quinta-feira, janeiro 30, 2020

E para a devolução da Joacine e das obras de arte não vai nada, nada, nada? Nada.
E para o Abel que gosta de nazis e que chama agiota de judeus ao Aristides também não vai nada, nada, nada? Nada.
E para as notícias todas que para aí andam também não vai nada, nada, nada? Nada.

Eu hoje é mais Rosalia, juro que. E Tim Bernardes, recomeçar.
E Espanca pela voz de Marília



Ouço as notícias e, frequentemente, acho que é espuma e/ou treta. Repetem-se uns aos outros, vão atrás da conversa uns dos outros. Não param para pensar. Não acrescentam, não esclarecem, não raciocinam, não estimulam o pensamento de quem os ouve.

Ainda por cima, os jornalistas portugueses têm agora uma mania que detesto: para que a notícia chame a atenção, histrionizam a locução. Parece que estão a fazer grandes revelações, parece que há drama no ar. Outras vezes há suspense na voz, parece que nem a gente imagina o que está para aí vir. Só falta acabarem a notícia com um cúmplice: 'Se é que me estão a entender...'. Outras vezes fazem cara de e voz de maus e há censura e repreensão por detrás do que estão a noticiar, só falta acabarem a notícia a cuspir para o chão.  

Tenho ideia que tudo começou com o José Rodrigues dos Santos. Empolgava-se todo. Gostou de se ver, os outros acharam que toda a gente gostava de o ver. Passaram em ensaiar ao espelho até ficarem parecidos com ele. Virou moda.


E vão carregando na dose. Ele mesmo vai evoluindo no sentido da total teatralização. Volta e meia está de pé, agitado, aponta para o ecrã onde tudo se passa, abre as mãos, faz pausas logo seguidas de empolamentos, e a gente teme que venha aí um míssil, que a guerra desta vez seja ali, em cima da cabeça dele. No fim, remata com um piscar de olho como que a dizer: 'Lá vos enganei outra vez, seus totós. Certo...?'   

Virou um estilo. De uma forma ou de outra, todos querem seguir-lhes as pisadas. A Cristina Esteves, por exemplo, está quase lá. Só lhe falta que em vez de lhe tremelicar a beicinha, lhe pisque a vista.

Na TSF é o mesmo. De cada vez que é hora certa ou meia hora, em vez de sair um cuco, sai uma voz ansiosa, aflita, anunciando grande bernarda.

Cansa-me isso.

O excesso de emoção e, ainda por cima, emoção a despropósito, cansa-me. As notícias querem-se rigorosas, neutras, fundamentadas, ditas sem estados de alma. Nada de fogo de artifício, nada de cheerleaders a anunciar a gripe das galinhas, das cobras, dos morcegos, e a Joacine e o André Ventura e se a mandamos de volta e se isso é por ela não ser loura ou por gaguejar ou por ser diva, e o Livre e as obras de arte de volta para a terra delas e mais uma chusma de comentadores e, pelo meio, a futura candidata a presidente-justiceira, gémea separada à nascença da amiga Júlia, a espumar ajustes de contas pelas ventas seja contra submarinos, lavandarias & orelhas, Isabéis e família, e, uma vez mais, mil comentadores, mil papagaiadas, mil estalinhos de carnaval, e mais a Joana Amaral Dias e mais meia dúzia de senhoras a manifestarem-se à porta não sei de onde a quererem canonizar o Rui Pinto, esse grande herói...  e patati-patatá, patati-patatá.


Portanto, embora esteja aqui com mais uma atravessada para dizer (e que tem a ver com as razões que me levam a pensar que é bom para o Rui Pinto, esse grande artista dos discos piratas, que se mantenha preso), fecho a porta das minhas ideias, corro as cortinas, e, ansiando por estar na boa e esquecer a onda de resíduos com que a comunicação social tenta submergir-nos, desloco-me até ao cantinho das novidades e das antiguidades e ponho-me a ouvir música. Ao menos isso. A música é uma coisa boa. A pintura também. E a fotografia. E a poesia. A arte em geral. Faz bem, lava-nos as células, deixa-nos limpinhos e prontos para só gostar de coisas boas.


Que entrem, pois, a Rosalia e o Tim Bernardes que Laurence Kubski já entrou trazendo as suas fotografias.






E as palavras ditas. Gosto de ouvir palavras ditas, em especial quanto bem ditas.
Benditas palavras.



Chego ao fim e tenho consciência que nada disto tem muita coesão entre si mas é assim a vida, cheia de desencontros, de encontros inexplicáveis, de acasos, de traços de luz que vêm de longe para se cruzar para logo se desencontrarem. Música, palavras, imagens, coisas que aparecem porque sim, instantes bons, hiatos, coisas de nada.

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7 comentários:

  1. Hahahahaha.

    Não tinha visto este post ainda e tinha acabado de reclamar ali em baixo pela falta da Rosalía. Sim senhor. Assim sim. Deixei lá em baixo o vídeo da performance nos Grammys. Apresenta essa música nova (um regresso às raízes flamengas? Espero que sim que andava a fugir demasiado na direção da world pop...).

    O Tim Bernardes é um interessante fazedor de canções (trabalha para muitos outros músicos), e até acho alguma piada ao seu projeto banda (o terno). Está versão a solo... Bem, pode ter sido do dia (não estava no mood e além disso sozinho não ajuda em coisas destas a atirar para o meloso) mas foi muito sonecas e longo. Passei pelas brasas! ;)
    Conhece o Liniker? https://youtu.be/4WdTMSRd6a8

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  2. Olá Paulo

    Pois não conhecia, não... Mas já estou a ouvir. Tem pinta, o fulano. E é uma boa sonoridade. Acho que vou gostar. Embora a voz dele parece que tem falta de um pouco de corpo ou de luz, nem sei. Mas se calhar é o tal do sono que me anda a apagar as velas...

    Vou dormir que já não dou uma para a caixa.

    Abraço, Paulo! E é bom revê-lo.

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  3. O terno: https://youtu.be/LlDC361onUs

    (E videoclipe divertido!)

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  4. Sim, falta ali qualquer coisa. Mas essa performance e música não é das melhores. Mas hoje também já não vou procurar outra.

    Sempre um prazer regressar!

    Abraço!

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  5. Deixei de acordar com a TSF precisamente porque parecia que a catástrofe era diária e cada vez mais catastrófica.
    Subscrevo o seu post.

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  6. Olá Paulo,

    Tem piada o vídeo do Terno e tem piada a música. Mas ou falta grão ou falta luz à voz dele -- digo eu. No entanto, capaz de isto ser exigência boba da minha parte pois uma coisa parece certa, o valor dele.

    Thanks, Paulo. E uma bela sexta-feira!

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  7. Olá Sofia,

    Obrigada pelo seu comentário. Sou sua leitora assídua e concordo sempre (quando é caso disso) ou gosto (quando é de gostar) do que escreve. Nem sei como fui parar até si mas a sua forma clara quer de expor argumentos, quer de se exprimir mais poeticamente agradam-me sempre.

    Quanto à TSF, em que a gente quase tem vontade de cobrir a cabeça não vá um míssil estar a vir na nossa direcção, tem, apesar de tudo, coisas boas. Por exemplo, os Sinais do Fernando Alves é sempre uma agradável surpresa. Aquele programa 'Uma questão de ADN' também costuma ser bom. Mas, lá está, o Fernando Alves e a Teresa Dias Mendes já quase parecem excepções: tranquilos, a respeitarem os silêncios, sem procurarem os efeitos fáceis.

    E uma boa sexta-feira, Sofia.

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