sábado, junho 28, 2014

A beleza da destruição


Uma cidade são as suas casas, as suas ruas e recantos, o que daí se vê, as pessoas que percorrem os seus dias, a luz que ilumina os rostos e as paredes, as árvores que projectam sombra nos bancos nos jardins.

Uma grande cidade tem várias centros e cada uma das suas centralidades tem uma vida própria e há restos dessa vida que vão ficando e o tempo vai erodindo as memórias, e as janelas vão ficando fechadas, os papéis velhos como as pessoas dentro das casas, e o vento levanta as folhas, os papéis e as recordações.

Há também os vazios urbanos, as terras de ninguém, o que os homens deixaram esquecido ou que um dia e outro de ausência transformaram em abandono.

Muros velhos, casas tristes, ou gente que se vende ou que vende ilusões nos desvãos, nos escuros detrás de portões que mal fecham, carros abandonados, trapos, crianças andrajosas.

Ou paredes anónimas que ninguém sabe a que pertencem, por onde as pessoas passam sem ver. As pessoas nas cidades andam sempre apressadas, vão de um lado para outro e não se lembram de olhar para as paredes por onde passam.

E há um jovem muito jovem que vê rostos gastos e tristes onde mais ninguém os vê. De paredes velhas nascem rostos que vêm do passado, que vêm com olhos abertos de espanto e saudade para olharem quem os não vê. Ou rostos de jovens que carregam desesperanças num olhar muito antigo que desafia quem passa apressado.

explosive street art
Esse jovem, que vê rostos escondidos dentro das paredes, destrói ainda mais as paredes mas, dessa destruição, nasce a vida em toda a sua explosiva beleza. Olha-se e não se acredita. Se virmos uma lágrima escorrendo por um desses rostos ou ouvirmos um riso seco não nos espantaremos porque aquelas pessoas que surgiram de dentro de paredes velhas estão mais vivas do que muitas das que passam apressadas a caminho de coisa nenhuma. 

Alexandre Farto ainda nem 30 anos tem e, no entanto, das suas mãos nasce gente que carrega o peso de muitas e pesadas vidas, gente que, pelas suas mãos, renasce e ganha a imortalidade.







Dissecção é a primeira exposição individual de Alexandre Farto – de nome artístico Vhils – numa instituição artística portuguesa e a maior realizada pelo artista até à data. Patente no Museu da Eletricidade entre 5 de julho e 5 de outubro, a exposição irá apresentar um corpo de trabalho inteiramente novo concebido especificamente para o espaço, exterior e interior, do museu.









Transcrevo o texto que acompanha o vídeo da intervenção de Alexandro Farto (aka Vhils) na conferência TED x Aveiro.


O ALEXANDRE FARTO mais conhecido no seu meio - o da street art - como VHILS falou no TEDxAveiro sobre a sua grande paixão, arte urbana e tudo que está por trás dela: "Criatividade no meio urbano".


A ideia base da sua atividade e da sua arte é a de que uma cidade deve viver da oferta cultural e de criar uma relação com as pessoas para além de melhores condições de vida.

É isso que tem tentado demonstrar nas várias cidades do mundo por onde tem passado a intervir em ruas, casas, pavilhões, etc.

Para si a arte de rua é uma forma de intervenção, uma ferramenta de construção de liberdades, uma maneira de chamar a atenção para problemas e um ponto de partida para se encontrarem soluções.

Nasceu em Lisboa em 1987. Terminou os seus estudos em 2008 na University of the Arts em Londres.

Como artista urbano, mais recentemente, sendo as suas obras, o fruto do seu ideário e o mundo que o envolve. Este artista de Lisboa, a partir das suas raízes do graffiti/street art tem vindo a explorar novos caminhos dentro da ilustração, animação e design gráfico, misturando o estilo vectorial com o desenho à mão livre, aliado a formas contrastadas e sujas, que nos remetem para momentos épicos.

Em 2011, desenvolveu uma técnica usando explosivos, grafite, restos de cartazes e até retratos feitos com metal enferrujado para criar retratos e frases.

Existem trabalhos seus espalhados por vários locais do mundo como as cidades portuguesas de Lisboa e Porto, além de capitais como Londres, Moscovo, Bogotá, e cidades como Medellín, Cali (na Colômbia), Nova York, Los Angeles, Grottaglie (sul da Itália).


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Para conhecerem a história da confusão com o macaquinho desçam, por favor, até ao post já a seguir.


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