sexta-feira, agosto 29, 2014

Judite de Sousa entrevista Cristiano Ronaldo: foi o regresso da jornalista. Trémula, aspecto lábil, mas lutando para continuar a ser o que é: uma entrevistadora das melhores que a televisão portuguesa tem.


O início da noite televisiva trouxe entrevistas. 

Hoje, para mim, foi como se fosse o meu primeiro dia de férias enquanto férias: não tive hora para acordar, não tive programas, nada. O dia praticamente todo ao ar livre, grande parte da tarde estendida numa espreguiçadeira a ler um livro, volta e meia a fechar os olhos, nem sei se em meditação se a passar pelas brasas, ao fim do dia a aragem a percorrer-me a pele. Por um lado, um certo estranhamento por esta total liberdade de movimentos mas, por outro, uma paz macia e boa.

Depois, à hora de jantar, Fátima Campos Ferreira a entrevistar mornamente António Costa - conforme já falei no post abaixo - e eu à espera de melhor, à espera de perguntas cuja resposta não fosse a priori conhecida. Acabou a entrevista e fiquei com a sensação que tinha sido uma oportunidade perdida.

Judite de Sousa regressa de luto mas diz que só o trabalho nos salva

A seguir virei para a TVI (aqui não tenho cabo, estou limitada aos generalistas pelo que só se consegue ligar a televisão à noite e olha lá) e lá estava a Judite de Sousa a entrevistar o Cristiano Ronaldo.


Antes, o meu marido tinha torcido o nariz aos anúncios e à capa de uma revista em que lá aparecia ela e o regresso apesar do luto e tal: achava que era uma promoção a tirar partido do chamariz pelo luto pelo filho, não lhe agradava, gostava de ver maior contenção. Na pureza dos meus princípios, concordo mas a verdade é que Judite de Sousa é uma mulher da televisão e a televisão é um show bizz, vive de audiências, shares, e tudo serve para ganhar pontos face à concorrência. Sendo uma mulher enlutada e sofredora, que é  - como tal deve ser respeitada - Judite de Sousa é também uma mulher com um cargo de direcção numa estação de televisão, uma boa profissional. E, assim sendo, ela sabe o que conquista audiências e regressar entrevistando Cristiano Ronaldo era um furo jornalístico com sucesso garantido. Além disso, para ela seria certamente mais fácil enfrentar as câmaras numa entrevista gravada do que num directo. Acho, portanto, que foi uma estratégia inteligente.

Cristiano Ronaldo concede entrevista a Judite de Sousa
Tirando isso, como é óbvio, o Cristiano Ronaldo, apesar de todo o seu prestígio e valor, não me desperta atenção. O mundo do futebol e o mundo dos metrossexuais são mundos paralelos àqueles em que vivo. É-me indiferente que o ambiente no balneário da Selecção seja bom ou mau, que o Paulo Bento tenha feito boas ou más escolhas ou que o filho tenha nascido por contrato ou por descuido. Por isso, apanhei a entrevista perto do fim e, do que vi, apenas prestei atenção à Judite.

Estou a escrever isto e estou na dúvida pois também vi o início. Se calhar vi o início, virámos para o António Costa e regressámos a ela. Olhem, não sei. Sei que vi o princípio e o fim. 

No início, Judite de Sousa referiu o seu regresso depois de uma ausência dolorosa e referiu como uma coincidência o facto de Cristiano Ronaldo ter 29 anos, a mesma idade do filho, André Bessa, e referiu que regressa porque só o trabalho salva. Tem razão: o trabalho também ajuda a curar as feridas.


Ao longo do período em que a vi, Judite de Sousa estava trémula, agitada, eu queria fotografá-la e as fotografias saíam todas desfocadas, e mexia no cabelo, e virava a cara e via-se que estava a tentar segurar-se. Na parte final já estava mais serena, os sorrisos já foram mais naturais, a Judite atenta e empática estava de volta.

Judite de Sousa regressa ao trabalho depois de dois meses de luto pelo seu filho
Consegui, então, fotografá-la. 

Ver uma mulher que passou pela dor suprema de perder um filho a tentar erguer-se e seguir em frente é assistir a um milagre da natureza humana. 

Onde a cabeça, o coração e todo o corpo deve pedir prostração, luto eterno, nasce uma força que faz a mãe sofrida encontrar força para se apresentar inteira aos olhos do mundo e continuar como se a dor pudesse ficar guardada num esconso da sua memória. 

Não é a única mãe a enfrentar tão feroz e insuportável tragédia mas estou certa que o seu exemplo será importante para todas quantas pensam que não vão conseguir reagir a tão mortal amputação.


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Falar sobre isto deixa-me sempre um bocado emocionada. Como espectadora, estou contente por Judite de Sousa estar de volta. Como mulher, admiro a sua força.

Mas, enfim, mudando de assunto: relembro que, no post já a seguir, falo da entrevista que António Costa concedeu a Fátima Campos Ferreira, uma entrevista que não me empolgou. Será que empolgou alguém?


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