segunda-feira, fevereiro 20, 2023

Um domingo in heaven.
E conhecemos pelo menos um dos novos vizinhos. Se calhar, dois...



Fomos passar o dia ao campo, coisa breve. Com tanto pinheiro não queremos arriscar outro acidente com as infernais lagartas. Tinha visto que o cozido era prato de dia e resolvemos ir comprá-lo ao restaurante onde às vezes nos abastecemos. O restaurante a abarrotar, gente cá fora, gente lá dentro. Deve haver muita gente a sofrer com a subida do custo de vida e dos juros nos empréstimos mas a verdade é que o trânsito anda que não se aguenta, os restaurantes deitam por fora, as lojas a bombar. E se uma criança faz anos há toda a espécie de cenas com os parques temáticos cheios, apesar do que custam. Não sei. À vista a desarmada diria que a economia está a bombar que é um regalo.

Primeiro que conseguisse chegar ao balcão para fazer o pedido, quase tive que esbracejar tão compacta a amálgama de gente em que tive que penetrar. Quando estava à espera, uma chamada do meu marido: que trouxesse também pão. Perguntei ao senhor que fez um ar desolado. Pode comprar-se tudo menos pão, não há pão para take away. Percebe-se. Mas também devo ter feito um ar tão desanimado que, passado um bocado, quase à socapa, o senhor veio com um pacotinho de papel. 'Foi o que consegui arranjar'. Ao pegar, percebi que era um carcaça. Passado um bocado, o saco com as duas caixas. Estava com vontade de pedir uma sobremesa mas no meio de um incrível reboliço, o senhor, na maior das eficiências, tirou o talão e não estava lá o pãozinho. Disse-lhe e ele encolheu os ombros: 'Deixe lá isso'. Agradeci. E não quis passar pela mesma vergonha de parecer que estava a mendigar uma sobremesa.

Uma dose chegou para os dois e ainda sobrou um bocadinho. Portanto ainda tenho mais um refeição e um pouco de outra no frigorífico.

Para sobremesa apanhei uma laranja.

Quando chegámos, depois de abrirmos as janelas e pormos a casa a arejar, fomos passear por lá. Eu fotografando, aspirando os perfumes de uma primavera que começa a avizinhar-se, o cão brincando (embora pela trela), o meu marido inspeccionando potenciais processionárias.

Estando lá em baixo, reparámos que o novo vizinho cuja propriedade tem, em parte, um dos lados adjacente a uma parte do nosso, uma parte separada por uma vedação de rede, estava a serrar uns troncos. Contudo, ao ver-nos, veio na nossa direcção. Mas veio ele e os três cães gigantes. O nosso, como é óbvio, ficou num desatino, ladrava e saltava como se estivesse possuído. Ou seja, mal nos ouvíamos. Ele chegou-se à rede do lado dele e eu aproximei-me do nosso lado, enquanto o meu marido tentava controlar o urso frenético.

Resumindo: o senhor, de tshirt (enquanto nós estávamos encasacados), apresentou-se, colocou-se ao dispor. Nós também. Trocámos contactos. Depois enviou um mensagem muito amável.

Quando cheguei a casa googlei. E fiquei a saber que é pessoa com uma considerável pegada digital, com um historial de vida que tem que se lhe diga. No carro, de volta, vim a ver uma entrevista sua e vi também a sua biografia na wikipedia. Uma personagem. Comentámos: 'olha, pelo menos, acho que estaremos bem guardados'.

Depois do casal anónimo e ultra discreto, temos agora um vizinho que é o oposto.

Quando ao fim da tarde vínhamos a sair de casa, no carro, cruzámo-nos com um jovem, muito alto, magro, muito louro. Vinha a praticar corrida, com o seu cão ao lado. Nunca o tínhamos visto. Lembrei-me que há uns meses recebemos um contacto no sentido de sabermos se estávamos interessados em adquirir um terreno que, numa parte, também é adjacente ao nosso. Parece que nos terrenos rústicos, antes de se vender um terreno, devem questionar-se os vizinhos pois, a quererem, terão primazia. Em tempos, de facto, tínhamos pensado nisso mas entretanto percebemos que ter um terreno rústico bem cuidado dá trabalho e custa dinheiro. Informaram-nos então que, nesse caso, o terreno seria vendido a um jovem, salvo erro finlandês, que dizia ir dedicar-se a agricultura biológica. Não sei se será aquele rapaz mas talvez seja.

E assim a envolvente vai evoluindo, vizinhos novos com hábitos também certamente novos. 

Mas, dentro do nosso espaço, a paz é a mesma. Há outra vez muitas pinhas roídas e isso vê-se onde antes não se via. Ou seja, já andam em vários locais. Estão, pois, a aventurar-se. Não tarda teremos esquilos por todo o lado. Adoro a ideia.

Voltaram também a ver-se aquelas pegadas grandes e fundas e o terreno lavrado. Voz entendida, há algum tempo, disse que era javali. As pegadas apareciam sempre no mesmo sítio. Qualquer coisa os bichos procuram ali. Penso sempre: se calhar, trufas. Mas agora apareceram também num outro sítio. 

E vi rolas, várias. Não é inédito. Mas desta vez eram mais, muitas.

Penso sempre em como será quando lá não estamos. Deve ser um paraíso absoluto para a bicharada. Tenho muita vontade de que passe a época das bandidas das lagartas para podermos passar lá mais tempo. Agora já podemos.

De volta, um dissabor: a casa dos gelados continua fechada. Nunca mais abre. Como é possível? A falta que um gelado me faz nestas noites de inverno.

Tirando isso, está tudo bem.

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Desejo-vos uma boa semana, a começar já nesta segunda-feira

Saúde. Alegria, Paz.

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