terça-feira, novembro 30, 2010

Uma pessoa coscuvilheira de avental a preparar-se para divulgar os segredos dos vizinhos...? Perigoso...! Mas não. Nada disso: trata-se apenas do chefe dos espiões no estrangeiro, maçon graduado, a prepara-se para exercer os seus bons ofícios ao serviço de um Grupo ligado à Comunicação Social. What's the matter...? Jorge Silva Carvalho is going to Ongoing...? What a great movie.

Um Grupo que teve origem na indústria, a velhinha e prestigiada Sociedade Nacional de Sabões, nos frenéticos anos 90, como tantos grupos, resolveu largar os ditos negócios maduros, posicionando-se nas cash-cows: media, imobiliária, energia, participações financeiras. Nasceu assim a newcomer Ongoing, encabeçada pelo Nuno Vasconcellos (late yuppie, cabelo puxado a gel comme il fault).

Receita Mckinsey ou BCG ou qualquer outra consultora major.

O site da Ongoing não contem informação financeira, o que é pena.

No Expresso deste fim-de-semana, conforme recorte aqui abaixo, vejo o que deve ser a total alavancagem financeira: participações de leão adquiridas com financiamentos BCP, BES, the usual thing. Mas sem informação nada se pode concluir.


Mas, também curiosas, são as contratações que Nuno Vasconcellos faz para o seu Grupo.

Por exemplo, que ideia a dele convidar para a Ongoing o seu amigo-chefe-dos-espiões-no-estrangeiro?

E que mistura curiosa é esta? Um espião maçon (ao que se diz, colega maçónico do Miguel Relvas e outros). Espião maçónico...deve saber segredos que nunca mais acabam...

São úteis esses segredos para um grupo de comunicação social?

Nuno Vasconcellos, outro destacado maçónico, grande chefe da grande loja, deve achar que sim.

Mas será que o grande mestre espião Jorge Silva Carvalho vai ter o sentido de estado suficiente para declinar a amabilidade do convite?

Recordemos: o ex-Director do SIED saíu da sombra para, no momento mais delicado, 3 dias antes de começar a Cimeira da Nato em Lisboa, mostrar que tem sentido de responsabilidade, que tem jeitinho...demitindo-se com estrondo. Parece impossível mas aconteceu. Cortaram no orçamento do SIED para o ano que vem e o seu sentido de estado não foi suficiente para, ao menos, ficar calado durante duas semanas...


(Do Expresso de 27 de Novembro: Jorge Silva Carvalho, prepara-se para fazer companhia a outra rapaziada fixe que já se mudou para a Ongoing)

Há pouco tempo foi esta outra grande figura da Nação, este reputado deputado do PSD de que se conhece valioso contributo a favor do povo português (aqui pigarreio...mas não sei como se transcreve esse som...) que, causando até embaraço às hostes pê-esse-dê, se mudou de armas e bagagens para a Ongoing.






Que tempos deslustrados estes que vivemos...

Mas acompanhemos este Grupo, a Ongoing. Talvez nos vá continuando a proporcionar surpresas.

segunda-feira, novembro 29, 2010

No melhor pano cai a nódoa, uma andorinha não faz a primavera, uma vez não são vezes, etc e tal....a toda a gente é permitido que, de vez em quando, a coisa não corra bem. Paciência, Zé Mário...

(Um homem de fibra, um setubalense lutador, saberá encaixar uma goleada arreliadora como esta...5 do Barcelona deve ser coisa difícil de digerir mas, na adversidade, os líderes também se sabem distinguir. Para a próxima outro galo cantará!! Aguardem-no. )

José Mourinho, the big winner, versus João Duque (do ISEG), the big looser



A semana passada vi na televisão uma reportagem sobre o galáctico José Mourinho. Todos os que falaram sobre ele elogiaram a capacidade de trabalho, a organização, o método, a determinação e, sobretudo, a liderança. Mas também a capacidade de querer e de crer. Querer uma coisa e crer que se vai alcançar. Lutar por ela. Sem vacilar. Sem dar tréguas.

Dele referem os jogadores todos (portugueses, espanhóis, italianos): 'ele pede-nos que marquemos golos para ele'; 'antes dos jogos ele diz 'vamos ganhar 2 a 0' e, no final, é esse o resultado'.

Mas nada disto é magia ou adivinhação: isto é a arte de bem liderar. Os jogadores, mesmo que racionalmente nem se apercebam, não o querem desiludir e, até ao último minuto, dão tudo para que o mister se sinta feliz, recompensado por ter acreditado neles.

E dizem que, mesmo em jogos de grande tensão, ele entra tranquilo, com a certeza de que vai ganhar.

'Graças a Deus não sou modesto', diz ele. Mas não é imodéstia: é a certeza do dever cumprido até ao limite, o treino, a preparação, o estudo minucioso do adversário, o trabalho cuidado de acompanhamento psicológico dos rapazes, é o saber incentivar, estimular, é a crença partilhada, é o afecto. É tudo aquilo de que se faz um grande líder.

É um vencedor e contagia os que com ele convivem. Puxa para cima. A big winner.

Como reverso - e há tantos que podem ser usados como o reverso do Mourinho (já aqui referi, no futebol, o Jorge Jesus, o absoluto anti-Mourinho)... - refira-se o agora omnipresente João Duque.



Parece aqueles putos marrões, irritantes, com grandes óculos, com ar de quem estudou mais que os outros meninos. Sempre que o ouço a falar, aparece com aquele sorrisinho tolo de quem condescende em ensinar uma coisa a meninos preguiçosos e, ao mesmo tempo, vaidoso por achar que vai impressionar os professores.Tem um arzinho irritante mas, pior que isso, só diz lugares comuns, cavalga a onda mas sempre pelo lado negativo.

Ele já previu sempre tudo o que de mau acontece mas só o ouvimos falar daquilo que já toda a gente sabe. Nunca lhe ouvimos nada de novo, apenas o ouvimos a antecipar que se calhar o pior vai acontecer.

Agora o mantra é que se calhar 'o FMI vem aí', se calhar 'o FMI vem aí', se calhar 'o FMI vem aí', se calhar 'o FMI vem aí'...

Uma pessoa com a responsabilidade que tem, deveria ter a obrigação de apontar alternativas, ter um discurso estimulante, puxar - pelo exemplo - os estudantes do ISEG para novos voos, para serem empreendedores, para virem a ser profissionais cultos, humanistas, responsáveis, com consciência social, ambiciosos mas honestos, visionários mas com capacidade de realização.

Deveria apontar ao povo e aos governantes (já que lhe dão tempo de antena na televisão e páginas nos principais jornais) caminhos para se sair desta, para ultrapassar este sufoco sem termos que nos subordinar aos ditames do FMI; deveria, pelas responsabilidades profissionais que tem e pela audiência que lhe concedem, apontar um caminho e ensinar a caminhar por esse caminho. Mas não.

Parece só se sentir bem a comentar o fracasso, parece só ser capaz de falar com os pés enfiados no pântano. Com aquele arzinho petulante, só sabe falar de derrota. É um sujeitinho que só puxa para baixo, é um perdedor. A big looser.

Para não nos deixarmos deprimir ainda mais, por favor: quando o menino-duque-joãozinho-dos-óculos-grandes aparecer, tiremos o som à televisão, mudemos de canal e, nunca por nunca, percamos tempo a ler o que escreve no Expresso.

domingo, novembro 28, 2010

Enfeites de Natal here in Heaven - não custam dinheiro e ...são comestíveis

Here in Heaven também há árvores enfeitadas antes do Natal...mas são elas que se enfeitam sozinhas...

Mas há mais: são vandalizadas... os enfeites aparecem comidos...

(Nesta altura do ano, os medronheiros estão cobertos de flores brancas e de frutos que variam entre o amarelo e o vermelho)

(E nós disputamos os suculentos frutos aos pássaros)

sexta-feira, novembro 26, 2010

Francis Bacon, o hipopótamo que se deixa comer em vida, 'os mercados', a greve geral, os portugueses perdidos no nevoeiro agora e segundo Fernando Pessoa

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
define com perfil e ser
este fulgor baço da terra
que é Portugal a entristecer -
brilho sem luz e sem arder,
como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora!

(Nevoeiro de Fernando Pessoa in Mensagem)

(Oedipus and the Sphinx after Ingres da Colecção Berardo em exposição no MACE)

Tal como ontem referi volto a Pedro Mexia em As Vidas dos Outros pois nunca vi melhor interpretação da obra de Francis Bacon.

Diz ele: "Esta é a mais violenta das pinturas, aquela que levou a representação do corpo humano a um nível de horror poucas vezes visto. [...] Encontramos infindáveis declinações da ideia de homosexualidade e violência em toda a obra de Bacon. Ele cultivou uma aura de "wild boy from Ireland" que se dava com machões iletrados e delinquentes, e os seus gostos sexuais masoquistas faziam com que aparecesse frequentemente com hematomas, resquícios de uma noitada mais feroz. Nada que uma maquilhagem minuciosa, à base de rouge e graxa, não escondesse, e que um másculo blusão de cabedal não atenuasse.[...] Corpos deformados, decepados, desossados, carcaças humanas num talho grotesco. [...] Bacon usava uma fórmula divertida: confessou-se "an optimist about nothing" [...]"

Curiosamente (ou talvez não), ontem Pedro Mexia no seu blogue escrevia : "Há pessoas que acham que ser pessimista deve ser «angustiante». Estão enganadas. Ser pessimista é sobretudo cansativo. Todos os dias o mundo confirma a ideia que temos do mundo. Imaginem: todos os dias."

Vejo o quadro acima de Francis Bacon, agora exposto no Museu de Arte Contemporânea de Elvas e sinto o desconforto da carne como matéria deliquescente, o pântano a invadir o corpo humano, o sangue fora do corpo, os humores, os líquidos humanos a espalharem-se pelo chão, a sujidade infecta a invadir os espaços.

Olhamos a pintura de Bacon e não sentimos razão para qualquer optimismo.

Os seus quadros retratam o fim da inocência, o fim da alegria, o fim da expectativa num futuro melhor: tudo parece a caminho da decomposição, de volta ao caldo bacteriano primordial.

Entre sábado, quando revi esta pintura, e hoje aconteceu a dita greve geral. Nesse dia fui trabalhar, fui almoçar ao lugar do costume (talvez dos sítios mais populosos da capital), fui e vim sem dar por qualquer alteração relativamente aos dias normais. A única diferença face a um dia sem 'greve geral' foi que, de facto, não vi autocarros, de facto passei por uma escola e via-a sem ninguém, como se fosse fim-de-semana. Por onde passei não vi nenhum vestígio de manifestação, de qualquer tipo de descontentamento: tudo estava absolutamente normal.

Quem fez greve deve ter ficado em casa. Presumo que a maioria foram funcionários públicos. Resolveram dar um dia de salário ao Estado e o Estado, na maioria dos casos, deve ter agradecido.

Além do mais, mostraram aos 'mercados' que, por esta banda, é tudo gente pacífica, que nem sai à rua, que não vai causar embaraços a ninguém. O Governo deve também ter agradecido pois, sem ter que mexer uma palha, o povo mostrou aos 'mercados' que é tudo gente mansa que vai colaborar com o que for preciso.

Eu não concordo com violências, nem com manifestações pacificistas (tudo tão incrivelmente déjà-vu, tudo tão vintage, tão retro-intelectual), nem com manifestações em geral pois parece-me gente em manada, uma cena triste.

Mas concordo com intervenção cívica, com intervenção inteligente, solidária.

No Mar Salgado  vi um filme que me deixou agarrada a mim própria, o horror absoluto. Um leão salta para cima de um animal muito maior, um hipopótamo. Dá ideia que, se o animal grande desse um safanão, o leão voava. Olhamos e achamos que o animal grande devia dar luta, virar-se, reagir. Mas não. Deixa-se estar. E o leão, em cima, vai mordendo, vai arrancando bocados de carne. E o grande hipopótamo não reage e começa a perder as forças, verga, deixa-se comer, por desistência, por total falta de ânimo ou, então, 'por delicadeza' deixa-se morrer.

É outra representação dos corpos de Bacon que se desfazem enquanto vivos. Assim, quase assim, estamos nós. Mandaram-nos largar os campos, colocá-los set aside (como eu conheço bem esta expressão) e nós assim fizemos, mandaram-nos largar os barcos de pesca e nós assim fizemos, mandaram-nos desinvestir de indústrias maduras e nós assim fizemos, mandaram-nos alavancar financeiramente toda a economia e nós assim fizemos, mandaram-nos obter resultados todos os meses e nós assim fizemos, sujeitaram-nos a assessments e outras maravilhas do género e, com isso, afastámos os mais competentes (que, hélas, eram cépticos), mandaram-nos que consumissemos e nos endividássemos para podermos consumir e nós assim fizemos. E aqui chegámos.

Para obterem votos, distribuiram prebendas e reformas e nós fomos agradecendo, descansados, repimpados, regalados. E, agora que 'os mercados' se encontram maçados porque perceberam que obedientemente nos encostámos de boca aberta à espera que o pão caia do céu e não vamos conseguir pagar o dinheiro que nos andam a emprestar, ficamos assim, enfiados em casa, a ver as tardes da júlia, ou vamos ao centro comercial fazer as comprinhas de natal enquanto o carvalho da silva, o mário nogueira, o jerónimo e outros que tais cantam vitória.

Mas vitória de quem sobre quem?

Que tristeza é esta que nos anestesia assim?

quinta-feira, novembro 25, 2010

As Vidas dos Outros num livro de Pedro Mexia e A Vida dos Outros num grande filme

O mais recente livro de Pedro Mexia, um dos proeminentes ministros do Governo-Sombra de Carlos Vaz Marques, chama-se 'As vidas dos outros' e reúne crónicas publicadas no Púlico entre Agosto de 2007 e Setembro de 2010. Por isso, para quem as leu em seu devido tempo, não são novidade. Para mim são.

São pequenos apontamentos biográficos, comentados e interpretados com a inteligência e a delicadeza que se lhe conhecem. Tenho uma certa reserva mental em falar de erudição (e refiro-me ao termo usado por Rui Ramos no prefácio) em relação a alguém que nem 40 anos tem mas há, sem dúvida, investigação, estudo, inteligência e intuição; e fruição do gosto pela escrita.

Desde Paulo de Tarso, a Ticiano, a Darwin, a Sinatra, a Solnado, a Ives Klein, a Francis Bacon (que referirei em próximo texto), passando por Freud, Camus, Lady Di até a uma de que gostei especialmente, pelo sentido tributo de gratidão a João Bénard da Costa, são quase 60 crónicas que se lêem com gosto.

(Um dos montinhos em que os meus livros - quais coelhos...- se juntam quando se reproduzem. Juntei uma lupa, por graça, ao livro do Pedro Mexia)


O título do livro, muito bem escolhido, fez-me recordar um filme de 2006 que vi no cinema à altura da exibição e de que já tenho também o DVD. É um filme alemão e é seguramente um dos filmes de que mais gostei nos últimos anos. Recebeu o Oscar e o Globo de Ouro para melhor filme estrangeiro.

Uma vez mais temos a ambiguidade das personagens com quem não devemos simpatizar mas em que, à medida que aquele homem - que, de início, merece viva repulsa - vai mudando, o nosso sentimento para com ele vai também mudando.

No início é uma figura que nos desperta desprezo, um agente da Stasi que faz escutas a um casal ligado à cultura, tentando obter pistas incriminatórias; mas, progressivamene, vamos assistindo à sua  lenta, quase insignificante transformação até que, no final, estamos perante um homem que nos emociona com um gesto desprendido de inesperada grandeza.

O actor principal - com uma brilhante e contidíssima interpretação - morreu no ano seguinte.

Recomendo vivamente este filme, tal como recomendo o livro do cinéfilo Pedro Mexia.


terça-feira, novembro 23, 2010

Buddha Eden, Jardim da Paz, um lugar surpreendente

Fui à Quinta dos Loridos, no Carvalhal, conhecer este jardim apelidado por Garden of Peace, propriedade de Joe Berardo. Ainda está em construção: vêem-se muros no início, árvores recém-plantadas. Mas, ainda assim, já é enorme, bonito e, sobretudo, surpreendente. Há imensas (centenas?) de estátuas de grande dimensão, em granito, centenas de soldados, cavaleiros de terracota pintada, cavalos, arcos, colunas espalhadas entre caminhos agradáveis, muitas árvores e recantos, um lago enorme com patos, relvados imensos.

Tentei descobrir de onde vêm todas aquelas estátuas mas não consegui. Não posso acreditar que tudo seja autêntico e que todas aquelas toneladas (6.000) estejam a ser transportadas de algures lá do outro lado do mundo... Presumo que estejam a ser construidas réplicas e, com isso, a dar trabalho a muita gente por cá. Mas não sei. Mas olhando para aquelas que estão em fiada, quase iguais, vê-se que são todas diferentes. E os soldados de terracota também são todos diferentes e têm ar de antiguidade... Mas são incontáveis....

(Cabeça de uma das muitas estátuas 'gigantes')

Transcrevo excertos do texto explicativo que consta do site: "O Buddha Eden Garden é um espaço com cerca de 35 hectares, idealizado e concebido pelo Comendador José Berardo, em resposta à destruição dos Budas Gigantes de Bamyan.

Pretende-se, que o Buddha Eden Garden seja um lugar reconciliação. Sem nenhuma tendência religiosa, abrimos as portas, a todas as pessoas, independentemente, da religião, etnia, nacionalidade, sexo, idade, condição cultural ou social, convidando à união, comunicação e meditação, como forma de redescobrir a felicidade. Ambicionamos, assim, percorrer o caminho contrário à destruição do ser humano e disseminar a cultura da paz.

Esta é uma instituição cultural sem fins lucrativos e ao serviço da comunidade nacional e internacional, que tem como missão sensibilizar o visitante para o conhecimento interior, através do seu jardim em diálogo com um vasto património escultórico, vocacionado para a meditação e promoção da interacção social e cultural, conforme os princípios da solidariedade e da dignidade humana."


(Um dos grupos de centenas de soldados de terracota pintada)

(Sob o arvoredo, enormes figuras que associamos à reflexão, à paz)

(A zona da grande escadaria, talvez a zona mais emblemática; mas, por aqui é tudo tão inusitado que é difícil estabelecer alguma classificação)

Seja como for, é um local aprazível, curioso e merece certamente uma visita. Imagino que as crianças adorarão correr neste espaço imenso, ver estas figuras incomuns.

E...é gratuito. Apesar disso, surpreendentemente, só lá vi mais 2 pessoas.

(Todos parecidos, todos diferentes) .

segunda-feira, novembro 22, 2010

MACE, um museu que se recomenda em Elvas, cidade que também se recomenda



(Entrada e escadaria do Museu de Arte Contemporânea de Elvas (MACE) com as enormes flores azuis de Andy Warhol em fundo)

Neste momento encontram-se em exposição no MACE algumas peças da colecção Berardo que eu já conhecia - Picasso, Miró, Albers, Pollock, Bacon, Yves Klein, etc). No entanto, não dei por perdida a visita. Não apenas as peças, pelo seu valor intrínseco, merecem sempre uma visita como, em minha opinião, ganham pela combinação entre elas, pela cumplicidade entre géneros tão díspares, pela dimensão e pela beleza do edifício.
MACE abriu em Julho de 2007 num edifício anteriormente hospital da Misericórdia de Elvas, em estilo barroco tardio de meados do século XVIII. A adaptação do edifício para museu teve o contributo do arquitecto Pedro Reis e dos designers Filipe Alarcão e Henrique Cayatte. A colecção tem cerca de 300 obras que se expõem segundo temáticas diferentes.
A colecção (que, como referi, agora não está exposta e que é propriedade de António Cachola) é composta por arte contemporânea portuguesa criada da década de 1980 em diante. Dela fazem parte artistas de plano internacional, de que se contam, entre outros, Rui Sanches, Xana, Joana Vasconcelos, Jorge Molder, Rui Chafes, José Pedro Croft, Fernanda Fragateiro, Pedro Cabrita Reis, Ângela Ferreira, Pedro Calapez, João Pedro Vale, Manuel Botelho, Edgar Martins, Francisco Vidal, Sofia Areal, Ana Vidigal. O director de programação é João Pinharanda.
Licenciado em economia e com uma pós-graduação em finanças públicas, 57 anos, António Cachola tem como grande hóbi de António Cachola a arte, e fá-lo na qualidade de um quase profissional.

No catálogo de apresentação do museu e da colecção, escreve o próprio: "O objectivo não passa apenas pela descentralização da arte ou da cultura mas pela sua naturalização, por transformar a arte em algo natural e acessível a todos" 

António Cachola, que trabalha na Delta Cafés em Campo Maior, iniciou a sua colecção "mais a sério" no início dos anos 90 e revela que "sempre quis adquirir uma colecção com o objectivo de partilhar com os outros, por isso a escolha da selecção das peças teve que ser ajustada, não só ao meu gosto, mas também ao desejo e vontade do grande público".

Sobre a aquisição de tão valioso espólio, explica:" Tenho os meus rendimentos e, em função desses mesmos rendimentos e de uma forma forma criteriosa e selectiva, fiz a selecção para esta colecção. A disponibilidade dos galeristas e artistas no sentido de perceberem o meu projecto, ao saberem que os recursos eram escassos e ao sentirem que cada venda que faziam ia contribuir para este grande projecto (MACE), aderiram à ideia e também quiseram ser cúmplices desta grande obra que nasceu em Elvas".
(Informação obtida num artigo do DN e aqui)
 
 
  (Uma das salas grandes do MACE)

 
(Mulher de vestido verde, Balthus - magnífico nesta parede de cor vibrante) 


Na minha galeria do Olhares coloquei hoje uma fotografia também feita no MACE em que se vêem dois homens de Juan Muñoz

E já agora falo também da cidade. Fiquei muitas vezes em Elvas mas quase nunca de propósito para a visitar. Era sempre um sítio de passagem. Fui visitá-la este fim-de-semana e fiquei agradavelmente impressionada. Tem aquele casario branco das cidades do sul de que tanto gosto e encontra-se rodeada por campos desafogados (com as fortificações habituais nas zonas fronteiriças).

(Elvas, uma cidade branca)


(Rua de Elvas, uma cidade também de labirintos, de ruas estreitas, íngremes, muito bonitas)

sábado, novembro 20, 2010

Casa das Histórias de Paula Rego com tributo a Victor Willing e eu, imodestamente, a 'colar-me' ao casal

Gosto incondicionalmente da obra de Paula Rego. E admiro-a como pessoa. É honesta, criativa de forma desbragada e tem um grão de loucura que me atrai. É uma mente livre, um espírito intemporal.

Esta sexta-feira fui conhecer a sua Casa das Histórias.


O poético edifício está envolvido por um jardim muito bem desenhado, e, por dentro, é amplo, arejado, agradável.

A exposição é uma coisa 'Entre Marido e Mulher' já que contempla obras da Paula Rego e do marido, falecido em 1988, Victor Willing. O texto de Miguel Matos é interessante para se conhecer melhor esta personalidade fascinante.

Na Casa das Histórias não se encontram obras recentes mas, sim, as iniciais, as feitas com colagens, desenhos, alguns acrílicos. Mas já lá estão os seres invulgares que povoam a sua obra, a ironia solta e livre, o imaginário popular português.

(Leque líndissimo - que comprei na loja do museu - com uma das marcantes mulheres pintadas por Paula Rego, de uma fase posterior às obras que se encontram expostas)


('The Lovers II, de 1974, guache e grafite sobre papel, exposta na Casa das Histórias)

E, num dos meus inacreditáveis ataques de imodéstia e de falta de sentido das proporções, apeteceu-me colocar aqui um quadro que em tempos pintei, num dia em que estava particularmente divertida depois de ver a Caras, com o habitual cortejo de gente bem disposta que saltita de festa em festa.

(Coisas de Casa: 'A madame cor-de-rosa vai a uma festa com o seu simpático marido')

PS: A entrada é gratuita


Nota: Em Fevereiro, Paula Rego recebeu o doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Lisboa e, sobre isso, escrevi aqui

quinta-feira, novembro 18, 2010

O Leitor de Bernhard Schlink - o livro e o filme


 Li "O Leitor" antes de ser feito o filme. A capa do meu livro é esta, ainda não tinha, como tem agora, as fotografias dos actores.

Gostei muito. Transmite bem aquele desconforto que sentimos quando simpatizamos com personagens que, à partida, nos deveriam merecer alguma repulsa. Mas é a natureza humana: todas as pessoas têm um lado lunar, sombrio, secreto, por vezes toldado pelas trevas e, ao mesmo tempo, um lado solar, carinhoso, afável, generoso - a gradação é que varia.

Até Hitler era carinhoso com a amante e amoroso com o cão. Mesmo quando se descobre que o vizinho é um serial killer, toda a gente da rua diz que não suspeitava, que o senhor era simpátco, que falava bem a toda a gente.

Neste livro de Bernhard Schlink, simpatizamos com Hanna e acompanhamos a sua relação sensual e carinhosa com o menino de 15 anos, 21 anos mais novo que ela, que a visita e com quem faz amor, depois do ritual do banho e da leitura de livros.

Mais tarde, quando sabemos que Hanna foi guarda de um campo de concentração nazi, já não somos capazes de deixar de simpatizar com ela, de tentar compreender as suas razões, de, até, ter pena dela.

Quando apareceu o filme, não tive vontade de o ir ver.

Nisto, geralmente sou alma gémea daquela cabra que, num sketch de Hitchcock, aparecia a comer a fita de uma bobina, dizendo com ar desdenhoso 'Gostei mais do livro'...

Quando saíu em DVD hesitei mas resisti mas, quando baixou de preço, comprei-o pelo sim, pelo não, já agora, quem sabe um dia, e, de qualquer forma o prejuízo não seria por aí além...e, foi uma agradável surpresa.

Ralph Fiennes e Kate Winslet são (sempre) excelentes, a adaptação está muito bem e a realização muito competente, sensível.

Aqui fica o  trailer (hélas com legendas em brasileiro...) para que possam apreciar um cheirinho do maravilhoso tom de voz britânico e as maravilhosas interpretações deste filme muito bom. 

quarta-feira, novembro 17, 2010

Here in Heaven les beaux esprits se rencontrent: Matisse, Chirico, Sophia, Maria Teresa Horta, Eugénio de Andrade, Jorge de Sena, ....

Há sempre um deus fantástico nas casas
Em que eu vivo, e em volta dos meus passos
Eu sinto os grandes anjos cujas asas
Contêm todo o vento dos espaços
 
(Poema de Sophia de Mello Breyner que tenho escrito num recanto, in Heaven, porque sinto que se me aplica)
 
 (In Heaven, I have a view: há uma aldeia no vale e à volta, protectora, a grande, a majestosa serra azul)

In Heaven tudo é possível. Aqui são as fantásticas figuras de Chirico que me acompanham.


Andamos à volta e vamos lendo poemas: Maria Teresa Horta, Jorge de Sena, Eugénio de Andrade, Natália Correia, Manuel Alegre.

Matisse, ao fundo, observa

Há sítios que são parte de nós e este é um deles: here in Heaven eu sou mais eu

terça-feira, novembro 16, 2010

Palavras de JFK - os desafios, a arrogância do poder, a poesia

Depois do post abaixo sobre os temas omnipresentes relacionados com a crise geral (crise de valores mais do que crise financeira), nada como aligeirar, arejar a cabeça, virar-me para o que é intemporal.

(Coisas de casa: alguns dos meus compagnons de route, alguns dos livros de poesia que me acompanham)

E apetece-me chamar aqui John Fitzgerald Kennedy. Palavras dele que me parecem adequadas ao momento:

“Decidimos ir à Lua e fazer outras coisas não por serem fáceis, mas por serem difíceis. Precisamos de homens que consigam sonhar com coisas que nunca foram feitas.”

“Os problemas fundamentais que desafiam o mundo de hoje não são susceptíveis de soluções militares” (nem estritamente económicas, digo eu, especialmente com economistas que dissertam populisticamente, sem análise de séries cronológicas representativas e sem visão estratégica.)

“Quando o poder conduz o homem para a arrogância, a poesia lembra-o das suas limitações. Quando o poder corrompe, a poesia limpa”

Irlanda, de bestial a besta; a alavancagem financeira; as cash cows; etc - e a facilidade com que se fazem e desfazem os mitos

Hoje as notícias confirmam a queda de mais um mito. Durante anos andámos a ouvir falar do exemplo Irlandês: crescimento invejável, capacidade para atrair investimento estrangeiro, um sistema fiscal simplificado e ‘competitivo’ na sua base.

(Veja-se, por exemplo, a newslettwer do IAPMEI de 2004, em que se relata a experiência irlandesa e se recomenda que se aprenda com ela : http://www.iapmei.pt/iapmei-nwl-02.php?tipo=1&id=733)

Durante anos, debateu-se e ensinou-se o case study irlandês nas escolas e em conferências, nos media, por todo o lado. Eu própria assisti mais do que uma vez a ilustres conferencistas das mais prestigiadas instituições nacionais e internacionais relatando entusiasmados, como se eles próprios fossem co-responsáveis por tão estridente sucesso, a forma como os irlandeses mantinham taxas de crescimento de fazer crescer água na boca.



Pois bem, hoje os mesmos media relatam a humilhação do orgulhoso povo irlandês, falido, com um défice escandaloso e com o sistema financeiro de pantanas, descapitalizado. Esteve exposto a activos tóxicos, pois então. Precisavam de mais-valias rápidas para fazer face às benesses fiscais. Esvaziou-se o balão tóxico e o edifício revelou os alicerces de barro.

Claro que Portugal – antes apontado como aluno relapso pelos brilhantes economistas que hoje convictamente dissertam a explicar a ruína do regime irlandês – não está na mesma trágica situação.

Mas, como se sabe, está longe de estar bem. Com gastos não suportáveis com uma administração pública cheia de mordomias (autárquica, incluida), com um regime social que requer muito mais recursos do que os que existem, com as famílias a consumirem mais do que têm, com as empresas descapitalizadas, o País vê-se confrontado com uma operação aritmética simples de perceber: o saldo da subtracção é negativo. Foi suprindo esse diferencial com empréstimos. Sobre os empréstimos (que têm que ser amortizados…!) há que pagar juros. Os juros somam-se à despesa…e, assim sucessivamente...os gastos vão subindo até que alguém faz de novo as contas e conclui: estes tipos não vão conseguir pagar o que devem porque cada vez se endividam mais. E, como as taxas de juro estão cada vez mais altas, aqui estamos nós no centro deste ciclo vicioso.

Como é que se sai disto e se transforma o ciclo vicioso em virtuoso, não se sabe bem. A receita mais simples é óbvia: reduzir drasticamente a despesa. É o que se está a tentar fazer mas o que foi anunciado dificilmente será suficiente. Só que uma coisa é a lógica e a aritmética, outra coisa são as pessoas que se vêem sem dinheiro para fazer face aos seus encargos e necessidades básicas.

Mas o que ainda mais me assusta é a volatilidade do pensamento dos decisores e aconselhadores. Dizem-se e desdizem-se com igual convicção.

Assisti a conferências e seminários, frequentei acções de formação, em que, q.e.d. (ie, quod erat demonstrandum) nos demonstravam que o correcto na gestão de uma empresa é a alavancagem financeira. Nada de usar capitais próprios. O raciocínio, relatado de forma muito básica, é fácil e aritmeticamente inquestionável. Recorrendo a crédito, pagar-se-ão encargos financeiros. Estes encargos são, contabilisticamente (e de facto, claro), custos. Os custos abatem a resultados, logo o imposto será inferior, logo o resultado líquido será superior.

Nada de mal. Gestão é isto. Criar valor para o accionista é isto. Ensina-se nas escolas.
Só que agora, com as empresas completamente alavancadas em créditos bancários, com as comissões bancárias, com os spreads, com tudo o que é encargo bancário a disparar, com os bancos a quererem amortizar rapidamente as linhas de crédito, as empresas estão num sufoco. E, estando num sufoco, têm que deitar carga ao mar (reduzir custos em geral, reduzir custos com mão-de-obra em particular). Deitando carga ao mar, as pessoas têm menos dinheiro para consumir, o consumo baixa, as vendas das empresas baixam, e de novo, mais carga ao mar.

Ciclo vicioso por todo o lado.

Ou seja, claro que é também necessário expandir pelo lado das receitas. Não da receita fiscal percentual junto dos pobres e esmifrados contribuintes, mas da receita em geral (para as empresas: mais vendas, sobretudo mais exportações), receita fiscal por via de melhores resultados das empresas e menos encargos com subsídios de desemprego e claro menos importações.

Mas tem que haver uma visão de médio, longo prazo, tem que se raciocinar com um pensamento subjacente de sustentabilidade - mas não e a sustentabilidade de brincadeirinha (a de fechar as torneiras, de apagar a luz).

E temos que voltar a ter empresas que produzam bens transaccionáveis e não apenas empresas de serviços (o que leva a que importemos tudo o resto). Contudo, uma vez mais, é assustador pensar que vamos estar ao sabor dos mesmos conselheiros de estratégia, dos grandes consultores internacionais, dos majors, dos que antes fizeram pareceres aconselhando a abandonar os negócios maduros em detrimento das cash cows maioritariamente na área dos serviços e das participações financeiras (hoje tudo extinto ou de corda na garganta).
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segunda-feira, novembro 15, 2010

Francisco Lopes, Manuel Alegre, Alberto João Jardim et al e Fernando Pessoa, Nuno Álvares Pereira e uma lança em África tão necessária nestes tempos de crise

Ao vir, à noite, para casa passei por cartazes do Manuel Alegre e desta apagada figura do PCP, Francisco Lopes. Na corrida à Presidência da República nenhum dos dois tem hipóteses mas, de entre os dois, o Sr. Lopes é aquele que se mete nesta empreitada sabendo, ab initio, que está a correr apenas para aquecer.

Para quê isto? Para quê o dinheiro gasto em cartazes, em publicidade, em tempos de antena, para nada?

É isto a improdutiviade deste país: fazem-se demasiadas coisas inúteis.

E é também uma forma antiquada e desajustada de fazer política. Não é disto que se precisa em parte nenhuma do mundo mas, em particular, em Portugal hoje.


Depois passei na Av. Nuno Álvares Pereira e ocorreu-me falar nele.

Neste momento difícil que Portugal atravessa, quero aqui deixar registo desta figura ímpar da nossa história: bravo, digno, leal, materialmente desinteressado, de nobre carácter.





Que auréola te cerca?
É a espada que, volteando,
Faz que o ar alto perca
Seu azul negro e brando.

Mas que espada é que, erguida,
Faz esse halo no céu?
É Excalibur, a ungida,
Que o Rei Artur te deu.

‘Sperança consumada,
S.Portugal em ser,
Ergue a luz da tua espada
Para a estrada se ver!

(Nun'Álvares Pereira in Mensagem de Fernando Pessoa)

Transcrevo da excelente edição de Mensagem da Centro Atlântico, comentada por Auxília Ramos e Zaida Braga: "O grande estratega militar da vitória dos portugueses sobre os castelhanos em Aljubarrota aparece, neste poema, como uma criatura marcada pelo divino, aproximando-se da santidade.

Ele é o escolhido de Deus, aquele a quem a espada sagrada, a Excalibur, foi dada, por outro dileto de Deus, também ele imbuído de uma missão divina, o Rei Artur.

Assim, o Condestável – Nuno Álvares Pereira - é uma das figuras em que o conceito de herói pessoano está mais evidente. Escolhido por Deus, ele – S. Portugal – tem uma missão a cumprir, a de devolver ao país o brilho de outrora, revelando-lhe o caminho a seguir – “Ergue a luz da tua espada/para a estrada se ver”.

Agora de http://www.mapadeportugal.net/:  "No tempo de D. João I, Pedro Álvares do Carvalhal era o alcaide-mor de Almada. A sua filha, Iria Gonçalves, teve uma relação amorosa com D. Frei Álvaro Gonçalves Pereira, o filho de D. Gonçalo Pereira, arcebispo de Braga. Desta relação nasceram 9 filhos, entre eles D. Nuno Álvares Pereira (Paço do Bonjardim ou Flor da Rosa, 24 de Junho de 1360 – Lisboa, 1 de Novembro de 1431) que veio a ser um importante senhor de Almada, com numerosos bens, entre eles o moinho de maré de Corroios, no Termo de Almada. A avenida central e mais antiga da cidade tem o seu nome, Avenida D. Nuno Álvares Pereira".


Da wikipedia, transcrevo excertos: "Nuno Álvares Pereira, também conhecido como o Santo Condestável, São Nuno de Santa Maria, ou simplesmente Nun'Álvares foi um nobre e guerreiro português do século XIV que desempenhou um papel fundamental na crise de 1383-1385, onde Portugal jogou a sua independência contra Castela. Nuno Álvares Pereira foi também Condestável de Portugal, Mordomo-mor da Corte, 2.º conde de Arraiolos, 7.º conde de Barcelos e 3.º conde de Ourém.

Camões, em sentido literal ou alegórico, explícito ou implícito, faz referência ao Condestável nada menos que 14 vezes em «Os Lusíadas», chamando-lhe o "forte Nuno" e logo no primeiro canto (12ª estrofe) é evocada a figura de São Nuno, ao dizer "por estes vos darei um Nuno fero, que fez ao Rei e ao Reino um tal serviço".

São Nuno foi canonizado pelo Papa Bento XVI em 26 de Abril de 2009.

A 6 de Abril de 1385, D. João é reconhecido pelas cortes reunidas em Coimbra como Rei de Portugal. Esta posição de força portuguesa desencadeia uma resposta à altura em Castela. D. João de Castela invade Portugal pela Beira Alta com vista a proteger os interesses de sua mulher D. Beatriz. D. Nuno Álvares Pereira toma o controlo da situação no terreno e inicia uma série de cercos a cidades leais a Castela, localizadas principalmente no Norte do país.

A 14 de Agosto, D. Nuno Álvares Pereira mostra o seu génio militar ao vencer a batalha de Aljubarrota. A batalha viria a ser decisiva no fim da instabilidade política de 1383-1385 e na consolidação da independência portuguesa. Finda a ameaça castelhana, D. Nuno Álvares Pereira permaneceu como condestável do reino e tornou-se Conde de Arraiolos e Barcelos. Entre 1385 e 1390, ano da morte de D. João de Castela, dedicou-se a realizar incursões contra a fronteira de Castela, com o objectivo de manter a pressão e dissuadir o país vizinho de novos ataques.

Após a morte da sua mulher, tornou-se carmelita (entrou na Ordem em 1423, no Convento do Carmo, que mandara construir como cumprimento de um voto). Toma o nome de Irmão Nuno de Santa Maria. Aí permanece até à morte com 71 anos.

Há uma história apócrifa, em que o embaixador castelhano teria ido ao Convento do Carmo encontrar-se com Nun'Álvares, e ter-lhe-á perguntado qual seria a sua posição se Castela novamente invadisse Portugal. Nuno terá levantado o seu hábito, e mostrado, por baixo deste, a sua cota de malha, indicando a sua disponibilidade para servir o seu país sempre que necessário e declarando que "se el-rei de Castela outra vez movesse guerra a Portugal, serviria ao mesmo tempo a religião que professava e a terra que lhe dera o ser".

Conta-se também que no inicio da sua vida monástica correra em Lisboa o boato de que Ceuta estaria em risco de ser apresada pelos Mouros. De imediato Frei Nuno manifesta a sua vontade em fazer parte da expedição que iria acudir a Ceuta. Quando o tentaram dissuadir, apontando a sua figura alquebrada pelos anos e por tantas canseiras, pegou numa lança e atirou-a do varandim do convento. A lança atravessou todo o Vale da Baixa de Lisboa, indo cravar-se numa porta do outro lado do Rossio e disse Nuno Álvares: "Em África a poderei meter, se tanto for mister!" (daqui nasceu a expressão "meter uma lança em África", no sentido de se vencer uma grande dificuldade)."

Seria bom que os nossos líderes partidários e mais as suas cliques (ou claques?) aparelhísticas, os nossos (genericamente) fracos deputados, já para não falar nessa imensa mole que é a classe política autárquica pusesse os olhos em exemplos como o de Nuno Álvares Pereira.

Por exemplo, neste momento em que escrevo, na TVI 24, o Alberto João Jardim, essa burlesca figura, clama contra tudo e contra todos, qual virgem ofendida, como se ele próprio não tivesse sido, em todos estes anos em que tem reinado, um beneficiário líquido de toda a nacional papalvice. O desplante e a falta de respeito pela inteligência dos outros atinge limites improváveis.

Mas não penso apenas neles: penso também em quem, como eu, não se alinha em nenhum partido político.

Sejamos todos mais exigentes. E também menos acomodados.


PS: Este post é a antítese do que devem ser os posts, eu sei: é longo (até o título é longo), fala de História, não tem larachas nem cusquices. Paciência.

domingo, novembro 14, 2010

Here in Heaven a vida explode em cor e ouve-se a voz de Sophia


As minhas piracantas, here in Heaven, estão assim, gloriosas, numa explosão de cor


Here in Heaven a cor irrompe mesmo nos sítios mais improváveis: cogumelos gordos, num laranja explosivo, apareceram no meio da caruma junto a um tronco.
Fiquei maravilhada.


Here in Heaven, num recanto em cor-de-laranja, um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen, cuja voz povoa todo este espaço, diz por mim: "Pudesse eu não ter laços nem limites, ó vida de mil faces transbordantes, para poder responder aos teus convites, suspensos na surpresa dos instantes")

Uma boa semana para todos!

Pensamentos positivos!

Ramos Horta e Paulo Portas - ou o triste estado da Nação

Devo ter andado distraída... Timor tem excesso de liquidez? Procura diversificar as suas aplicações de capital?

Mas ainda bem. Dispõe-se a vir ajudar aqui os portugas pobrezinhos que andam de mão estendida a pedir esmola aos chineses, aos timorenses, aos venezuelanos, a qualquer um que passe com uns trocos no bolso...

Ainda bem, mercados por mercados, que venha de lá o dinheirinho de Timor Lorosae. Provavelmente iremos desbaratar com os carros e com os motoristas dos chefes de gabinete dos vereadores das autarquias e com outras coisas inacreditáveis que vamos sabendo... Parece que vivemos no reino do nonsense.

Mas, aflitos como andamos, agora queremos é que nos comprem a dívida. Balõezitos de oxigénio para irmos pagando os nossos luxos asiáticos (e, claro, não me esqueço: obviamente que se tem que pagar os subsídios aos desempregados, as reformas aos pensionistas e outras necessidades sérias; não confundo deveres de estado com mordomias ridículas). Ficaremos em dívida, claro, mas ok, paciência.

E os timorenses do Monte Ramelau virem cá ajudar-nos é coisa que não apenas agradeço, como a que até acho graça.

Coisas do além.


Ramos Horta, em nome de Timor Leste, confirma que pode comprar títulos da dívida pública portuguesa

Outra coisa que tem graça, é o Paulo Portas, aqui em mais uma feira, a apelar - com aquele ar circunspecto e dramático que tão bem se lhe conhece - a que o PS e o PSD se unam.

Pois, populismo é isto mesmo. Dizer o óbvio. Dizer aquilo com que toda a gente concorda. Seja ou não exequível (que interessa isso?).

Era óptimo que a nossa classe política tivesse sentido de estado, que se unisse para reformar o estado a que isto tudo chegou, que não estivessemos aqui no canto da europa, como quem está na esquina da rua, de mão estendida, era bom que as filas para a sopa dos pobres não aumentassem todos os dias. Mas, Sr. Portas, as coisas são o que são. A República está em crise. Haveremos de sair desta mas ainda não se vê bem como.


Paulo Portas chama ao palco José Sócrates e Pedro Passos Coelho: segundo leio em rodapé, "Espectáculo estava marcado..."

sábado, novembro 13, 2010

As anjinhas e as borboletas vitorianas desvendam o secredo: qual o melhor presente de Natal

É fim de semana.

O Natal aproxima-se: as lojas estão cheias de enfeites, de presentes, de árvores,de  bolas, de anjinhos, de estrelas, de presépios. É o reino do consumismo em que, dois meses antes, já somos compelidos a interiorizar o 'espírito de Natal'.

Eu já interiorizei; e, assim, cheia de amizade por todos os meus leitores, aqui lhes deixo o anúncio da Victoria's Secret para que antecipem os festejos natalícios.


Victoria's Secret - 2010 Commercial (by Michael Bay)

sexta-feira, novembro 12, 2010

Afonso Dinis Nunes, António Mexia, a provável falta de cacau e outras desgraças com a Melody Gardot a tentar salvar a situação

As taxas de juro da dívida soberana foram trepando e estão em níveis de fazer bater o dente. Esta situação está a deixar-nos abaixo da linha de água e não se vê como sair disto. O FMI parece ser já uma inevitabilidade, como Soares nos vai preparando.

Ontem vi que em Mesão Frio a população se tinha habituado a uma linda coisa. Rejeitam empregos e dizem 'Eu é mais cursos de formação', que o dinheirinho dá jeito para a lida. Vão tirando cursos e passeando pelas feiras e pelas ruas.

Mas não é só lá.

Tolerância de ponto no dia 19 por causa da cimeira. E sei que a segurança e tal mas, com a economia de rastos, justificar-se-á mesmo esta tolerância numa altura destas?

Relapsos, calinas, baldas, parece que tem que vir alguém de fora, com autoridade, para nos pôr a bater a bola baixinho.

Enquanto isso, Afonso Dinis Nunes, o inteligente e solidário juiz presidente do tribunal de Alenquer, anunciou que vai passar a trabalhar menos duas horas por dia já que vai ganhar menos. É de homem-zinho.

Daqui por vinte anos é expectável que o cacau seja raro, caro como o caviar, diz o "The Independent".  Os cacaueiros são frágeis, o período de crescimento é longo, os produtores recebem pouco, dizem que não é rentável e estão a abandonar a cultura do cacau. O que vai ser de nós?

Mas as más notícias não se ficam por aqui: António Mexia gostava de voltar à política e para governar a maior empresa do País, a maior 'companhia' como ele agora gosta de dizer, a Câmara de Lisboa, vejam bem.

O mestre da imagem, provavelmente o maior cliente de agências de comunicação, de agências de publicidade, parece que acha que o País precisa dele.

É um príncipe do reino do efémero, um príncipe da gestão virtual, do mais vale parecer do que ser.

Usa a inteligência a seu favor e pouco mais que isso mas usa-a com a arte dos grandes coreógrafos, dos grandes encenadores. Diz lugares comuns com a pose dos grandes diseurs, ouve-se a si próprio como um Tom Peters e paga a fotógrafos para captarem o momento e a agências de comunicação para comporem notícias laudatórias, para as difundirem por agências noticiosas e outros meios de comunicação

Diz que isso acontecerá daqui por muitos anos. Ora, daqui por muitos anos, eu acho que ele já estará velho.

Por isso, senhor Mexia, nessa altura go home. É que se, já agora, 'este País não é para velhos', fará daqui por muitos anos...

E porque não me ocorrem notícias boas, mas porque há que não desanimar, aqui vos deixo, com votos de uma boa 6ª feira, a envolvente e melodiosa Melody Gardot em Baby I'm a Fool ("kiss me now, don't ask me how"). Do melhor que há.

Enjoy.

quarta-feira, novembro 10, 2010

Abaixo Sócrates, Pedro Passos Coelho, Portas, Louça, Jerónimo! Gafanhotos ao poder já!



Abaixo o Sócrates e o PPC, o Portas e o Louçã, o Jerónimo e mais as respectivas trupes porque, infelizmente para nós, nenhum deles é um platycleis affinis...

Finalmente ouve-se falar na redução dos incríveis benefícios da ADSE. No outro dia alguém de um sindicato da função pública - provavelmente o insuportável Bettencourt Picanço - reclamava: "E agora o pagamento dos medicamentos?" e eu faço eco: "O pagamento dos medicamentos?".

Mas será que também recebem o dinheiro dos medicamentos? É o que eu sempre disse, aquilo é um seguro de saúde premium, de luxo, cartão platina. Mas alguém da economia real tem benesses destas?!

Qualquer sistema de saúde ou de pensões, com este tipo de gestão, é insustentável, matematicamente insustentável: com a progresssão da extensão da vida média e com a redução da natalidade (e, logo, com um saldo negativo de contribuições) qualquer sistema se desmorona. A única maneira de o aguentar é torná-lo sustentável (...La Palice não o diria melhor...), isto é, garantir que o dinheiro que entra é igual ao que sai.

Ou seja, para manter a ADSE, é necessário reduzir os gastos anuais. Reduza-se a base de incidência, as comparticipações, os gastos em geral.

Mas faço ideia o que não será para impôr uma medida destas: a Ana Avoila com aquele ar de mazona, de bárbara que subiu do Alentejo até Lisboa de manga arregaçada e chinelo no pé, o Mário Nogueira, homenzinho petulante e enervante, o irritante B.Picanço, todos eles incapazes de assimilar que seriam inteligentes se percebessem o que é o cálculo actuarial ou, no mínimo, a aritmética e, com racionalidade se juntassem para encontrar uma solução. Assim, cegos, surdos e matematicamente destituídos, vão andar a encarniçar as hostes, levando-as pelo pior caminho.

Ora, para enfrentar este status quo e fazer as indispensáveis reformas, temos que ter gente sólida, séria, combatente, valente (...não: tiranos não são necessários...).

Por isso: os gafanhotos ao poder! Já!
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terça-feira, novembro 09, 2010

Dafydd, the rural gay, the only gay in the village, meets Elton John in Little Britain

Por estes dias, Little Britain é um território bem mais divertido do que:
  • esta "choldra ingovernável" (e volto a D. Carlos),
  • do que esta terra «na parte mais ocidental da Ibéria, [onde há] um povo muito estranho: não se governa nem se deixa governar!» (segundo um general romano, no século III a.c. em carta endereçada ao imperador, quando da conquista da Península Ibérica pelos romanos),
  • do que este desvalido País, sem dinheiro para mandar cantar um cego, à mercê das agências de rating, dos 'mercados' (essa majestática figura), dos países que - a troco do que for preciso - se disponham a comprar a nossa dívida, as nossas empresas, o que quiserem (Venezuela, China, etc),
  • do que este Portugal de plástico para ser mais barato (O'Neill dixit) em que ao fim de anos sem conta o julgamento mais mediático (Casa Pia) é posto em causa por detalhes processuais e, em que se isso acontecer, já ninguém se admirará porque não há alma viva que acredite na justiça (que associamos a uma tropa fandanga de juízes e procuradores);
  • do que este apertado rectângulo - sem ambição, sem estratégia, que ignora o seu mar imenso e os caminhos que por ele já percorreu - em que a classe política é, de forma geral, de baixa estirpe, em que não se antevê figura distinta que possa genuinamente interessar-se pela nobre causa de servir o povo e em que nós todos já estamos tão descrentes, acomodados, acobardados que não somos capazes de nos chegar à frente e, com esta nossa desmobilização, entregamos a nossa sorte nas mãos de pessoas despreparadas como Pedro Passos Coelho, Miguel Relvas, Miguel Frasquilho (o da pulseirinha fatal...), José Sócrates, Armando Vara, Paulo Portas e os seus submarinos amestrados, Mário Nogueira e Ana Avoila, Ana Drago e um bando de mulheres iritantes que agora por aí andam no PSD e do PP, Bernardino Soares com o seu ar de menino e conversa de velho, e mais o resto da decadente trupe deste circo de província.
Por isso, vejamos o fantástico rural gay Dafydd Thomas a entrevistar o fantástico e bem humorado Sir Elton John, the only gay na terra dele, cujas canções, interpretações e atitude muito admiro.

Enjoy!