quarta-feira, janeiro 22, 2020

Luanda Leaks: hacking legal, é isso?


Nisto tudo, independentemente do mérito da investigação e do que venha a resultar daqui, ocorrem-me algumas dúvidas: 
  • Como foi mesmo que obtiveram todos aqueles milhares de documentos? Será que foi da mesma maneira que o Rui Pinto obteve os documentos do Benfica? Daquela tal maneira que faz com que esteja preso? Ou há modalidades legais mesmo que sem consentimento do proprietários da informação? Pergunto.
  • E mais: a SIC participou da investigação, não foi? Como? Quem? Se calhar já explicaram isso, eu é que, na volta, não li ou não ouvi. Mas estou curiosa. A palavra de ordem não é transparência? Então vamos todos ser transparentes...? 
  • Outra questão: ouvi bem quando alguém falou nos serviços secretos de Angola metidos nisto? Ou não ouvi?
E uma observação. Uma observaçãozinha mais. Coisa de nada: é que me parece que este assunto não é para meninos. Nem para virgens. Nem para santinhos. Este assunto, cá para mim, é dos cabeludos. Diria mesmo: dos perigosos. Cuidado com o que se está a passar. Mas, claro, isto sou eu a pensar. Coisa de intuição. Provavelmente é o tal sexto sentido, coisa de mulheres. Só isso.

5 comentários:

Paulo B disse...

Bem...
Se agora considerarmos que o jornalismo se deve limitar a produzir notícias com base em fontes com informação obtida de forma legal estamos a matar o jornalismo definitivamente.

Ao jornalista cabe reportar as informações a que tem acesso, enquadrando e contextualizando a origem de tais informações (ou seja a natureza das suas fontes).
O julgamento político e legal ocorrerá nas instâncias respetivas. Se assim não fosse, não saberíamos nada de casos como o Watergate, as atividades introsivas das agências de informação governativas, dos casos de pedofilia na igreja, etc etc.
Alguém roubou documentos de organizações privadas e disponibilizou-os a jornalistas para os analisarem? Muito bem. Que se produzam as notícias com o que é possível dali relacionar. Que se debata, que se exija saber mais, que se refute e aponte as debilidades das informações reportadas. Mas... Atacar a natureza das fontes? Parece-me o alvo errado!

Ps: claro que sei que os riscos destes processos serem manipulados e deturpados é real, mas isso resolve-se com mais jornalismo e debate. Não com menos. Até porque aumentar as restrições ao jornalismo só criará mais espaço para os.cada vez maiores meios de desinformação (como se viu no caso do Giovanni, e da ideia que se instalou que o crime tinha sido perpretado por ciganos...).

Ps: se queremos restringir alguma coisa que seja a propriedade dos meios de comunicação social. Fará sentido meios de comunicação detidos por grandes conglomerados empresariais, especialmente detendo uma posição destacada no panorama da comunicação social (sim... A TVI está a ser integrada no grupo da CMTV... Sim a SIC / empresa tem vindo a ser cada vez mais controlada pelos envagelicos brasileiros... Etc etc)?

Ps2: sim, os Panamá papers mostraram a faceta negra do "jornalismo", com os meios de comunicação a reportarem apenas informação parcial (de natureza política). Quando se soube que haveria um escândalo dentro da própria comunicação social (vários jornalistas com avenças pagas via offshore por parte dos grandes conglomerados envolvidos nos alegados esquemas de fuga ao pagamento de impostos) eis que se instalou uma cortina de silêncio e alguns proeminentes jornalistas foram saneados ou meio que silenciadoos (vide o caso do Pedro Santos guerreiro no expresso...)

Um abraço,

Um Jeito Manso disse...

Olá Paulo,

Percebo o que diz e agradeço que o tenha escrito. Gosto sempre de ler a sua opinião.

Mas cá para mim este caso não é bem assim. Acredita que foram os jornalistas que se armaram em hackers e que, ao longo de dias e dias, meses e meses, estiveram dentro das redes e dos computadores a pesquisar e a 'sacar' documentos que lhes pareceram suspeitos...? Acredita nisso? Eu não.

De qualquer forma, não retiro mérito ao que venha a resultar daqui nem ataco as fontes (e, já agora: quais fontes?).

Pode ser que venha a fazer-se justiça, seja em que sentido for. Mas, para já, o que tenho ouvido e lido são alguns (poucos) documentos quando, ao que se lê, dispõem de 750.000.

Ou seja, tal como escrevi no post, acho que isto a que estamos a assistir é mais do que parece. Tem muitas vertentes. Não devemos olhar apenas para a face que nos estão a mostrar.

Apetece-me dizer que devemos estar atentos ao que se está a passar mas, acredito, vamos apenas saber de uma pequena parte: a que querem que vejamos.

Uma boa quinta-feira, Paulo!

Paulo B disse...

Olá UJM,

Percebo o que quer dizer. Sim, estas coisas / denúncias ocorrem com segundas intenções. Aliás eu diria que é praticamente sempre assim.
Na maior parte dos casos, os jornalistas são meros peões num jogo maior (veja-se o escândalo provocado pelos dados vazados pelo snowden... Mas também é interessante perceber isso no contexto geopolítico... porque raio só encontrou "abrigo" na Rússia?) .
E registe-se que sou contra a que os jornalistas realizem práticas ilegais para obter informações.
Nestes casos com certeza que não foram os jornalistas a entrar nos sistemas informáticos. Na verdade, do que é público, esse consórcio de jornalismo providenciam é uma plataforma informática para que quem possui informações / dados com eventual relevância jornalística os disponibilize para investigação jornalística com garantias totais de anonimato.

Abraço!

Um Jeito Manso disse...

Olá Paulo,

A Isabel dos Santos é cidadã angolana e russa e, portanto, pode acontecer que ela vá viver para a Rússia ficando, pois, melhor defendida.

Quanto ao resto, não estou certa de que aquilo por que se está a passar seja uma luta de Angola contra a corrupção mas, provavelmente, uma vingança e um ajuste de contas por parte de quem tem contas não pode com ela ou a teme. E isto também para dizer que me faz muita impressão a reacção da PwC e da BCG e dos media e dos comentadores que, de repente, parece que descobriram a encarnação do mal.

De toda esta história, a maior parte é subterrânea pelo que não vale a pena muito foguetório com o pouco que se sabe.

Abraço, Paulo.

Paulo B disse...

Olá UJM,

Concordo. Só reagi mesmo à questão do trabalho jornalístico.
Acho-o necessário. Claro que haverá erros e claro que será manipulado. São meros peões. Mas sempre foi assim e ainda mais o é hoje. Ainda assim, acho que o jornalismo é necessário.

A questão concreta de Isabel dos Santos e de Angola... fico com essa opinião para mim. Mas compreendo o que diz das ondas de choque e das coisas estranhas que poderão acontecer.. a procissão ainda vai no adro.

Ps: sobre o jornalismo, ainda na semana passada vi o filme Mr Jones - a verdade da mentira. Não sendo um grande filme, retrata bem o papel do jornalismo como peão num jogo mais global mas ainda assim necessário. Independentemente desse jogo, ao menos Holodomor é qualquer coisa que hoje não podemos deixar de discutir.

Boa sexta-feira!