quarta-feira, fevereiro 20, 2019

Lagerfeld






Não sou dada a obituários, epitáfios ou adágios. Dito assim até parece tolice pois a beleza estética pode sobrepor-se ao sofrimento que, supostamente, lhes esteve subjacente e eu, escusaria de me repetir, prezo bastante a estética da beleza. Mas a verdade é que prefiro celebrar a vida a entregar-me a despedidas. 


Mas tantas vezes Lagerfeld aqui me fez companhia, tantas vezes o seu traço se estampou nas peças Chanel que aqui trouxe que hoje não poderia deixar de o ter aqui comigo. Há pessoas cuja obra transcende a sua própria vida e Karl Lagerfeld com os seus pecadilhos (como, por exemplo, o da fuga ao fisco), sendo ele mesmo um personagem icónico (aka Logofeld), deixou uma obra tão magnífica que lhe sobreviverá por muitos e bons anos.


Não foi só a moda -- mas, a moda, senhores, que imensas, belíssimas, intemporárias e diversas peças ele concebeu!

Mas foi também a fotografia. Um equilíbrio sempre tão perfeito entre a subtileza e a sensualidade, entre o claro e o escuro, entre o clássico e o contemporâneo.


E as suas histórias, vídeos criados e realizados por ele. A fantasia e a elegância suspensas no tempo.


E as suas casas. Obras de arte. O apartamento de Paris, a maravilhosa casa de Hamburgo rodeada de verde.

Olha-se e pensa-se: que exagero. Mas é um exagero tão elegante, tão bonito.


E os livros. Milhares de livros. Li: trezentos mil livros. Duas bibliotecas imensas. Vi fotografias: uma loucura. Lagerfeld dizia que apenas tinha um vício: o dos livros. Sucumbia ao vício dos livros. Dizia que um dos melhores perfumes é o de livros acabados de fazer.


Era também dono da 7L, uma livraria em Paris, e de uma editora dedicadas à arquitectura, à fotografia, à arte em geral.

Mas a moda... Fosse couture, haute couture, fosse streetwear, fosse quase prêt-a-porter, todas as suas criações resultavam sempre perfeitas, sempre fascinantes. 


E os seus desfiles! Sempre um acontecimento, sempre uma total surpresa. Um criativo absoluto. Tendo sabido manter o classicismo, a irreverência e o look de mulher independente, Lagerfeld conseguiu aliar a matriz original da fundadora, Coco Chanel, ao permanente devir do air du temps. 

Como bem é sabido por todos quantos por aqui me acompanham, sou grande admiradora dos produtos Chanel. Posso não ter poder de compra para poder fazer o gosto ao dedo mas olhar e admirar não custa dinheiro.


Mas Lagerfeld era também um homem que se impunha pela indiferença à opinião alheia sobre si próprio, alguém que, depois de perder o amor da sua vida, se habituou à vida a sós com a sua muito amada Choupette.


A fama da sua língua afiada vinha de longe e há inúmeras frases que lhe são atribuídas. Escolhi algumas para aqui colocar mas há dezenas, algumas bem divertidas.

Ser feliz?
Não, não sou tão ambicioso.

Gosto de saber, saber tudo. Estar informado.
Sou uma espécie de porteira universal, não um intelectual.

A juventude é um clube em que todos os membros serão excluídos,
um dia ou outro

A personalidade começa onde acaba a comparação

Mort de Karl Lagerfeld : icône pop et planétaire



Forever

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