quinta-feira, junho 13, 2024

Então, Caros Comentadores, querem V. dizer que está tudo bem na Saúde em Portugal, nomeadamente no SNS?
Tempos de espera, como os de ontem em alguns locais, de 14 horas para pulseiras amarelas e 20 horas para pulseiras verdes, em V. opinião é do melhor que há?
Haver 25% pessoas, na zona de Lisboa e Vale do Tejo sem médico de família é coisa que não importa para nada?
Haver várias Urgências fechadas ao fim de semana, por vezes, também durante a semana não faz mal nenhum....?
Pergunto.



Não sei se ontem falei em chinês ou se é o facto de ter invocado a ajuda da matemática que assustou os meus Comentadores.

É que eu ontem referi quais as premissas que, em meu entender, devem ser fixadas como objectivo: tempos de espera razoáveis (e não o disparate e a desumanidade que é hoje), haver sempre um Centro de Saúde ou um Hospital num raio razoável (quando hoje ouço que, por estarem Urgências ou Especialidades fechadas, os doentes têm que ir à procura de atendimento a mais de 100 km... (ou seja, objectivos deste género que traduzam uma qualidade de serviço razoável, humana, aceitável)

Isto não é bom?

Ou os meus Caros Comentadores acham que as pessoas podem ser tratadas a pontapé para não arreliar os médicos que não querem que se equacione o problema no seu conjunto?

Quando falei em tempo médio por cada acto médico falei, repito, de uma média. Não faço ideia de quais são os valores médios. 20 minutos era um exemplo. Se for 30 minutos, é 30 minutos. Uma média é uma média e serve para estimar o número de doentes que podem ser atendidos por dia ou por turno. Claro que nuns casos, bastarão 10 ou 15 minutos, noutros casos será necessário 40 ou 50 minutos. Uma média é isso e serve apenas para não se navegar à vista. Não trabalhar com base em métricas é navegar à vista, é ter pessoas horas à espera ou ter vagas que não são aproveitadas.

Eu e o meu marido temos médico de família. Temos porque já o tínhamos. Contudo, mudámos de casa vai para 4 anos e não conseguimos mudar para um Centro de Saúde perto da nossa nova residência. E não conseguimos porque, por estas bandas, não há médicos de família disponíveis. Quando me dirigi a um Centro, com a documentação, riram-se da minha ingenuidade, perguntando-me se não sabia que tinha muitos milhares de pessoas à minha frente.

No Centro de Saúde que frequento, longe de casa, quando quero marcar uma consulta, só arranjo vaga para três ou quatro meses depois. Na última vez, a funcionária disse-me que tenho sorte pois há médicos que no mínimo têm seis meses de espera. Já por duas vezes, uma eu e outra o meu marido, precisámos de esclarecer uma situação com o médico de família, no caso do meu marido porque a medicação estava a dar para o torto e, no meu, porque estava com uma situação cuja medicação não estava a resultar. Das duas vezes tentámos falar com o médico, enviar mail, telefonar. Nada. Impossível. Incontactável em absoluto. A solução era ir muito cedo, não sei a que horas mas disseram-nos as funcionárias que às oito da manhã já está lá muita gente e nem todos conseguem vaga, para tentar uma consulta de urgência. Uma coisa terceiro-mundista que obriga as pessoas a faltarem ao trabalho, a não dormir, a ter que estar um dia inteiro para uma consulta de 10 minutos. Por isso, das duas vezes recorremos aos Privados.

É isto que os meus Caros Comentadores acham uma maravilha, não carecendo de estudo para determinar qual a solução optimizada que garanta objectivos de bom atendimento?

E a ineficácia...? Coisas simples que poderiam ser resolvidas com uma perna às costas por quem sabe gerir. Dou um exemplo muito recente passado comigo.

Eu e o meu marido tomámos a 1ª dose da vacina contra a pneumonia, salvo erro em Dezembro. Teríamos que levar uma 2ª dose em Junho e, preventivamente, marcámos logo a toma das duas doses. 

Esta vacina é paga pelos utentes, embora seja um medicamento comparticipado. Quando o médico de família prescreveu as vacinas, pensávamos que prescreveria logo as 2 doses. Mas não. Só prescreveu a 1ª dose.

Em Março quando fomos a uma consulta, pedimos que prescrevesse a 2ª dose. Ele assim o fez. A mim prescreveu em nome de outra pessoa mas, como só dei por isso em casa, marimbei-me. Estas vacinas têm que ser guardadas no frigorífico. Como não sabemos a validade delas, por precaução, fomos comprá-las de véspera. Contudo, quando fui aviar as receitas, eis que o farmacêutico me diz que a receita já não estava válida. Apesar de saber que a vacina era para Junho, o médico enganou-se e só pôs validade de 1 mês. A receita deixou de ser válida em Abril. Tentámos, então, falar para o Centro de Saúde para pedir que o médico alterasse a receita ou, na impossibilidade em tempo útil, para desmarcar a toma da vacina. Depois de se ter ligado várias vezes ao longo do dia, sem sucesso, só ao início da noite nos devolveram a chamada. Ficaram de falar com outro médico, pois o nosso não está lá (o que parece ser frequente), a senhora que nos ligou disse que ia tentar que outro médico passasse novas receitas. Mas isso levaria na melhor das hipóteses 3 dias úteis pelo que tivemos que remarcar a toma da vacina.

Numa clínica ou hospital privado, se queremos contactar com o médico, temos como. Além disso, de véspera recebemos sempre uma mensagem a lembrar a marcação do dia seguinte e, se formos, respondemos SIM, se não pudermos ir, respondemos que Não. E automaticamente o sistema de marcações é alterado e quem ligue a pedir uma marcação já poderá contar com a vaga surgida em caso de alguém responder Não. Tudo automatizado, tudo simples, imediato, tentando que não fiquem vagas por preencher.

No SNS quem faltar, se quiser avisar, acontece o que referi: um dia inteiro a fazer chamadas e depois a vaga ficando lá pendurada, por preencher. Por isso, com esta falta de optimização, só se arranjam consultas para muitos meses depois.

Mas a situação da falta de médicos e enfermeiros é grave não apenas no SNS. E isto é grave sobretudo para os doentes. Podem os grandes defensores de que quem deve resolver o problema da falta de recursos (físicos e humanos) na Saúde devem ser os médicos, de preferência os que detestam a matemática, achar que se os Privados estiverem também com falta de pessoal clínico, azar o deles.

Errado. Azar o nosso, os dos utentes.

Quando alguém precisa de ir a uma Urgência e não a encontra no SNS, deslocando-se a um hospital privado e dá de caras com a Urgência também fechada (e já está a acontecer), não é bom para ninguém, em especial para quem precisa de apoio clínico urgente.

Portanto, não seria mais humano, mais eficiente, mais razoável se uma pessoa fosse ao Portal da Saúde ou ligasse para o 112 ou para a Saúde 24 e, face à patologia, recebesse indicação do local onde deveria dirigir-se (garantindo tempos de espera baixos, local na proximidade e custo zero)?

Note-se que quando digo custo zero, refiro-me ao utente. Obviamente há sempre um custo para o Estado, seja a pessoa atendida no SNS ou num Privado.

E ontem também expliquei que, em modelos deste tipo, que optimizam os factores em jogo, se o custo num privado for mais elevado que no SNS, a pessoa só em último caso é dirigida para o Privado.

E depois há uma coisa extraordinária. Quem defende cegamente, como os meus Comentadores, o recursos exclusivo aos hospitais e Centros de Saúde públicos, faz ideia de quais os custos para o Estado? E acham que o dinheiro cai do céu? Não sabem que sai do bolso dos contribuintes (os que pagam impostos, pois, como sabemos o que não falta é quem não os pague ou pague menos do que devia)?

O facto de ainda não se ter percebido que os médicos devem tratar dos doentes, mas que quem deve gerir os sistemas de Saúde e os Hospitais devem ser pessoas com valências de gestão, tem conduzido aos problemas que parecem insanáveis na Saúde (como os que referi).

Devo ainda dizer que a fobia ao trabalho prestado por entidades privadas não tem razão de ser. Um dos hospitais que foi considerado um exemplo de excelência a nível de qualidade de serviço prestado foi o Hospital de Braga na altura em que era gerido por um grupo privado, numa das PPPs. Devo ainda dizer que as PPPs foram excelentes para os doentes, óptimas para o Estado e más para os Privados pois, estrangulados pelo Estado, perderam dinheiro e agora, naturalmente, recusam-se a voltar a gerir Hospitais Públicos.

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Se percebi mal o que disseram e quiserem concretizar, ou avançar com sugestões sobre como equacionar os problemas no seu conjunto, tentando identificar as melhores respostas a dar para que as pessoas não sejam tratadas de forma desumana e terceiro-mundista, agradeço.

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Do que escrevi e do que aqui, há anos, venho dizendo, acho que é muito claro que sou firmemente defensora do SNS. Por isso é que gostava de vê-lo robusto, eficiente, reconhecido.

Defendê-lo acefalamente ou só porque sim sem querer admitir falhas ou oportunidades de melhoria é condená-lo. Isso eu não quero fazer. Quero que melhore, que a ninguém passe pela cabeça destrui-lo.

7 comentários:

  1. Matemática, física, economia,.. Ajuda e muito. Bom caminho para eliminar muitas sinalefas do FB e afins.

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  2. Se assustou os comentadores com a matemática, não sei, gente da área da matemática e afins, não. Antes pelo contrário, creio eu

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  3. Sobre o SNS tenho uma opinião madura mente formada, com saber de experiência feito. Só posso elogiar elogiar o SNS, que tal como o original SNS inglês, que o 25 de Abril permitir criar para o sofrido povo português, após tantas amarguras e sofrimentos. O povo inglês da altura soube apreciar. Penso não restarem dúvidas quanto à escolha. Quanto à psicologia dos médicos e profissões conexas, tal como à teoria do capital, é outra conversa. Todo o professor que se preze, admite o princípio da incerteza e, portanto, uma certa margem de erro. Agradecido, mas não submisso a todos os princípios ou opiniões-ou lá o que isso é, pelo(S) desenvolvimento do tema SNS entre outros. Bom Santo António,
    e cuidado com os falsos beatos, em boa linguagem diplomática.

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  4. Cara UJM:
    Para poupar caracteres vou escrever por pontos:
    1- Fiz-me entender mal, peço desculpa. Falta-me a cadeira de educação emocional que não tive, nem os meus colegas de agora têm, na Faculdade de Medicina;
    2- A primeira coisa a fazer é aumentar a literacia em saúde do povo;
    3- A medicina é uma arte e não um meio ganancioso de ganhar dinheiro; quem o quiser, muito a rodos, que treine enquanto jovem para futebolista;
    4- Não é possível um centro de saúde ou um hospital ao pé da porta;
    5- A míngua dos recursos humanos na saúde, principalmente médicos, deve-se ao corporativismo dos mesmos que com a barreira de entrada nas faculdades de medicina, só olham para o seu umbigo: menos oferta, igual ou mais procura= aumento do preço. (Aqui está a economia ). Temos por isso uma das mais caras saúde privada do mundo.
    6- Mesmo os algoritmos matemáticos da triagem de Manchester, fazem morrer com pulseira verde, enfartes do miocárdio, tromboses do seio cavernoso ou ruturas de aneurismas de cerebral média;
    7- Não é preciso gestores a saber matemática pelos poros, mas sim líderes. São raros e gestores como a atual ministra da saúde há aos pacotes ou paletes.
    8- Não é verdade que a PPP de Braga era o sétimo céu. Conheço pessoalmente e tenho colegas que trabalharam nesse tempo. Era bom para o privado que ficava com os lucros e a rapaziada com as despesas.
    9-Lembram-se da informática que ia ser o aí Jesus da organização da medicina 3.0? Pois, não há opção B e quando falha o sistema (a nível hospitalar e quase toda a hora), não há possibilidade de fazer nada. Em vez de ser uma ajuda, tornou-se o epicentro do problema.
    10- A matemática é importante pois uso até na cozinha. Mas há pratos que ficam feios e a malta come também com os olhos.
    Obs: Agora com a prevenar 20 é só uma dose para toda a vida.
    Um muito obrigado e desculpe.
    Américo Costa

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  5. Eduardo Cabrita em entrevista ao "Publico" e sobre a migração diz:

    A partir de 2015, o número de estrangeiros começou a subir. Em 2021, eram já cerca de 700 mil. Portanto, os últimos dados, que são de 23, falam de 1 milhão e 400 mil".

    Aqui está um dado muito importante (muito pouco falado, e tomado em consideração) que aumentou substancialmente a resposta que o SNS foi obrigado a dar a um milhão e meio de migrantes que cá querem trabalhar, para além dos turistas que tenham necessidade de cuidados médicos no SNS, e depois, juntar a estes números, os Portugueses residentes e os Emigrantes Portugueses que em férias estão no seu país…

    É evidente que, por mais aumentos de profissionais e dinheiro no SNS, é difícil resistir a picos de procura nos serviços públicos de saúde quando as estruturas estavam dimensionadas para números bastante inferiores.

    Quanto ao modo de gerir o SNS, não sei. E parece que é difícil a resposta, porque a ser fácil, já a tinham encontrado. Se a tese dos médicos, é a de que, a gestão, tem que ser feita por profissionais da saúde dada a especificidade da atividade hospitalar, então, o porquê de muita gestão hospitalar por este país fora feita por médicos não se obteve resultados suficientes para continuar com essa gestão?

    Por outro lado, parece que a frieza na racionalidade de um gestor do privado, obrigado naturalmente a uma gestão lucrativa para a sua empresa como é evidente que é obrigado\a a fazer, é vista pelos profissionais de saúde como impessoal, e até certo ponto mercantilista como um negócio na saúde.

    Onde está a terceira via para este enredo de filosofia de gestão da coisa publica que se chama SNS?
    Pois, parece que era verde, apareceu um burro, e comeu-a.

    A gestão no privado é simples: ou tens dinheiro e pagas á cabeça uma operação duas ou três horas antes de a fazer como me aconteceu, ou ficas na valeta torcido de dores até alguma alma caridosa pegar ao colo e SNS com ele, porque lá, nos SNS, atendem toda a gente seja branco, preto, amarelo, ou arco-íris. Né?!

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  6. E por falar de hospitais e médicos. Vamos lá alegrarmo-nos com o Grande Zé Maria Nicolau, com uma agradável " malha cabanal":

    https://www.youtube.com/watch?v=nA5_SU8BEDc&list=RDnA5_SU8BEDc&start_radio=1

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  7. UJM: Tenho assistido na assembleia da república a um deputado da AD, (que até está calado),de seu nome Miguel Guimarães ex bastonário da ordem dos médicos,que no tempo da ministra Marta Temido, a acusava de incompete e que fazia una guerra com a construção do hospital das crianças Joãozinho, este eleito da AD pelo Porto de repente perdeu a sabedoria que tinha na saúde.Quanto á APP do hospital Braga, este envia os doentes urgentes e para os S.João.

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