sexta-feira, outubro 28, 2011

Hair cut de 50% na Grécia, reforço do fundo de resgate, capitalização da banca - e aviso de que medidas adicionais podem estar a caminho de Portugal. Lá para a Primavera, digo eu. E Duarte Lima é formalmente acusado do homicídio de Rosalina Ribeiro. Só visto!

  
Estive hoje todo o dia, até de noite, em reunião. Não ouvi notícias, nada. Apenas agora ouvi alguns tópicos do que ontem se passou: perdão de 50% da dívida grega, capitalização forçada da banca, reforço do fundo de estabilização financeira - o esperado.

Mesmo com este hair cut de 50% da dívida, a Grécia vai continuar endividada até às orelhas e assim continuará enquanto a economia não voltar a funcionar.

Também não ouvi referir uma coisa que penso que vai inevitavelmente acontecer: as seguradoras devem accionar imediatamente os seguros de crédito e muita gente vai ganhar muito dinheiro com os  credit default swap (CDS). E, quando há quem muito ganha, há naturalmente quem muito perde. Ou seja, que não se deitem foguetes de ânimo leve porque não há almoços grátis.


Portugal foi já avisado de que novas medidas de austeridade poderão estar na calha. E, a menos que tudo isto dê uma volta, voltaremos mesmo a ter novas medidas porque a receita fiscal vai ser fraca, o défice não irá para os eixos pretendidos e, claro, nova dose virá, até que tenhamos as ruas cheias de gente esfomeada e sem casa.

Tudo isto resulta de uma rota errada.

Volto a dizer: Portugal, ao entrar na União Europeia (ex-CEE), recebeu dinheiro para estradas e rotundas, jeeps, piscinas a fazer de conta de tanques de rega e coisas que tais a troco de destruir todo o seu tecido produtivo, agricultura e pescas.


E para que quiseram eles que Portugal (e a Grécia, provavelmente) ficasse sem economia de facto? Para que escoassem para cá todos os seus produtos.

E com que dinheiro pagámos esses produtos? Com dinheiro emprestado também por bancos estrangeiros (porque a banca portuguesa teve que se endividar no exterior).

Ou seja, ganharam os países que para cá exportaram e que para cá emprestaram dinheiro (ganhando o dinheiro dos juros).

E nós, encantados, com o dinheiro barato e com tanto produto de qualidade, tudo importadinho, nem demos pela tragédia que se estava a desenhar no horizonte.

Agora, feitas as contas, constatou-se que já se deve mais do que alguma vez poderemos pagar. À dívida, acrescem juros abissais. Ou seja, tudo junto é algo que jamais poderemos pagar com a economia que temos. Jamais. É uma questão de aritmética. Jamais. E quanto mais estrangularem a economia maior o buraco.

Qual seria a solução para isto?

- Racionalizar o Estado, empresas e demais organismos públicos, prestações sociais (eliminar redundâncias, que as há aos montes, eliminar cargos inúteis, gerir bem os recursos, fazer contas com base na demografia, fazer as reestruturações indispensáveis - mas mantendo o Estado Social no que fosse essencial)

- Estimular a economia no seu conjunto - estimular as exportações, estimular a produção, a agricultura de qualidade, as pescas, o turismo de qualidade.

- Parece que há ouro, ferro, volfrâmio, gás natural - ou seja, parece que estamos sentados em cima de riqueza natural e parece que começa a haver movimentações no sentido da sua exploração (tudo por empresas estrangeiras, mas enfim, antes isso que nada), coisa que deve ser altamente dinamizada.

- Criar um programa de formação em gestão (o grande problema das empresas é a má qualidade de gestão) para empresários (e seus colaboradores).

- Apostar cada vez mais na educação, na formação técnica, na formação profissional; criar programas formativos para estimular o empreendedorismo, a inovação (a todos os níveis), e o comércio externo.


Ora não é nada disto que está a ser feito. Cá, salvo umas restruturaçõezecas,  a solução tem sido pura e simplesmente aumentar impostos, cortar ordenados, cortar subsídios, aumentar IVA, ou seja, rapar dinheiro às pessoas a ver se, com isso, conseguem estancar a dívida. Ilusão. Miopia. É uma solução coxa e de perna curta. A cada dois meses, carregam mais e nunca vai ser suficiente.

Tenho pena.

<>

Também ouvi que o ministério público brasileiro acusou o Duarte Lima do homicídio de Rosalina Ribeiro, viúva de Tomé Feteira. Era expectável face aos indícios. Ainda nunca aqui tinha falado disto porque toda as pessoas são inocentes até prova em contrário - e ainda não houve julgamento. Uma coisa é uma pessoa ser acusada, outra é ser culpada.


Mas que isto me incomoda demais, lá isso é verdade. Ouvi a descrição dos factos que constam da acusação, vejo-o a ele com aquele ar de quem se acha vítima da má fortuna, recordo a entrevista que deu à Judite de Sousa em que dizia objecto de uma cabala, ouço falar do enriquecimento que causava surpresa, das várias casas, das opulentas festas que dava em casa, reunindo políticos, banqueiros, empresários - e fico incomodadíssima.

Pode um homem destes, que foi deputado, líder parlamentar, amigo e protegido de Ângelo Correia, homem de confiança de Cavaco Silva, pessoa influente, ter desviado mais de 5 milhões de euros da cliente e, agora, para não devolver o dinheiro, ter preparado o crime, pegado na senhora, levando-a para um sítio ermo e disparar sobre ela como um vulgar e frio assassino? E depois disso andar como se nada se tivesse passado, a dar entrevistas como se fosse um cidadão exemplar? Pode?

Fico passada com uma coisa destas.


<>

(Era para hoje continuar a descrição dos preparativos do casório mas não me apetece, não quero misturar acontecimentos felizes com coisas como as de que hoje falei.)

  

3 comentários:

  1. A propósito da recapitalização dos bancos, ontem os espanhóis bufavam provavelmente com muita razão. Ora veja lá, sempre ouvi contar que bancos franceses e alemães eram os mais expostos à dívida grega. Certo? Pois a recapitalização dos bancos nacionais é de + ou - 7 mil milhões, espanhóis 22 mil milhões, enquanto franceses 8 mil milhões e alemães 5 mil milhões. Quanto ao Duarte Lima limito-me à maior das perplexidades. Junto-me à sua interrogação, será possível?

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  2. Packard,

    Não se pode fazer uma correlação tão linear assim. Por detrás das conclusões, há muita negociação, muito jogo.

    A recapitalização, neste contexto, implica dinheiro público a entrar nos bancos. Logo, significa que o estado passa a opinar em aspectos relevantes de ordem estratégica ou em aspectos que se prendem com a aplicação de resultados. Por exemplo, os resultados podem ser forçados à integração em vez de serem distribuidos como dividendos.

    Os banqueiros opõem-se a isto como diabo da cruz. Sabemos se foi isso que aconteceu por lá...? Veja o que está a acontecer cá. Precisam de dinheiro como de pão para a boca e só agora, à força, vão admitir isto. O Ulrich anda de cabeça perdida, diz que isto é o regresso ao comunismo, o estado a nacionalizar bancos - um exagero que só revela que preferem não ter dinheiro para emprestar do que ter a mão do estado lá dentro.

    Mas isto de o estado lá entrar por via do dinheiro que lá vai ser metido também pode ser nefasto pois temos visto quem é que o Estado costuma pôr nos bancos e o que lá andam a fazer.

    Tudo isto seria outra coisa se estivessemos a ser governados por gente com cabeça e com genuína vontade de defender a coisa pública - coisa que está longe de ser verdade.

    ---

    Quanto ao Duarte Lima, é coisa que nem dá para imaginar. Um sujeito que toca piano, fala francês, bebe do fino, só se dá com a alta sociedade, podre de rico e, ao mesmo tempo, ser capaz de armar uma cilada destas e fazer uma coisa destas...? Dá para acreditar?

    Eu prefiro pensar que não nos devemos precipitar, fazendo juízos precipitados, fazendo julgamentos em praça pública.

    Mas que, quanto mais se sabe, mais perplexos ficamos, lá isso é um facto. Tenebroso.

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  3. Packard,

    Não se pode fazer uma correlação tão linear assim. Por detrás das conclusões, há muita negociação, muito jogo.

    A recapitalização, neste contexto, implica dinheiro público a entrar nos bancos. Logo, significa que o estado passa a opinar em aspectos relevantes de ordem estratégica ou em aspectos que se prendem com a aplicação de resultados. Por exemplo, os resultados podem ser forçados à integração em vez de serem distribuidos como dividendos.

    Os banqueiros opõem-se a isto como diabo da cruz. Sabemos se foi isso que aconteceu por lá...? Veja o que está a acontecer cá. Precisam de dinheiro como de pão para a boca e só agora, à força, vão admitir isto. O Ulrich anda de cabeça perdida, diz que isto é o regresso ao comunismo, o estado a nacionalizar bancos - um exagero que só revela que preferem não ter dinheiro para emprestar do que ter a mão do estado lá dentro.

    Mas isto de o estado lá entrar por via do dinheiro que lá vai ser metido também pode ser nefasto pois temos visto quem é que o Estado costuma pôr nos bancos e o que lá andam a fazer.

    Tudo isto seria outra coisa se estivessemos a ser governados por gente com cabeça e com genuína vontade de defender a coisa pública - coisa que está longe de ser verdade.

    ---

    Quanto ao Duarte Lima, é coisa que nem dá para imaginar. Um sujeito que toca piano, fala francês, bebe do fino, só se dá com a alta sociedade, podre de rico e, ao mesmo tempo, ser capaz de armar uma cilada destas e fazer uma coisa destas...? Dá para acreditar?

    Eu prefiro pensar que não nos devemos precipitar, fazendo juízos precipitados, fazendo julgamentos em praça pública.

    Mas que, quanto mais se sabe, mais perplexos ficamos, lá isso é um facto. Tenebroso.

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