. De imediato Frei Nuno manifesta a sua vontade em fazer parte da expedição que iria acudir a Ceuta. Quando o tentaram dissuadir, apontando a sua figura alquebrada pelos anos e por tantas canseiras, pegou numa lança e atirou-a do varandim do convento. A lança atravessou todo o Vale da Baixa de Lisboa, indo cravar-se numa porta do outro lado do Rossio e disse Nuno Álvares: "Em África a poderei meter, se tanto for mister!" (daqui nasceu a expressão "meter uma lança em África", no sentido de se vencer uma grande dificuldade)."

Seria bom que os nossos líderes partidários e mais as suas cliques (ou claques?) aparelhísticas, os nossos (genericamente) fracos deputados, já para não falar nessa imensa mole que é a classe política autárquica pusesse os olhos em exemplos como o de Nuno Álvares Pereira.

Por exemplo, neste momento em que escrevo, na TVI 24, o Alberto João Jardim, essa burlesca figura, clama contra tudo e contra todos, qual virgem ofendida, como se ele próprio não tivesse sido, em todos estes anos em que tem reinado, um beneficiário líquido de toda a nacional papalvice. O desplante e a falta de respeito pela inteligência dos outros atinge limites improváveis.

Mas não penso apenas neles: penso também em quem, como eu, não se alinha em nenhum partido político.

Sejamos todos mais exigentes. E também menos acomodados.


PS: Este post é a antítese do que devem ser os posts, eu sei: é longo (até o título é longo), fala de História, não tem larachas nem cusquices. Paciência.

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