sexta-feira, setembro 05, 2025

Compreender bem o que aconteceu
-- A palavra ao meu marido --

 

A tragédia que aconteceu em Lisboa, no elevador da Glória, é absolutamente chocante e difícil de admitir. Um acidente como este no centro da cidade ultrapassa a perspectiva que temos do que nos pode esperar no quotidiano. É terrível! 

Espero que esta tragédia tenha resultado de uma falha fortuita e imprevisível no sistema. Espero também que o inquérito aponte conclusões para percebermos o que falhou e quais as razões da(s) falha(s). 

Ao ouvir hoje uma parte da conferência de imprensa do presidente da Carris, houve dois aspectos que me chamaram a atenção. 

  • Primeiro, afirmou que os custos de manutenção tinham aumentado 25 por cento, não me lembro se em 3, se em 5 anos, mas só após a pergunta de um jornalista informou que os custos com a manutenção dos elevadores tinham sido os mesmos nos últimos 3 anos (995.000 € por ano). Parece que queria dizer só meia verdade. 
  • Mas o que me suscitou mais dúvidas foi ele ter dito que o concurso para prestação do mesmo serviço para 2025 tinha como valor base 1,2 milhões de euros, e nenhuma empresa tinha apresentado proposta. Quando um concurso fica deserto, geralmente isso significa que nenhuma empresa achou que conseguia fazer o trabalho pelo valor base. E, ainda assim, comparando com o valor que vigorou até agora, estamos a falar de uma diferença para cima, de mais cerca de 20 por cento (mais de 200 mil euros) -- e mesmo por estes valores bem mais altos ninguém apresentou proposta. Face a isso, a Carris vai ter que lançar novo concurso por um valor superior. Admitamos que o valor passará para 1,3 milhões de euros. 

A minha dúvida é: como é que a empresa a que foram adjudicados os trabalhos nos últimos três anos podia prestar um serviço de qualidade, parecendo que o valor que recebia era manifestamente insuficiente. A Carris pagava 995 mil euros, e, de um ano para o outro, o serviço vale mais de 1,2 milhões de euros, provavelmente 1,3 ou mais milhões de euros. Esteve a empresa prestadora do serviço disposta a perder centenas de milhares de euros por ano? Ou, porque o valor não era suficiente, fez algumas economias na prestação do serviço? Gostava de ver esclarecido este ponto.

O Moedas está sempre na televisão a gabar-se do que faz e, especialmente, do que não faz. Devia ter sido homenzinho e ter estado hoje ao lado do presidente da Carris, empresa tutelada pela Câmara, e assumir a responsabilidade política. 

O Marcelo veio dizer que era preciso apurar rapidamente a responsabilidade por esta tragédia. Concordo. O problema é quando se apuram as responsabilidades para nada, ou seja, apesar de conhecidas, ninguém as assume -- e o caso da Saúde tem sido sobejamente paradigmático disso, com a agravante de isso acontecer perante a conivência de Marcelo.

2 comentários:

  1. Os dois elevadores no meu prédio, tiveram de deixar a empresa de cinco décadas, em Lisboa, por falta de modernização da chefia, idade e capacidades. Substituída por jovem empresa da margem sul do Tejo, recurso a materiais de origem chinesa, serviço a 24 horas algumas falhas no geral razoável. Onde fica a empresa contratada pela Carris? Ano de início, Composição da administração com idades formação e experiência dos membros, Recursos humanos nos técnicos da manutenção que formação inicial ou contínua e supervisão da direção, Relatórios das mesmas, arquivados na Empresa e na Carris. Estes elevadores, como os domésticos, estão sujeitos aos perigos dos aviões, podem caír.

    ResponderEliminar
  2. E não é estranho que o trambelho fosse de época, com mais de um século? O de Montmartre é de 1900 e já foi substituído duas vezes. E tinha travagem de emergência? Perguntava um hoje num jornal francês. Lendo o CM parece que o sistema de redundâncias, ou lá como lhe chamam, já teve melhores dias, o que é natural numa obra que data do tempo de El Rei Dom Luís, se não erro.

    Mas não interessa, faz parte do charme da cidade. Em que ano foram construídos os Ferrari do 28? Lembro-me de ouvir um dia a um dos condutores que aquilo estava seguro por fios. Mas cada solavanco, cada guincho é uma risota. Haja boa disposição. Faz parte do nosso encanto, a decadência latina, diria John le Carré. Veja a calçada portuguesa. Já lhe vi o adjectivo de murderous. E é. Tente tirá-la.

    Estas coisas fazem parte do nosso charme como o pastel de nata. O que é preciso é pensar positivo.

    ResponderEliminar