segunda-feira, setembro 06, 2010

Celle qui fut la belle heaulmière - ensaio sobre a beleza efémera, ensaio sobre a passagem do tempo



Há muitos anos, andava eu ainda na faculdade, houve na Gulbenkian uma exposição da obra de Rodin.

Fiquei fascinada: aquilo que me era dado ver era do domínio do divino, do intocável.

No entanto, para além das obras mais conhecidas, houve uma que me marcou de forma indelével. O nome da escultura era este: Celle qui fut la belle heaulmière e o que se via era uma mulher em cujo corpo se desenhava o declínio.

Fiquei presa àquela figura.

Um corpo em que se espelha a normal devastação da idade é menos belo por isso?

Ou então, fazendo a pergunta em reverso: de que serve a beleza física se ela é efémera?

E de que serve a vaidade fátua quando tudo o que é externo se esvai?


Durante anos esta imagem e o título da obra não me saíram da cabeça e, quando tive oportunidade, fui revê-la. Já a vi duas vezes e o fascínio é sempre o mesmo. Fascínio pela arte de Rodin mas também pelo facto de ele querer esculpir este fantástico corpo de mulher. Fascínio ainda por tudo o que o título da obra encerra.

Foi a pensar nesta obra, e como uma modestíssima homenagem, que ontem atribuí o título ‘o que foi uma sólida parede’ à fotografia que coloquei no Olhares e que mostra a erosão do tempo numa parede do Ginjal.


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