quinta-feira, setembro 25, 2014

John Malkovich, my man, my crazy, crazy man [Malkovich, Malkovich, Malkovich: Homage to photographic masters, por Sandro Miller - ao som de 'I'm your man' de Leonard Cohen]


No post abaixo fiz o contraponto entre o Passos Coelho de agora (moralista, justiceiro, castigador) e o Passos Coelho (que me abstenho de classificar para não poluir o ambiente deste post aqui) do tempo da ONG criada para arranjar negócio para a Tecnoforma. O tema das histórias é o mesmo, agora e nessa altura: aproveitar fundos europeus. 

Quando se tem uma cara de pau e a sorte de ter uma voz bem colocada e convincente, pode num dia dizer-se uma coisa e noutro fazer o contrário - e a coisa vai passando sem grande estrilho. 

Mas, quando se pára para pensar, não dá como não constatar que, com tantas as piruetas éticas, é caso para dizermos: bem prega frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz. Muita lábia, muito descaramento. Uma coisa que se torna insuportável, especialmente quando se colocam histórias de antes ao pé de histórias de agora. Ou quando se vêem vídeos antológicos.


Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra. Completamente outra.


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Cante, Mr. Cohen, cante, por favor e diga-me: I'm your man

(... enquanto eu penso em John Malkovich)






Sandro Miller, Diane Arbus / Identical Twins, Roselle, New Jersey (1967), 2014



Se quiseres um par de gémeas,
eu farei tudo o que me pedires
E se tu quiseres outro tipo de amor,
usarei uma máscara ou uma boina para ti


Sandro Miller, Alberto Korda / Che Guevara (1960), 2014



Se quiseres um camarada, toma a minha mão
Ou, se me quiseres agredir com fúria,
aqui me tens.
Eu sou o teu homem


Sandro Miller, Yousuf Karsh / Ernest Hemingway (1957), 2014



Se quiseres um boxer
eu irei para o ringue para te fazer a vontade
E, se quiseres um médico,
eu examinarei cada bocadinho teu


Sandro Miller, Annie Leibovitz / John Lennon and Yoko Ono (1980), 2014



Se quiseres um chauffeur, entra
Ou, se quiseres levar-me a passear,
sabes que podes.
Eu sou o teu homem


Sandro Miller, Gordon Parks / American Gothic, Washington, D.C. (1942), 2014



Ah, a lua está tão brilhante
e o chão tão sujo
e tem que ser varrido e esfregado
e eu tenho feito tantas promessas
tantas, tantas e que nunca consegui cumprir
Mas um homem nunca teve a sua mulher de volta
se não implorasse de joelhos


Sandro Miller, Arthur Sasse / Albert Einstein Sticking Out His Tongue (1951), 2014



Se for preciso vou a nado,
cansado e de língua de fora
como um cão encalorado
e vou ganir perante a tua beleza


Sandro Miller, Bert Stern / Marilyn in Pink Roses (from The Last Session, 1962), 2014



E vou arrebatar o teu coração
e vou encher os teus lençóis de lágrimas
e pedir-te-ei por favor, por favor.
Eu sou o teu homem


Sandro Miller, Albert Watson / Alfred Hitchcock with Goose (1973), 2014



E, se te apetecer um pato*,
espera que eu vou à procura
e  hei-de aparecer com um.
Mas, se te fizer impressão o pato,
eu escondo-o de ti


Sandro Miller, Edward Sheriff Curtis / Three Horses (1905), 2014



Se quiseres um pai para o teu filho
ou apenas quiseres brincar aos índios comigo
ao longo da pradaria
Eu sou o teu homem

Eu sou o teu homem.




* Sei que é um ganso mas um ganso depenado parece-me ainda mais despoético do que um pato. Assim como assim, com um pato ainda se poderia pensar que a ideia era fazer arroz. 



_________   (sorry pela subversão Mr. Cohen)   ________

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O conceituado fotógrafo Sandro Miller já trabalhou inúmeras vezes com John Malkovich mas quando quis homenagear os grandes fotógrafos que o influenciaram pensou numa coisa em grande. Com o seu modelo de tantas vezes, resolveu recriar retratos famosos desses fotógrafos. A essa série deu-lhe o nome “Malkovich, Malkovich, Malkovich: Homage to photographic masters.” Uma coisa do outro mundo, como puderam ver uma amostra.


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Não sei se o título deste post e até o seu teor podem ser considerados assédio ao Malkovich, essa criatura pérfida, esse perigoso e irresistível Valmont que, certamente, me conseguiria tirar do sério se passasse por mim na rua (... espero bem que nunca passe, senão ainda me vejo metida em trabalhos). 




Em minha defesa, digo que, no máximo, será um piropo (e a graça que eu acho aos piropos requintados - e os piropos requintadíssimos, podres de góticos, que eu atiraria ao Malkovich). Mas vá lá, parece que as bloquistas acabaram por deixar passar os piropos. É que, se o BE fizesse mesmo questão de criminalizar os piropos, de uma coisa poderiam estar certos: eu faria um cartaz e iria protestar para a porta do partido ou para as bancadas da AR: Abaixo o Bloco! Queremos os piropos! Abaixo o Bloco! Queremos os piropos!



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Acho que não vai saber bem mas, a quem seja de boa boca, permito-me sugerir a visita ao post já aqui abaixo. Continuamos com retratos: o retrato possível de Passos Coelho, com a ajuda de alguns jornalistas. Não é coisa bonita de se ver, aviso desde já. 

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Hoje estou cheia, cheia de sono. Reuniões e mais reuniões, planeamentos e orçamentos e sei lá que mais e chego aqui e, em vez de poder descansar a minha fraca cabecinha, sou assediada pelas trapalhadas do Láparo... Por isso, chego a esta hora e tenho a cabeça feita em água, já só me apetece é ir dormir.

Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quinta-feira.


...

1 comentário:

Anónimo disse...

Foi à porta de um daqueles restaurantes no Guincho, aqui há talvez uns 7 anos. Por qualquer razão, talvez por ser Verão e parte dos comensais serem estrangeiros, naquela noite o restaurante estava cheio, ou quase, sendo necessário esperar um pouco para nos indicarem uma mesa (hoje, com a crise, chegamos e escolhemos uma mesa qualquer).
Eramos três amigos, cujas mulheres por coincidência e razões diversas, se encontravam ausentes.
À entrada, na fila, atrás de nós, estavam 2 senhoras, na casa dos 40entas, igualmente a aguardar mesa.
Até que chegou a nossa vez: “fazem favor, meus senhores e as nossas desculpas, mas hoje isto foi demais. Uma enchente!”, Dizia-nos o simpático empregado.
Virei-me para trás e disse às duas senhoras: “as senhoras primeiro!”
“Obrigado, mas não há problema, podemos esperar!”, Responderam amavelmente, sorrindo.
E, sorrindo igualmente, adiantei: “duas mulheres, e ainda por cima bonitas, se me é permitido dizê-lo, têm sempre prioridade sobre qualquer cavalheiro!”
Agradeceram o piropo, voltaram a sorrir e lá foram para aquela que deveria ser a nossa mesa. Ficaram junto a uma janela.
A que nos foi atribuída depois ficou junto a uma parede, no interior da sala.
E foi um jantar que recordamos pela boa disposição, por termos estado juntos, só nós, homens, com as nossas conversas e assuntos, na nossa onda, e onde comemos um belo peixe ao sal.
Mas, que hoje recordo por causa do piropo.
Estou consigo, nisto do piropo. Tem toda a razão!
P.Rufino