Sou assim. Sou optimista, lutadora, gosto de defender vigorosamente o meu ponto de vista, sou bem disposta, adoro rir à gargalhada, até as lágrimas de preferência, entusiasmo-me com os desafios, sempre curiosa com o que é novo, sempre predisposta a encarar com tolerância a maluquice desde que pacífica (que me atrai mais que a vulgaridade comezinha) – mas sou assim se estiver bem. E geralmente estou.
Acho sempre
que há solução para tudo: fecha-se uma porta, abre-se uma janela, chega-se ao
fim de um caminho, dá-se a volta e vai-se por outro, e raramente desisto ou
desanimo.
Por pouco cinéfilos ou pouco literários que estes estados de alma
sejam, é assim que sou. Mas se algum rude golpe me atinge onde sou mais
vulnerável, então fico com a energia no nível mínimo. E isso prende-se sempre com a morte, aí quando não há mesmo nada a fazer, em que a única saída é aceitar, é reajustar a vida encaixando essa perda, e depois
seguir em frente.
Foi o que aconteceu esta semana. Down, down, down. Uma
tristeza muito grande seguida de um cansaço devastador.
Mas eis que, ao fim de três dias e de nove horas de sono
profundo (de quinta para sexta-feira), me sinto a recuperar e a voltar ao normal.
Submersa por uma situação que absorveu todo o meu tempo e
disponiblidade, mal dei pelas notícias.
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Sei que o desemprego oficial já está
nos 14%, não contabilizando umas centenas de milhares de pessoas - ouvi mesmo falar num milhão de pessoas. Uma tragédia. Passos Coelho diz que ainda vai ser pior. Um País a ser governado contra o povo. Um País de velhos, reformados, de pobres, de desempregados, de espoliados, a ser governado por um grupo de pessoas que faz tudo ao contrário do que devia e que, mais grave ainda, não faz a mínima ideia do que anda a fazer. Um perigo. Mais um buraco negro na história deste País.
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Um dia à noite, a esse
respeito, acho eu, ouvi o Luís Filipe Menezes, com ar compenetrado de grande
político e com aquele seu ar vagamente chorão, a dizer que era normal que
isto acontecesse e que ainda ia piorar e que era natural que assim fosse, que
aos anos de regabofe se seguisse agora este período de punição e sofrimento
(bom… ele, obviamente, não usou estes termos). Mas eu, apesar do estado em que
estava, ainda consegui sentir um incómodo.
Mas quem é este senhor para falar
assim? À frente de uma autarquia altamente endividada, quem é ele para vir agora
falar assim? E que sabe ele de políticas económicas ou de história económica
para andar por aí a perorar a favor destas políticas miserabilistas?
Esta gente ainda não percebeu que não é com
miserabilismo que se corrige a situação de desequilíbrio em que vivemos? Que não sabem a teoria já nós damos de barato. Mas não conseguem perceber com a observação dos casos práticos? Não vêem o que se está a passar na Grécia e em todo lado em que a economia é sorvida pela austeridade?
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Também me dei conta que, sabendo que havia uma manif à
porta da António Arroio, Cavaco Silva deu meia volta e recolheu aos aposentos.
E se não foi isso, também não se sabe o que foi. Um faits divers sem
importância que apenas é chato porque deveríamos ter um presidente forte (face
à fraqueza do governo que temos) e não um personagem que se desgastasse em
sucessivas peripécias infelizes. Mas enfim, poupemo-lo para ver se um dia que seja
preciso, ainda podemos contar com ele.
Hoje parece que andou, à porta fechada, a discutir com uns artistas convidados, a melhor forma de incentivar os portugueses a procriar. Fica-lhe bem e é uma causa inteligente. Mas, uma vez mais, são coisas ad hoc, desintegradas, que acontecem no meio das maiores contradições. Cavaco quer que se façam filhos, o Governo diz que os filhos mal estejam criados devem pôr-se ao fresco. É a chamada soma nula.
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Passeei pela blogosfera e também poucas novidades. Aqui e ali
uns apontamentos mas nada de muito entusiasmante porque nada de entusiasmante
acontece por estas bandas. Divagações, recordações, dissertações, acomodações, alienações, provocações e pouco mais.
Mas como outra coisa quando o País definha entediadamente?
O País envelhece, deprime-se, empobrece - e tudo pacificamente, no meio do maior spleen.
Por delicadeza deixamos que nos estraguem a vida, é o que é (quase como aconteceu ao outro, ao Rimbaud, o que dizia que par délicatesse j'ai perdu ma vie). Assim estamos nós. Que maçada.
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Ora bem. Apetece-me gente que parta a louça. Ou que faça qualquer outra coisa com piada. Vamos?
Não haverá por cá nenhum dissidente do género do Nigel que parta a louça toda nas sessões com o Doce Coelho, com o Relvas, com o engenheiro civil Moedas (que gosta de se travestir de expert económico-financeiro) e com o Gas-pa-ri-to?
Oh senhores....não? Mas nem um ministro ou deputado que venha assumir publicamente, com uma mulher matrafona ao lado, um deslize numa casa de banho...? Nada? Não temos por cá ninguém que nos faça rir?
Por amor da santa... !
Ok, já nem peço políticos...
Mas nem ao menos um bailarino que pegue na Popota Merkel e a faça rodopiar assim....?
Estamos assim tão mal?
Já batemos mesmo no fundo? Ui....
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Divirtam-se meus Caros e tenham um bom sábado!
como me diverti com o episódio da antonio arroios, jovens querendo aproveitar a visita do grande politico para lhe gritar umas ideias, umas reclamações, sim felizmente que têm consciencia dos males do país a começar por eles, e o grande politico a mandar dar meia volta e afastar-se, regressar a casa.
ResponderEliminarassusta me esta historia da mobilidade laboral imposta, algo como uma deportação, como se fazia na urss e noutros paises.
ResponderEliminare o marido ou a mulher, e os filhos e as escolas,a casa que se comprou e a que agora é preciso arrendar no outro sitio?
Não poderia ser por concurso voluntario e com compensações, necessitamos de tantos naquela aldeia, aceitam se candidaturas, as condições são tais, etc, ele há sempre pessoas que querem mudar.
claro, a ideia deve ser outra, não queres ir? (na verdade não lhe convem nada), pois vais prá rua!
Bem-vinda, de regresso à crítica lúcida, com verve q.b.
ResponderEliminarSinto muito pela sua perda. Um beijinho e ânimo para os novos dias.
Um beijinhos
Diálogo absurdamente actual:
ResponderEliminar----------------------------------
-Querida,muito cansada?
-Claro, acho que o carro já faz estes 150 Km em auto gestão...
O que vale é que te tenho aqui à minha espera.
-Bem,querida, tenho uma coisa para te dizer mas nem sei...
-Vá lá desabafa!
-Acho que vou ser deslocalizado lá para cima para o Norte...Tão longe que só dá para vir aos fins de semana.
-Boa, agora que os meus pais foram colocados nos Açores???
-Não me digas nada!
-Ai digo digo:
Deixa ver,está MESMO na hora de ouvir o Presidente...
E SE FIZÉSSEMOS HOJE MESMO A NOSSA CRIANCINHA???
-OK, se ele acha...
Caro Patrício,
ResponderEliminarCavaco Silva não é pessoa que lide bem com o confronto, o apupo. Não sei como vai ele conviver com o desagrado nos tempos que correm. Fechado no seu palácio, guardado pela sua Maria?
Caro Patrício,
ResponderEliminarClaro que poderia ser como diz. Tudo o que seja para dar cabo da vida das pessoas tem que ser feito com pinças, para não magoar, para não destroçar famílias.
Gerir um país tem que ser um exercício de fazer bem às pessoas, não de fazer outras coisas, alheando-se do bem estar das pessoas.
Não me revejo nas políticas tecnocráticas que põem as pessoas inseguras, desesperançadas.
Cara Leitora de A Matéria dos Livros,
ResponderEliminarMuito obrigada pelas suas palavras, tão queridas. Já estou a sair da prostração (ainda com bastante sono em cima - estas coisas têm um reflexo físico muito grande em mim).
Mas tenho lido os seus textos, as suas reflexões que me deixam também a reflectir. As suas escolhas são sempre inteligentes e relevantes.
Obrigada por tudo. Um beijinho.
Querida Erinha,
ResponderEliminarAh essa veia...!
O diálogo é absurdo ou os temas subjacentes são absurdos?
Políticas desencontradas, desumanas, e, no meio, um apelo a que se façam criancinhas - mas se elas fizerem barulho... ora bolas...! Vamos embora, Maria, que não estou para aturar crianças aos gritos.
Nada disto faz sentido, tantos desempregados, tanta gente sem perspectivas, e a troco de quê?
Mas, enfim, pode ser que isto mude.
Um beijinho, Erinha!
enquanto cavaco manda voltar para trás ao saber que uns jovens o estão esperando e passos coelho barra a rua ao grupo carnavalesco de torres vedras não aceitando o presente que eles lhe iam oferecer, outro governante português duma região tambem com problemas vai para a rua e participa no cortejo de carnaval levando a mensagem politica de que se estou aqui nos anos bons tambem estou com vocês nos anos maus.
ResponderEliminarOs politicos blindados e no seu castelo preocupam me cada vez mais.
Jeitinho amiga:
ResponderEliminarCompreendo-a. A morte de alguém, dá-me a mesma reacção. Atiro-me para um canto e durmo, ou finjo que durmo, para não ouvir nem ver ninguém.
Mudemos de assunto.
A foto e a atitude do Cavaco, são a imagem de marca do tipo.
Quanto a ter meninos: Será para exportá-los?
O outro ´mesmo parecido com o Freitas.
Gays, não me dizem nada. São-me indiferentes, desde que não se metam com quem não quer.
Rudolf Nureyev com o Muppet Show?
Não liga. Gosto de ambos mas, separados.
Um abraço grande, pela sua perda.
Beijinho
Maria
par delicatesse j'ai perdu ma vie, creio que esse poema foi cantado, e de que maneira, por leo ferré.
ResponderEliminarCaro Patrício,
ResponderEliminarLá vi o 'seu' Alberto João folgazão, brincalhão, no meio da multidão. Esse homem é uma força da natureza! Consegue dar a volta por cima em qualquer situação.
Mas, verdade seja dita, pensa no 'seu' povo (à maneira dele...), e defende o que julga ser os seus interesses e gosta de andar no meio das pessoas - e isso é uma coisa boa, lá isso é.
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Quando ao Leo Ferré a cantar Rimbaud não sei mas hei-de procurar, agora fiquei curiosa.
Mary,
ResponderEliminarDeixe que lhe pergunte... e se numa destas importantíssimas cimeiras em que não decidem nada que se aproveite, um deles, armado em bailarino, pegasse na Merkel e a elevasse no ar e depois a atirasse em voo rasante pelo palco... não era um bailado digno de ser visto...?
Será que ela se levantava em pontas...?
não é que seja o meu alberto joão, mas a propósito de ontem, a verdade é que desceu à rua, participou e não foi assobiado nem apupado. Se há politico português que vive permanentemente no meio do povo convivendo e falando com as pessoas de igual para igual,e gostando desse contacto, esse é ele.
ResponderEliminarclaro que muitas pessoas que viram as imagens disseram mas que palhaço.
preocupam me os politicos distantes que se isolam, pouco se misturam, o que cada vez acontece mais em portugal.
E desconfio muito muito dos politicos sem sentido de humor activo ou passivo.
tambem apreciei ver passos coelho, embora estando a ser assobiado,continuar a falar com as pesoas no local onde tinha ido.
ResponderEliminaratitude diferente da meia volta de cavaco silva e maria